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Archive for Julho, 2012

          A ética de Agostinho possui um paradigma claro. Ela depende de Deus. Porém ao mesmo tempo ele parte do principio do “Pecado Original”. Essa concepção do pecado de Agostinho não infantiliza o homem, porém o trata como um ser que poderá tender tanto ao bem (a Deus) ou ao mal (o pecado). Dessa forma, diferente de outros autores ele não entende que o ser humano é sumariamente bom, como entendia a religião antes do pecado original, mas ele compreende esse ser humano como alguém que, se não seguir uma vida virtuosa, em Deus, será levado ao mal, ou os vícios da carne, e por isso, o ser humano não poderá se valer de sua própria natureza para a salvação.

          Agostinho compreende que as coisas possuem uma certa escala de prioridades, invertê-la poderá significar sair do caminho de Deus. Agostinho chama isso de Humildade. Para ele, segundo Olinto Pegoraro, “a Humildade não é o falso discurso que finge minimizar o homem como miserável e pecador; a verdadeira humildade é aquela que nos mantém em nosso lugar na “escala” das coisas criadas.” Tal escala é compreendida como a ordem das essências, ou seja, Deus, homem, animal, vegetal e mineral. Algo que Agostinho compreende como o oposto da ética do Amor é a idolatria, ou seja, amar as criaturas e apegar-se a elas sem referi-las a Deus.

          A ética de Agostinho é compreendida melhor na Obra “A Cidade de Deus” ou a cerca da idéia das “duas cidades”, ele entende que a verdadeira felicidade está na esperança da salvação. A felicidade plena não poderá ser encontrada no plano material, e por isso ela depende da vida eterna. Ou seja, mantendo sua vida em Deus, na eternidade e nas virtudes o ser humano chegará a esse Deus. Porém, ao pensar em si mesmo, focar-se no próprio poder, como se fosse o próprio bem os seres humanos decaem ao vício. Agostinho acredita nessa forma de ética, que se remete a Deus, Criador, o princípio e o fim de tudo. Para Agostinho existem os homem que vivem segundo o espírito, e os homens que vivem pela carne.

          Dessa forma, Agostinho explica que a vida segundo o espírito, ou segundo o amor, irá gerar certas virtudes, a prudência, a coragem, a justiça, e a humildade. Enquanto a vida segundo a carne gera os vícios, a avareza, a luxúria, e a soberba. Para Agostinho “quem ama perversamente um bem torna-se escravo deste bem” e é por isso que ele incluiu o conceito de uti et frui que significa utilizar as coisas sem fruí-las.

          Contrapondo com Aristóteles, podemos perceber duas éticas muito similares na questão de que é a virtude é que determinará se uma pessoa será boa ou não. A diferença principal entre as duas Éticas é que a ética Agostiniana compreende o Deus revelado como sendo o principio e o fim de todas as coisas, enquanto Aristóteles coloca o fim último como sendo a felicidade.

          Para Aristóteles a felicidade pode ser alcançada em vida seguindo uma vida virtuosa, uma vida bela e equilibrada. Fugindo dos vícios e das paixões da alma. Enquanto em Agostinho a felicidade plena jamais poderá ser alcançada em vida, ela só é alcançada junto a Deus na vida eterna.

          Um outro ponto interessante de se ressaltar é a forma como ambos os Filósofos trabalham as questões dos vícios e das paixões. Principalmente na questão do sexo. Aristóteles trabalha a justa medida, ou o equilíbrio entre as coisas. Mesmo que não deixe explícito em sua obra, tomando como ponto de partida a sociedade grega, e a noção de Eros, Aristóteles pode compreender que o sexo pelo prazer é algo que pode chegar a uma felicidade, caso ele esteja incluído na justa medida ele não será um vício, mas sim uma coisa benéfica, uma vez que ele é uma forma de “amor” (mesmo que seja a mais baixa dentre as três concepções gregas). Porém, em Agostinho encontramos justamente o contrário. Ele não utiliza da justa medida, tratando o sexo pelo prazer como um grande pecado. Para ele é uma perversão fazer sexo só pelo prazer. Dessa forma ele acaba deixando de lado partes do principio do equilíbrio de Aristóteles. Uma vida em Deus, não poderá usufruir dos prazeres que a carne pode fornecer.

          A ética de Agostinho muitas vezes parece a mistura entre a ética aristotélica com a verdade revelada de Deus. Ambas possuem as mesmas bases e os mesmos princípios, como tomar as virtudes humanas como algo que possibilitará o ser humano em ser bom. Porém, elas se destacam a medida que a reflexão se eleva, tomando certas peculiaridades distintas, como a tendência a Deus. É claro que Agostinho possuiu grandes influências de seu passado e de sua época. Assim como Aristóteles, ambos foram frutos de suas sociedades, porém, mesmo assim, as bases de seus pensamentos estão de tal modo tão bem construídas que certamente são atuais, e com quase nenhuma mudança poderão ser utilizadas mesmo nos dias de hoje.

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