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Posts Tagged ‘sentado na lua’

Eu gosto de escrever. Gosto das palavras. Gosto de brincar com elas, torcer, transformar. Poderia até mesmo comparar o trabalho de um escritor ao de um tecelão, que de acordo com os fios que escolhe, aos poucos cria o desenho em sua tapeçaria. Sabe, um texto pode ser uma flecha, sentido único, um alvo especifico, nada muito difícil de perceber. Ou pode ser uma malha, sentidos e metáforas entrelaçadas que podem significar uma infinidade de coisas. Camadas atrás de camadas contendo significados ocultos que se revelam apenas aos mais atentos dos leitores.

Não consigo mais escrever feito flecha, por mais que tente, os textos que tenho publicado aqui sempre contém mais de um sentido, mais de um significado. Já foram mensagens ocultas para pessoas específicas (e provavelmente nunca entendidos) como no texto 185 dias. Outras, simples brincadeiras, enquanto imagino um leitor e se ele conseguiu ver que existia ali muito mais do que deixei aparecer. E em uma ultima possibilidade, um pedido de socorro que nem eu mesmo percebi a tempo.

Eu lentamente entrei em depressão. Welbutrin se tornou meu melhor amigo por um tempo, antes dele o Zoloft. A noite foi longa demais, mas o sol nasceu, as mentiras foram desfeitas. Bem, ainda está em seu nascer, por assim dizer. O maior problema foi que isto afetou em muito minha criatividade, e minha auto-crítica. E por isto, apenas um texto por ano aparecia por aqui. Não desejava entulhar este blog com coisas específicas demais sobre filosofia, ou com textos que não julgava dignos de serem lidos. Ninguém vai querer ler sobre as definições de Deus em Spinoza das proposições 15 à 23, ou rascunhos de pequenas perturbações da minha mente, ou até gostariam, mas no nível que estava minha auto-estima, nada era suficiente. Por isso deixei até de usar o twitter.

Já haviam alguns anos que eu tinha perdido a minha musa no labirinto da existência, logo quando os textos começaram a ficar mais escassos. É difícil se recuperar de uma perda tão grande, mas agora que estou banhado em uma nova luz colorida, quem sabe, eu logo consiga imaginação para voltar aqui com mais frequência com diversos textos/desafios de significação, não é mesmo?

Gostaria de deixar uma mensagem final, antes de pular para o próximo texto que estou trabalhando: Nunca tarde a acreditar em si. Teu Eu é o que tens de mais importante. E se tu fores verdadeiro consigo mesmo as pessoas logo irão te ver por quem tu és, e não através das mentiras que propagaram sobre tua honra. Ah, mas isso talvez seja assunto para outro texto. Ou talvez apenas mais um tapete.

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O solipcismo é um problema filosófico que consiste na pergunta: O que nos prova que o Outro de fato existe e não é somente uma criação da minha cabeça? Em resumo ele trabalha com a questão da solidão do Eu. Visto por cima parece um problema simples, até mesmo fútil, afinal o outro deve existir, eu posso falar com ele, tocá-lo. Porque deveria duvidar da sua existência? Contudo por mais que tu possas tocar nesse outro, sentir seu calor, e ouvir suas palavras, jamais terá acesso aos seus sentimentos verdadeiros, seus pensamentos ou à mente dele, o que diferencia o outro “humano” de um robô, por exemplo?

Se nossos sentidos são percebidos pelo nosso cérebro, e muitas vezes facilmente distorcidos, enganados, como podemos saber o que é real e o que não é? Acredito que a primeira aparição desta pergunta aparece com Descartes, quando ele usa da dúvida para questionar tudo ao seu redor. O cogito ergo sum (duvido logo existo) foi sua solução para o problema do Eu, eu existo, mas e todo o mundo ao meu redor? A resposta dele foi mais fraca, era por causa de Deus. Um Deus puramente bom como o que deveria existir, não permitiria que vivêssemos em um mundo irreal. E por muito tempo se aceitou essa resposta, ou talvez, não se pensou tanto sobre essa questão.

Este problema costuma aparecer como uma crítica a uma teoria filosófica. “Essa sua linha de pensamento leva a um solipcismo”. E com a contemporaneidade esta crítica sempre foi uma sombra de todas as teorias filosóficas, principalmente para a fenomenologia, que trata que não temos como conhecer as coisas ao nosso redor como são, apenas como elas aparentam a nós. Uma solução para isso foi colocar o Eu fora do centro da reflexão filosófica, Levinas defendeu que o Eu só existe a partir do Outro. Ele existe, e depois eu. A construção do eu pelo outro se chama de Alteridade.

E muito se aceitou essa forma de jogo, de que Eu só existo se algo externo a mim existir. O ser humano só podia se constituir enquanto pessoa na medida em que outras pessoas estivessem ao redor dele. Nós somos na medida em que nos relacionamos, conversamos crescemos e mudamos através de nossos amigos, inimigos e conhecidos. Todas as pessoas que passam por nossas vidas deixam uma parte delas em nós.

Acredito que essa seja a solução mais aceita para este problema. Mas não dá conta de um único fantasma, afinal nem sempre estamos na presença de outros, o que nos leva a uma terrível percepção:

                Em nossas mentes, estamos condenados a uma solidão eterna.

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Quando eu aprendia a dançar meus professores me ensinaram que a música era composta dos sons e dos silêncios. O dançarino não se movimentaria pelo salão usando apenas os toques da melodia, mas também, os espaços entre eles. Estes espaços, sem nenhum som, eram os momentos de parada, suavidade, e de liberdade criativa. Dentro do silêncio, na dança, te era permitido sair da cadência dos movimentos. O que mais diferencia dançarinos são suas capacidades de aproveitar os silêncios da música.

Para mim, a dança se tornou uma verdadeira paixão pela liberdade que ela te permitia, pelo envolvimento que ela criava entre duas almas quando estas trocavam sorrisos e movimentos pelo salão. E mesmo que muitos não enxerguem a dança como eu, ela me ensinou a escutar os sons do silêncio.

O que quero dizer com isso? Ora, tenho visto uma grande valorização das palavras, das coisas ditas, mas jamais a capacidade de entender o que calar-se pode significar. Nossa linguagem humana permite muito mais do que meramente palavras, e aqui discordo de Wittgenstein, o mundo é mais do que nossa linguagem pode expressar. Mas essa capacidade jamais é explorada nas nossas vidas. Jamais achamos que temos a liberdade, de como na dança, interpretar os silêncios, de entender que nossas vidas são muito mais que uma cadência fixa.

Silence____by_WiciaQ

O silêncio parece ter muitas formas, é a ausência de sons, de palavras, mas também o vazio, a escuridão. E por mais que ele pareça físico, assim como muitas coisas nas nossas vidas, ele tem ares de mistério. Ou vão dizer que o silêncio da madrugada, os ares da noite, não possuem algo de diferente?

Há alguns meses atrás me perguntaram o que eu diria se o mundo todo parasse para me ouvir. Respondi que provavelmente permaneceria em silêncio. E desde então, tal pergunta tem estado presente em minha mente. Acho que até fiquei muito mais calado do que costumava. Deixei de escrever no blog, no twitter, e até mesmo de discutir durante minhas aulas. Nada que eu pudesse falar pareceria relevante o suficiente para ser dito a outras pessoas.

Às vezes eu tento acreditar que meu olhar revelaria muito mais que minhas palavras. Este vazio deveria permitir a liberdade de ações, de interpretações, tanto para mim, como para outros. Talvez por muito tempo eu tenha ignorado o que o silêncio daqueles ao meu redor pudesse significar. Ignorei a grandiosidade de significados que não podiam ser postos em linguagem. E muitas coisas talvez se perderam em um vazio.

Mal podemos começar a entender o que essa ausência significa. O silêncio para si e para os outros. E agora nem mais sei o que poderia escrever para por para fora o que sinto. Algumas vezes me sinto perdido no labirinto da minha mente, sem nem mesmo um guia para me ajudar. Me restaria então, ficar nessa solidão silenciosa sozinho?

Nota: Minhas idéias estão muito confusas, espero que algum entendimento possa sair deste texto. Me calei, é verdade, mas tentarei quebrar esse silêncio com algumas dicas do que eu poderia escrever dadas por alguns leitores (a algum tempo atrás).

Ah sim, para os que não me acompanharam no twitter, agora estou formado em filosofia e fazendo mestrado 🙂

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Permita-me te contar uma história.

Não é um conto, ou uma narrativa, mas sim a vida de um pensamento. Há um tempo atrás, logo depois da tragédia em Santa Maria (ou seria no dia da morte do chorão?) podiam ser vistas muitas manifestações de luto nas redes sociais, principalmente no facebook. Discussões sobre vida e morte aconteciam em alguns cantos. Outros procuravam criticar o falso luto só para chamar atenção. O que aconteceu por volta desses dias foi que eu acabei entrando em uma discussão sobre o “medo da morte”, as pessoas acabaram chegando a conclusão que era o desconhecido que assustava. Mas que desconhecido? O que é esse tal de desconhecido?

É claro que as discussões sobre morte pararam, elas saíram de pauta, e o medo (ou talvez a compreensão dele) foi esquecido. Foi deixado de lado para outro assunto em pauta? Não sei, Marco Feliciano? (alguém ainda se lembra dos protestos contra Renan calheiros? Fiquei sabendo que ele riu do baixo-assinado e mandou a internet se mobilizar mais). Porém a pergunta sobre o que seria esse tal de “desconhecido” que muitos falam, mas poucos realmente sabem o que é permaneceu. E por algum tempo eu quis escrever este texto, mas também ainda não estava seguro que eu sabia o que é o desconhecido. Ora, ele é algo que não se conhece, certo? Mas ainda assim, quando falamos que algo é desconhecido, partimos do pressuposto que sabemos o que há ainda para se conhecer.

Fui muito chato nesses últimos dias. Como um Chato-Sócrates acabei fazendo diversos questionamentos as pessoas próximas de mim para a fim de entender como eles compreendiam o que era o desconhecido. Por fim, estou aqui, escrevendo este texto. O que dei-me por conta é que cada pessoa compreende o desconhecido, e o relaciona com a temporalidade, ou a noção de tempo que está por vir, um futuro metafísico. Mas o desconhecido chega a ser mais do que isso, e ainda, se cada um o sente, como podemos lidar com ele? Como não enlouquecemos?

Como falei acima, o desconhecido é diferente do não-conhecido. O desconhecido é algo que sabemos que existe, é apenas um conhecimento que nos escapa, que está distante, mas que de certa forma, podemos o sentir. Ele não passa despercebido diferente do não-conhecido. E como muitas pessoas falam, ele tem uma relação com a noção de passagem do tempo. O futuro é desconhecido, o ano que está por vir, por exemplo. Mas assim também é a semana, os minutos e também o próximo segundo. Eles estão todos equilibrados em um mesmo nível de desconhecido. Não é possível conhecer mais o próximo segundo do que os próximo dez anos até que de fato aconteçam. Mas porque será que os próximos anos assustam mais do que os próximos instantes? Para isso eu tenho duas suposições.

A primeira quer dizer que deveríamos ter medo igualmente do desconhecido. Se não temos medo dos próximos segundos, não devemos temer as próximas horas ou até mesmo a morte. Todos são igualmente desconhecidos. Todos estão distantes de nós até acontecerem. Então não deveríamos nos preocupar com nenhum deles, ou então… viveremos com medo de cada nova esquina da vida. Porém, como a percepção da passagem do tempo é muito subjetiva, os próximos momentos talvez não sejam classificados como um futuro propriamente dito, mas sim como o “presente”. O que está acontecendo, está. Não é mais desconhecido. Nessa ilusão do momento, acabaríamos temendo tudo aquilo que não faz parte dessa “zona de conforto”, e eis que nosso futuro desconhecido aparece diante de nós.

A segunda suposição é que existem diferentes magnitudes. A morte seria o nível máximo. Uma certeza que desconhecemos e lá no fundo torcemos para sermos um humano diferente e jamais morrermos, mas morreremos. E quando a morte acontece (como em Santa Maria) nos lembramos desse fato (que vamos morrer). Depois do medo da morte, quando mais no futuro mais o desconhecido se aproxima dela, e quando mais perto do momento presente, mais temos a ilusão de controle, mais temos a sensação de que tudo vai acontecer como planejamos. Ah! E como o ser humano planeja… O planejamento do futuro não é nada mais que uma maneira de tentar conhecer o desconhecido. Nos livrar da angústia que é enfrentar o futuro despreparados. Talvez seja por isso que algumas pessoas sejam tão controladoras, pois elas, com medo do desconhecido e da natureza caótica humana, tentam controlar tudo e todos ao seu redor. Mas não podemos controlar ou prever o desconhecidos, não é mesmo?

Nossos planos são uma grande ilusão. Uma tentativa de não ter que enfrentar a realidade caótica do mundo e então paramos na própria existência, paramos em uma realidade ilusória que criamos para nós mesmos, tudo que acontece e parece abalá-la é logo rejeitado. Mas será que eu entendi mesmo o que é o desconhecido? Afinal, eu provavelmente o desconheço. Se você leitor tem uma opinião a dar, escreva nos comentários, enriqueça a discussão. Afinal de contas, são coisas que todos enfrentamos, mas que cada um tem sua própria visão.

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Tive que dar uma pausa em todos os trabalhos que tenho que fazer para escrever esse texto.

É incrível como muitos ateus defendem a ideia de que o Brasil deveria ser um “estado laico”. Defendem essa ideia como se fosse uma verdadeira religião. Como se o Brasil se tornando “laico” resolveria todos os problemas da sociedade. A cura do câncer seria descoberta, e entraríamos em uma nova era de paz e harmonia que duraria 200 anos com finalmente uma sociedade racional o bastante para não acreditar mais em Deus. Mas pera ai? Tem algo de errado nisso tudo, e ironias a parte, o erro é achar que um estado laico é aquele estado que nega todo o tipo de religião.

Mas o que é esse tal de estado laico? Não é nada mais do que uma forma de governo onde a Religião é separada das decisões políticas, e as decisões políticas são separadas da religião. Onde o poder é separado da religião. É tão simples! Mas é incrível como tantas pessoas não conseguem entender essa simples divisão. A definição mais vulgar que posso encontrar para definir a laicidade do estado é aquele estado que está “cagando e andando para as manifestações religiosas”.

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Dentro de um estado laico uma pessoa possui a liberdade para expressar sua fé ou não-fé da forma que bem entender sem alguém a impedir de fazer isso. Os crentes podem continuar gritando em suas igrejas, os católicos podem continuar com suas missas e feriados, e os ateus podem continuar a xingar as religiões no facebook e no twitter. Mas isso tudo somente acontece porque é permitido pelo estado. Se tivéssemos um estado cristão, quem professasse uma fé diferente da aceita seria preso ou qualquer coisa do tipo.

Mas o que é esse tal de estado? Utilizando-me da definição moderna pela ciência política, o Estado é a reunião do Território, do povo, e do poder (político). E indo mais além, o poder está dividido em três, o legislativo, judiciário e executivo (sendo o executivo o que concentra mais poder político). Ou seja, tudo é o estado.

Um estado laico não pode ser um estado Ateu, pois dessa forma todas as formas de expressão religiosa estariam proibidas. Elas não seriam permitidas e o estado iria fomentar o ateísmo. Que é apenas uma forma de crer particular dentre tantas outras. Um estado Ateu destruiria toda a liberdade religiosa que a sociedade lutou tanto para conseguir.

Dentro dessa perspectiva começam questões como os crucifixos nas escolas públicas ou o “Deus seja louvado” nas notas de real, dizem que tais formas de se professar a fé destroem a laicidade do nosso amado Brasil. Dizem que devemos retirar todas as formas de expressão de fé das vias públicas. Mas lembro a vocês, o que é um estado laico? Um estado que defende todas as formas de expressão religiosa, sejam elas públicas ou não. Interferir nessas manifestações é justamente interferir no estado laico tão desejado.

As notas de real (que são a discussão do momento), são uma expressão de fé descolada do poder político. Uma vez que elas são apenas a moeda. Tanto faz se tem uma imagem de Deus nelas ou de um cachorro cagando, o valor simbólico que possuem será o mesmo. Elas continuarão a ser o dinheiro.

O problema dessa questão, é que procurar tirar o “Deus seja louvado” das notas justamente vai contra o que todos procuram. Defender um estado Laico seria defender que a nota continue igual, defender o estado laico é defender a possibilidade de todos expressarem sua fé. O que os ateus que se manifestam a favor do estado laico estão fazendo é justamente o contrário. Estão querendo destruir esse nosso princípio e transformar o Brasil em um estado Ateu.

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Se Deus não existe então tudo é permitido – Dostoievski

 

Começo esse texto com uma célebre paráfrase usada por Dostoievski (um grande religioso) sobre a relação que Deus possui com a liberdade humana. Mas antes de adentrar nesse assunto com maior profundidade preciso dizer que a cada novo texto de filosofia que leio, a cada novo filósofo que estudo, a cada dia que passo com um livro em mãos eu acabo chegando a uma conclusão terrível: Que a não-existência de um Deus é muito mais provável do que sua existência. Acima disso, esse assunto está cada vez me trazendo um profundo desinteresse. Até porque, após tomar uma posição de dúvida é muito complicado encontrar um argumento que confirme a existência e a não-existência de um ser divino.

Essas questões são levantadas quando tomamos assuntos como a liberdade, a psicanálise, a ética e a teoria do conhecimento (dentre outras).  Mas antes preciso deixar em evidência o que é esse Deus que estou falando. É a ideia de um ser onipotente, onipresente, e onisciente. A ideia de um Deus corpóreo, seja ele a ideia judaico-cristã, muçulmana  ou os deuses das mais diversas mitologias como Zeus, Odin, Horus dentre todos os outros. A ideia desse deus é de um Ser (seja ele com características humanas ou não) que possa atuar e interferir no nosso mundo. Além da ideia de um Deus criador.

Mas agora vamos tomar como ponto de partida a nossa frase inicial. Muitos religiosos argumentam que a religião é a unica coisa capaz de dar preceitos éticos e morais. Se não existe Deus, não existiria a ideia do bem e do mal. Não existiria nada que daria limites aos seres humanos. Viveríamos na mais completa anarquia, onde, mesmo limitados por leis, tudo ainda seria permitido. Porém, esse não é o ponto em que Dostoievski pretende chegar ao utilizar essa paráfrase atribuída aos irmãos Karamazov. A questão é que sem Deus a liberdade é plena, seriamos então, completamente responsáveis por nossos atos e por tudo que está acontecendo em nossa vida. Não existe mais essa de que a culpa é de Deus, ou as coisas aconteceram porque Deus desejou que fosse assim.

Nietzsche é um grande expoente nessa situação ao usar sua célebre frase “Deus está morto e nós o matamos” (Gaia ciência aforismo 125).  Para Nietzsche o ser humano precisa se tornar senhor de suas próprias ações e se tornar completamente responsável por sua vida. Precisa se libertar de suas dependências. Precisa assumir todas responsabilidades, e não depender de mais ninguém, além dele mesmo. É claro que essa perspectiva é um pouco assustadora, afinal “a culpa dessas coisas ruins em minha vida e de meu sofrimento é completamente minha”, e não são todas as pessoas capazes de assumir plenas responsabilidades por sua vida. Diria Nietzsche, ser um Super-homem é para poucos. É muito mais fácil colocar a responsabilidade em Deus ou em qualquer outra coisa.

A morte de Deus se dá muito mais nessa questão simbólica de Deus, onde ele deixa de atuar como aquele que define o destino das pessoas, bem como o regente moral da sociedade (até porque para Nietzsche Deus nunca existiu de verdade). Esse ser se torna em nada, está morto. E para a sociedade européia da época nada representou senão um resto de algo que já foi, mas que não valia nada. A sociedade não dependia mais de Deus para saber o que era certo e o que era errado, e não estava mais limitada por um Deus para fazer o que bem entendesse e fosse capaz de assumir as plenas responsabilidades.

Quem  desenvolveu mais essas ideias foi Sartre que disse que somos seres condenados a sermos livres. De tudo o que somos como seres humanos somos livres e temos plena responsabilidade por aquilo que fazemos. Se uma pessoa nega sua liberdade, isso ainda é um ato livre, pois tu escolhe não o ser. Tua liberdade é tua prisão. E porque o ser humano é plenamente livre e responsável por suas ações, responsabilizar um Deus por algo que tu fizeste é apenas uma atitude de má-fé (ver nota no final do texto para um resumo da má-fé). O ser humano é responsável por si e pelos outros. Se o mundo está da forma que está, a responsabilidade é tua, é minha, é de todos nós. É da humanidade e de mais ninguém. E se não fizermos nada para mudar, a responsabilidade continuará sendo nossa, diria Sartre.

A liberdade é um tema radicalmente ligado à religião. Mas por mais que as pessoas procurem responsabilizar Deus pelas ações humanas, por mais que a religião procure restringir a liberdade, escolher não fazer algo ainda é uma escolha e somos responsáveis por ela. Somos livres e podemos fazer o que quisermos, nada nos impede disso. Mas também devemos arcar com as responsabilidades. Se Deus não existe então tudo é permitido. E como Deus não existe, tudo é permitido. Mas além disso são duas coisas que quero deixar aos meus leitores. A questão de que somos plenamente responsáveis por quem somos e quem seremos. E a dúvida. Afinal, jamais poderemos saber se Deus existe ou não, mas podemos nos livrar dessa ilusão de que não somos livres! Devemos agir por nós mesmos, somos responsáveis por nossas ações, e não Deus.

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A má-fé de forma resumida é uma mentira a ti mesmo e as outras pessoas. É mentir sobre ser responsável pelas próprias atitudes. Deixar a escolha da liberdade para outra pessoa ou entidade. É deixar que a religião, os pais, o país escolha como tu deve agir e usar a tua liberdade. É claro que é algo que vai muito além, mas de forma resumida é isso.

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Não escrevi o título errado. Política não é uma profissão, é algo que se vive. Mas o que exatamente é viver a política? Para os antigos gregos esta palavra significava a viver a cidade (literalmente o aquele que viva na polis). O cidadão que pensava no que ela melhor para o bem-estar de todos. Hoje, no Brasil, política virou uma profissão um recurso para pessoas terem uma boa vida, onde poucos dos que atuam nela realmente pensam no que é bom para a coletividade.

A polis grega

Representação da Polis grega

Mas o que leva um cidadão a se candidatar para um cargo público? De todas as possíveis respostas o bem geral da cidade raramente aparecerá como o principal motivo. É possível que as pessoas se candidatem pelos interesses de algum grupo ou por seus próprios. Podem-se notar tais coisas apenas analisando as propostas de um candidato a vereador, muitas delas, impossíveis, outras, privilegiando apenas um pequeno grupo da população.

Os problemas gerais da cidade ficam em segundo plano, uma vez que político agora é uma profissão, é mais importante se manter no cargo do que fazer algo além de praças públicas. E é com muito pesar que me lembro do fato onde desejar ocupar um cargo público deveria fazer tal indivíduo se dedicar inteiramente ao bem maior das pessoas, uma completa entrega de si para todos. E infelizmente não é isso que acontece.

Mas além de tudo isso, esse “ser política” vai além, ele possui um grande compromisso com a verdade. Tal compromisso é a primeira grande virtude que os candidatos deveriam ter e estimar. Mas a cada acusação de corrupção, percebe-se que a verdade está sempre em terceiro plano. Para se manter no poder parece que vale tudo, principalmente mentir e enganar.

A política se tornou uma forma de ganhar status, de conseguir, por quatro anos, uma forma de vida tranquila e estável. Um bom salário, uma projeção social, e muito conforto. Em outras palavras: poder. O que deixa uma parte da população frustrada é que cidadões sem conhecimento algum de ser política estão pedindo tal poder para governar. Pergunto-me porque tais pessoas, conscientes que não teriam capacidade de ocupar cargos públicos se candidatam.

Domingo serão as eleições. E nossas vidas são muito afetadas por essa escolha, por nosso voto. Use-o para escolher uma pessoa que pense antes no bem geral de nossa cidade do que seus interesses próprios. Que seja um indivíduo que viva a política. E você, caro candidato, pense muito bem o que o levou até a candidatura. Saiba que tu podes mentir para todos, menos para si mesmo.

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  A criação da internet, e posteriormente as redes sociais possibilitaram a comunicação com uma infinidade de pessoas. É possível encontrar e conhecer pessoas rapidamente. E a cada inovação das redes, existe uma facilidade muito maior para que se conheça pessoas com gostos muito parecidos com os seus. Tal fato deveria criar uma rede de indivíduos com gostos parecidos, e também colocar em contato pessoas que já não possuíam meios de se comunicar.

  Porém, o que de fato acontece é uma deturpação do uso das ferramentas criadas. Acredito que todos os leitores conheçam o Orkut e o estado deplorável que essa rede se encontra. Começo falando do Orkut por dois motivos. Primeiramente, pois a maioria dos internautas brasileiros já fez uso dele, e também, pois como foi a ferramenta mais usada pelo maior período de tempo ela exibe os sinais mais claros dos problemas do uso das redes sociais.

  O Orkut já não é mais usado como uma ferramenta de comunicação. Mas sim, se tornou um núcleo que exibe o que há de mais tosco no povo com acesso à internet. Com uma rápida análise pela rede podemos perceber o efeito “manada” que consiste em um grande agrupamento de pessoas com uma idéia e/ou ação parecida. Algo que também pode ser entendido por “modinha”. O que fica mais claro é uma excessiva carência. A maior parte dos usurários demonstra uma carência e insegurança excessiva. É por isso que podíamos encontrar usuários fazendo de tudo para se divulgarem. Garotas em busca de atenção e elogios (o mesmo valia para garotos) fotos bizarras, textos e histórias contando o que havia de mais íntimo de uma pessoa simplesmente pela atenção virtual que aquilo providenciava, além de que o Orkut era visto como um lugar para se divulgar a fé (porca), e também as piadas (sem-graça) que haviam por ai.

  Podemos ver que o Facebook se encaminha para o mesmo destino. Com compartilhamentos toscos de protestos, piadas, campanhas, “revoluções”, pessoas, e páginas mendigando por likes, ou compartilhamentos… Perdeu-se o propósito de se compartilhar apenas o que havia de mais interessante, ou então um espaço para se postar fotos próprias ou conversar com outros usurários. O facebook se encaminha para virar o novo lixão da internet brasileira, onde as massas depositam, ou melhor, vomitam toda a podridão que há nelas.

  E é exatamente esse o problema. A internet virou o lixão de conteúdo das massas. Elas defecam e exibem a verdadeira face pobre e tosca do povo brasileiro. A perspectiva para o futuro também não são as melhores uma vez que essa consiência não existe. A história nos mostra que a atitude de nosso povo segue muito o efeito manada, uma postura passiva e que segue o caminho de alguns poucos e consequentemente continuará a encher de lixo cada rede social que surgir.

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Nota: Escrevi esse texto as pressas, se acharem alguns erros gramaticais me avisem.

                Estou escrevendo este texto agora porque vejo que algumas pessoas não entendem a diferença entre o que é um Ateu e o que é um Agnóstico. Irei pegar fragmentos de textos que já escrevi e irei postar aqui, simplesmente para evitar o retrabalho de ter que escrever as mesmas coisas de novo.

                O que a palavra Ateu significa? Ateu é uma palavra oriunda do grego antigo que quer dizer “A Theos.” No grego moderno a tradução de Theos é simples, Theos significa Deus, então a tradução mais simples de o que é um Ateu seria “Aquele que nega a Deus.” Porém, qualquer pessoa que estudou um pouco de grego sabe que o significado das palavras não se limita a uma tradução simples, o significado das palavras gregas é muito mais amplo e representa muito mais coisas do que o limitado vocabulário português.

                Theos significa muito além de Deus, ele engloba todo o lado místico e espiritual. A noção de alma e espírito do cristianismo cai ali. A noção de espírito e entidades espíritas também está representada nessa palavra. A própria “energia do mundo” que os druidas antigos cultuavam cai na noção de Theos. Resumidamente, Theos seria tudo aquilo que não pode ser percebido pelos nossos cinco sentidos. Theos é o místico, o espiritual, o duvidoso, e o metafísico. Dessa forma, podemos chegar a conclusão de que Ateu não é somente a negação de Deus, mas sim a negação de tudo o que está além de nossos sentidos.

                Já agnóstico vem de “A gnosis”. Gnosis (de forma simplificada) seria conhecimento. O agnóstico afirma que é impossível conhecer. É uma postura de dúvida. O Agnosticismo pode acreditar ou não em Theos, mas sempre irá manter uma postura de dúvida perante todas as coisas que estão ao redor dele. Pode-se chegar a duvidar até mesmo da existência do mundo real. Até mesmo as “crenças” de um ateísta podem ser questionadas, uma vez que a única comprovação que ele possui são os sentidos. Agnóstico é o que duvida. Ele não ignora o conhecimento, ele só compreende que nunca poderá entendê-lo. Pode ser resumido pela frase de sócrates que diz: “Só sei que nada sei.”

                Resumindo e deixando claras as diferenças. O Ateu é a pessoa que nega a existência de Deus (Theos), e acredita que a única coisa que exista seja o mundo sensível.

                O Agnóstico é aquele que possui a dúvida sempre presente em sua vida. Ele não consegue “crer” em nada, uma vez que não tem certeza de nada. Para ele os sentidos não são tão confiáveis assim.

                Outra coisa que irei aproveitar para falar agora é que me falaram que existe uma postura chamada de Ateu Agnóstico. Bem, como a filosofia é feita de diálogo, eu irei fazer uma crítica a essa postura. Até porque o fato de que um filósofo inventou isso não quer dizer que eu devo seguir, e aceitar a existência dela. Ateu e agnóstico são coisas completamente diferentes e não podem ser complementares. O Agnóstico duvida até do mundo dos sentidos. Porém ele não fala em um nível de fé.

                A forma de não-crer dos dois são diferentes, é como se tentássemos comparar um católico com um Neo-Pentecostal. Eles são parecidos, acreditam em Jesus, mas a formas como vêem o mundo são inteiramente diferentes. Começando a Duvidar até mesmo da ciência e do mundo físico, a pessoa se torna um agnóstico, se o Ateu tiver essas duvidas, ele deixa de ser Ateu, e se torna agnóstico.

                Já se o Agnóstico não acredita em Deus (Theos) ele continua sendo um agnóstico. Se ele acreditar em Deus  (Theos) ele continua sendo agnóstico. A existência ou não desses tipos de fé, não o fazem deixar ou não ser o que ele é, uma vez que “A gnosis” é simplesmente a afirmação de que é impossível conhecer. Acreditar nesse algo é um ato de fé, mas não exclui o fato de que se é impossível conhecer.

Por isso que ser Ateu Agnóstico é impossível.

PS: Agnóstico Teísta é outra besteira.

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                O que a palavra Ateu significa? Ateu é uma palavra oriunda do grego antigo que quer dizer “A Theos.” No grego moderno a tradução de Theos é simples, Theos significa Deus, então a tradução mais simples de o que é um Ateu seria “Aquele que nega a Deus.” Porém, qualquer pessoa que estudou um pouco de grego sabe que o significado das palavras não se limita a uma tradução simples, o significado das palavras gregas é muito mais amplo e representa muito mais coisas do que o limitado vocabulário português.

                Theos significa muito além de Deus, ele engloba todo o lado místico e espiritual. A noção de alma e espírito do cristianismo cai ali. A noção de espírito e entidades espíritas também está representada nessa palavra. A própria “energia do mundo” que os druidas antigos cultuavam cai na noção de Theos. Resumidamente, Theos seria tudo aquilo que não pode ser percebido pelos nossos cinco sentidos. Theos é o místico, o espiritual, o duvidoso, e o metafísico. Dessa forma, podemos chegar a conclusão de que Ateu não é somente a negação de Deus, mas sim a negação de tudo o que está além de nossos sentidos.

                Eu adoro discutir sobre religião. Para as pessoas que me seguem no twitter poderão perceber isso. Eu adoro conhecer o máximo possível das formas de crer e de descrer também. Na internet eu acabo lendo muitos blog de Ateus que até mesmo são interessantes, mas eu acho três coisas em comum entre todos eles.

1) Eles defendem a dúvida e o questionamento;

2) Eles tem certeza na inexistência de Deus;

3) A ciência e a razão são colocados no topo.

                Eu não sei quanto a vocês, mas eu vejo certo problema entre essas duas primeiras premissas. Vejamos bem, quem duvida de tudo, não tem certeza de nada. Mesmo assim, a certeza na inexistência de Theos é argumentada ferozmente. Ora, a pessoa que duvida não terá certeza de nada. E eles tem certeza na inexistência de Deus. Logo, ou eles não duvidam ou tem algo muito comum em diversas religiões: fé.

                Muitos já me comentaram que a fé consiste em acreditar em algo na qual não se pode ter certeza da existência. Vejam bem, eu resumiria diferente. Fé é acreditar em algo que não se pode ter certeza. Agora me permitam fazer algumas perguntas retóricas, não respondam elas, pensem realmente, reflitam e verão que a resposta não é tão simples assim. Como se pode ter certeza da inexistência de Deus (Theos)? Em um campo metafísico a falta de evidências sensíveis não prova a existência ou inexistência de algo. Deus (Theos) é um assunto essencialmente metafísico, logo, utilizar os sentidos e a tão estimada ciência para argumentar a favor ou contra não quer dizer absolutamente nada.

                Irei expor de outra forma. Imaginem um ser humano. Esse ser humano sofreu um acidente e perdeu os cinco sentidos. Ele não vê nada, não escuta nada, não sente nada não sente cheiros ou gostos. Para ele a vida se tornou um poço vazio. Ele tem consciência de si, mas não das pessoas ao redor dele. Você decide visitá-lo. Da ultima vez que verificou, tu és uma pessoa real, você existe não é mesmo? Acredito que sim. Mas para esse garoto que nunca te conheceu, nunca te sentiu, e não te sente ao lado dele, você não existe. Então isso quer dizer que você não existe realmente? Não. Você existe!

                Ou seja, ser incapaz de sentir algo, não prova a inexistência desse algo. Mesmo que esse garoto creia que tu não existas, tu continuarás existindo. Então sabendo disso, como é possível ter certeza na existência ou inexistência de algo ou alguém? Eis uma questão interessante. Irei me aprofundar mais. Sabemos que nossos sentidos são impulsos elétricos gerados em nosso cérebro. O que nos prova que não somos um cérebro em um jarro dentro de um laboratório, e todo o nosso mundo não é uma mera criação de alguns cientistas?

                Espera um pouco, isso quer dizer que não podemos ter certeza de nada! Exato. Se deixarmos a dúvida presente, as certezas que nos cercavam irão lentamente se esvair. Mas o que nos faz continuar acreditando no mundo, nas coisas que nos cercam, que nos dá certeza de alguma coisa? Fé.

                Para se questionar tanto e continuar acreditando que esse mundo é real mesmo, e continuar acreditando na inexistência de Deus (Theos) somente existem duas alternativas. Não se pergunta, e/ou tens fé. E porque mais fé que um religioso? Ora, pois um religioso muitas vezes não se pergunta a respeito de nada, e por isso a fé dele é frágil. Já o Ateu se questiona, muito, e continua tendo certezas, por isso que a fé dele é muito maior. Sinceramente, eu admiro todos vocês, que questionam e ainda tem certezas.

Considerações finais: Para se aprofundar um pouco nesse tema, eu recomendo um outro texto que escrevi aqui no Blog. “O problema dos Universais” que trata justamente sobre o que é possível conhecer ou não. https://sentadonalua.wordpress.com/2011/12/04/o-problema-dos-universais/

Segunda consideração: Se você é Ateu e se ofendeu, se por acaso quiser me xingar, ou discutir comigo, eu te recomendo duas coisas. Primeiro leia meu texto A crítica para os Pseudo-Ateus https://sentadonalua.wordpress.com/2011/10/03/critica-aos-pseudo-ateus/, talvez o chapéu sirva. Depois disso, exponha a cara e fale comigo no Twitter @FilosofoDepre. Caso ache 140 char limitados, use o site twitlonger.com

Comentários, críticas, sugestões, convites para jantares podem ser feitos também pelo twitter, sempre estou por lá, sempre leio as mentions e as procuro responder de alguma forma. Eu tive que fazer dessa forma pelo fato de receber muitos comentários inapropriados aqui no blog. Quando a pessoa tem que mostrar a cara para argumentar ela parece que foge com o rabo entre as pernas.

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