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Archive for Outubro, 2012

Se Deus não existe então tudo é permitido – Dostoievski

 

Começo esse texto com uma célebre paráfrase usada por Dostoievski (um grande religioso) sobre a relação que Deus possui com a liberdade humana. Mas antes de adentrar nesse assunto com maior profundidade preciso dizer que a cada novo texto de filosofia que leio, a cada novo filósofo que estudo, a cada dia que passo com um livro em mãos eu acabo chegando a uma conclusão terrível: Que a não-existência de um Deus é muito mais provável do que sua existência. Acima disso, esse assunto está cada vez me trazendo um profundo desinteresse. Até porque, após tomar uma posição de dúvida é muito complicado encontrar um argumento que confirme a existência e a não-existência de um ser divino.

Essas questões são levantadas quando tomamos assuntos como a liberdade, a psicanálise, a ética e a teoria do conhecimento (dentre outras).  Mas antes preciso deixar em evidência o que é esse Deus que estou falando. É a ideia de um ser onipotente, onipresente, e onisciente. A ideia de um Deus corpóreo, seja ele a ideia judaico-cristã, muçulmana  ou os deuses das mais diversas mitologias como Zeus, Odin, Horus dentre todos os outros. A ideia desse deus é de um Ser (seja ele com características humanas ou não) que possa atuar e interferir no nosso mundo. Além da ideia de um Deus criador.

Mas agora vamos tomar como ponto de partida a nossa frase inicial. Muitos religiosos argumentam que a religião é a unica coisa capaz de dar preceitos éticos e morais. Se não existe Deus, não existiria a ideia do bem e do mal. Não existiria nada que daria limites aos seres humanos. Viveríamos na mais completa anarquia, onde, mesmo limitados por leis, tudo ainda seria permitido. Porém, esse não é o ponto em que Dostoievski pretende chegar ao utilizar essa paráfrase atribuída aos irmãos Karamazov. A questão é que sem Deus a liberdade é plena, seriamos então, completamente responsáveis por nossos atos e por tudo que está acontecendo em nossa vida. Não existe mais essa de que a culpa é de Deus, ou as coisas aconteceram porque Deus desejou que fosse assim.

Nietzsche é um grande expoente nessa situação ao usar sua célebre frase “Deus está morto e nós o matamos” (Gaia ciência aforismo 125).  Para Nietzsche o ser humano precisa se tornar senhor de suas próprias ações e se tornar completamente responsável por sua vida. Precisa se libertar de suas dependências. Precisa assumir todas responsabilidades, e não depender de mais ninguém, além dele mesmo. É claro que essa perspectiva é um pouco assustadora, afinal “a culpa dessas coisas ruins em minha vida e de meu sofrimento é completamente minha”, e não são todas as pessoas capazes de assumir plenas responsabilidades por sua vida. Diria Nietzsche, ser um Super-homem é para poucos. É muito mais fácil colocar a responsabilidade em Deus ou em qualquer outra coisa.

A morte de Deus se dá muito mais nessa questão simbólica de Deus, onde ele deixa de atuar como aquele que define o destino das pessoas, bem como o regente moral da sociedade (até porque para Nietzsche Deus nunca existiu de verdade). Esse ser se torna em nada, está morto. E para a sociedade européia da época nada representou senão um resto de algo que já foi, mas que não valia nada. A sociedade não dependia mais de Deus para saber o que era certo e o que era errado, e não estava mais limitada por um Deus para fazer o que bem entendesse e fosse capaz de assumir as plenas responsabilidades.

Quem  desenvolveu mais essas ideias foi Sartre que disse que somos seres condenados a sermos livres. De tudo o que somos como seres humanos somos livres e temos plena responsabilidade por aquilo que fazemos. Se uma pessoa nega sua liberdade, isso ainda é um ato livre, pois tu escolhe não o ser. Tua liberdade é tua prisão. E porque o ser humano é plenamente livre e responsável por suas ações, responsabilizar um Deus por algo que tu fizeste é apenas uma atitude de má-fé (ver nota no final do texto para um resumo da má-fé). O ser humano é responsável por si e pelos outros. Se o mundo está da forma que está, a responsabilidade é tua, é minha, é de todos nós. É da humanidade e de mais ninguém. E se não fizermos nada para mudar, a responsabilidade continuará sendo nossa, diria Sartre.

A liberdade é um tema radicalmente ligado à religião. Mas por mais que as pessoas procurem responsabilizar Deus pelas ações humanas, por mais que a religião procure restringir a liberdade, escolher não fazer algo ainda é uma escolha e somos responsáveis por ela. Somos livres e podemos fazer o que quisermos, nada nos impede disso. Mas também devemos arcar com as responsabilidades. Se Deus não existe então tudo é permitido. E como Deus não existe, tudo é permitido. Mas além disso são duas coisas que quero deixar aos meus leitores. A questão de que somos plenamente responsáveis por quem somos e quem seremos. E a dúvida. Afinal, jamais poderemos saber se Deus existe ou não, mas podemos nos livrar dessa ilusão de que não somos livres! Devemos agir por nós mesmos, somos responsáveis por nossas ações, e não Deus.

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A má-fé de forma resumida é uma mentira a ti mesmo e as outras pessoas. É mentir sobre ser responsável pelas próprias atitudes. Deixar a escolha da liberdade para outra pessoa ou entidade. É deixar que a religião, os pais, o país escolha como tu deve agir e usar a tua liberdade. É claro que é algo que vai muito além, mas de forma resumida é isso.

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Não quero que me ouçam.

Quantas vezes tentei começar a escrever este texto? Eu já perdi a conta. Na verdade eu não tenho mais nada a dizer. Eu deixei de sentir, deixei de me importar, deixei de querer ser ouvido. Mas será que isso me torna algo diferente de um humano? Afinal, o que me dá o direito de falar algo que seja maior do que outros seres humanos? Não passo de mais um, talvez um pouco mais entendido de filosofia, com certos vícios de linguagem, com certas atitudes erradas, mas em suma, nada me torna… melhor.

Eu não sei mais o que desejo. Não sei também, se deveria desejar. Talvez, por não desejar nada além do que já possuo me torno uma pessoa que deixa de lutar. Não tenho mais a paixão que tinha por certas coisas. Aos poucos me afundo cada vez mais em leituras. Procuro o homem, procuro a mim mesmo. Mas a medida que mais penso estar me encontrando, mais sei que estou perdido, e por isso não quero ninguém me seguindo.

As pessoas tentam explicar certas coisas, com religião, ciência, crenças, relacionamentos. Onde não há resposta, há sempre Deus, há sempre uma conjectura cientifica que diz que não se pode ir além. Já não sei o que pensar de pessoas com seus certezas, tão confiantes de seus conhecimentos, tão confiantes de suas crenças, de seus futuros. Será que a dúvida não faz parte de suas vidas? Ou será que elas nunca se perguntaram se a forma como elas percebem a vida pode estar equivocada?

Não me sigam, estou perdido. Não me peçam por conselhos, não consigo nem aconselhar a mim mesmo. Não me ouçam, não tenho uma voz…

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Embora eu aceite um café com

uma boa companhia qualquer dia desses…

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PS: Não sei mais o que dizer. Muito embora meu blog seja meu último refúgio, não consigo entender porque algumas pessoas ainda gostam de minha opinião, ainda se importam com o que tenho a dizer. Se puderem esclarecer essa pequena dúvida para mim eu ficaria muito grato.

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Não escrevi o título errado. Política não é uma profissão, é algo que se vive. Mas o que exatamente é viver a política? Para os antigos gregos esta palavra significava a viver a cidade (literalmente o aquele que viva na polis). O cidadão que pensava no que ela melhor para o bem-estar de todos. Hoje, no Brasil, política virou uma profissão um recurso para pessoas terem uma boa vida, onde poucos dos que atuam nela realmente pensam no que é bom para a coletividade.

A polis grega

Representação da Polis grega

Mas o que leva um cidadão a se candidatar para um cargo público? De todas as possíveis respostas o bem geral da cidade raramente aparecerá como o principal motivo. É possível que as pessoas se candidatem pelos interesses de algum grupo ou por seus próprios. Podem-se notar tais coisas apenas analisando as propostas de um candidato a vereador, muitas delas, impossíveis, outras, privilegiando apenas um pequeno grupo da população.

Os problemas gerais da cidade ficam em segundo plano, uma vez que político agora é uma profissão, é mais importante se manter no cargo do que fazer algo além de praças públicas. E é com muito pesar que me lembro do fato onde desejar ocupar um cargo público deveria fazer tal indivíduo se dedicar inteiramente ao bem maior das pessoas, uma completa entrega de si para todos. E infelizmente não é isso que acontece.

Mas além de tudo isso, esse “ser política” vai além, ele possui um grande compromisso com a verdade. Tal compromisso é a primeira grande virtude que os candidatos deveriam ter e estimar. Mas a cada acusação de corrupção, percebe-se que a verdade está sempre em terceiro plano. Para se manter no poder parece que vale tudo, principalmente mentir e enganar.

A política se tornou uma forma de ganhar status, de conseguir, por quatro anos, uma forma de vida tranquila e estável. Um bom salário, uma projeção social, e muito conforto. Em outras palavras: poder. O que deixa uma parte da população frustrada é que cidadões sem conhecimento algum de ser política estão pedindo tal poder para governar. Pergunto-me porque tais pessoas, conscientes que não teriam capacidade de ocupar cargos públicos se candidatam.

Domingo serão as eleições. E nossas vidas são muito afetadas por essa escolha, por nosso voto. Use-o para escolher uma pessoa que pense antes no bem geral de nossa cidade do que seus interesses próprios. Que seja um indivíduo que viva a política. E você, caro candidato, pense muito bem o que o levou até a candidatura. Saiba que tu podes mentir para todos, menos para si mesmo.

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A internet é um anestésico. É uma forma de deixar pessoas em estado letárgico, entediadas e que não reajam a nada. Que se revoltem com coisas pequenas, mas logo as deixem de lado (alguém se lembra do yorkshire?). O que na época da revolução industrial Marx condenou como o ópio do povo, aquilo que mantinha os cidadãos em um estado inerte, sem o desejo de mudar se transformou. Deixou de ser a religião para se transformar nessa internet, o novo ópio do povo.

Passei duas semanas incríveis sem ter que aguentar essa extrema alienação que via todos os dias. É claro que nem tudo é maravilha. Fugi diversas vezes para o facebook, e formspring, porém não ficava mais do que 10 minutos. Mesmo assim, sinto os efeitos do vício me deixando ansioso e nervoso sempre que fico muito tempo longe da tela de um monitor. Mas tirando isso, passei a ter mais tempo para mim. Tanto para ler como para fazer outras coisas, como cozinhar. Fazia tempo que não ia para a cozinha e preparava alguma comida, que relaxava no sofá ou que simplesmente ajudava minha mãe com alguma tarefa doméstica. Pude finalmente aplicar o imperativo categórico de Kant e fazer o bem pelo bem.

E falando no imperativo categórico, eu finalmente consegui entender esse conceito de Kant (eu acho). Após ler partes da fundamentação da metafísica dos costumes e diversos outros artigos explicando a lei moral. É certamente uma conquista, uma vez que Kant é um dos autores mais complicados de se entender em filosofia. Minha concentração também está aumentando gradativamente. Antes não conseguia ficar lendo por mais que trinta minutos que logo estava distraído. Agora já consigo ler por mais de uma hora sem nenhuma distração.

Dizem que a maconha em longo prazo cria pessoas distraídas. Mas não percebem que a internet faz isso de forma muito mais rápida. Estudos mostram que a linguagem da internet, e da nossa geração é uma forma de hiper-linguagem ou hiper-pensamento (não lembro o nome exato do conceito, por isso usarei esses) uma referência ao hipertexto virtual. É uma forma completamente diferente do pensamento clássico de Descartes (linear). Por usar a internet acabamos pensando dessa forma hipertextual. Onde tudo faz links com tudo. Na internet podemos começar a pesquisar sobre filosofia clássica, e terminar lendo sobre as origens do metal escandinavo.

O modelo de rede ao meio demonstra como funciona o Hiper-linguagem ou Hiper-pensamento

Quanto mais tempo tu ficar dentro da internet, mais teu pensamento se modifica para algo além da linearidade, e por causa disso tu se tornas incapaz de se concentrar e se aprofundar em assuntos técnicos, como esse texto. Afinal, quantas vezes tu já parou de ler isso aqui para responder alguma mensagem ou olhar alguma outra coisa? Se nenhuma parabéns, ainda tens salvação. Mas se eu for além e te perguntar quantas vezes tu já conseguiu ler um artigo que tivesse mais de cinco páginas sem parar de ler por algum momento para verificar o estado das suas redes sociais, acho que a resposta seria quase nenhuma.

Essa incapacidade de se aprofundar em assuntos técnicos se revela nos trabalhos de conclusão de curso nas universidades (em alguns casos são muito superficiais na opinião dos professores). Ou até mesmo em leituras de textos que não sejam romances. Se tu conseguir ler um artigo de 20 páginas sem parar e ainda entendê-lo, parabéns, mas saiba que tu está fora da media. Eu admito que esteja enfrentando problemas para ler esses artigos. Depois de um tempo começo a me distrair facilmente.

A internet é um grande mal se não for usada com equilíbrio. Possui um poder de destruição mais forte que muitas drogas ilícitas. Mas as pessoas a usam sem discrição. E por notar como estou bem afastado desse mundo virtual ainda não possuo uma previsão para voltar, estou tão bem longe desse meio, porque devo voltar exatamente? Irei me concentrar em trabalhos da universidade, e em viver a minha própria existência. Vocês ainda irão ouvir sobre mim. Continuarei a escrever os textos para o blog, e eu imagino que eles se tornem cada vez mais freqüentes.

Lembrem-se que tudo pode ser bom ou ruim dependendo de como lidamos com tal coisa. Sempre que deixamos algo fora de equilíbrio iremos ficar prejudicados. Procurem conhecerem a si mesmos. Descubram a justa medida do uso de internet para que não se prejudiquem. Continuem sonhando!

Link para a primeira parte: https://sentadonalua.wordpress.com/2012/09/20/o-diario-de-alguem-que-deixou-de-usar-a-internet/

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