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Archive for Março, 2013

Permita-me te contar uma história.

Não é um conto, ou uma narrativa, mas sim a vida de um pensamento. Há um tempo atrás, logo depois da tragédia em Santa Maria (ou seria no dia da morte do chorão?) podiam ser vistas muitas manifestações de luto nas redes sociais, principalmente no facebook. Discussões sobre vida e morte aconteciam em alguns cantos. Outros procuravam criticar o falso luto só para chamar atenção. O que aconteceu por volta desses dias foi que eu acabei entrando em uma discussão sobre o “medo da morte”, as pessoas acabaram chegando a conclusão que era o desconhecido que assustava. Mas que desconhecido? O que é esse tal de desconhecido?

É claro que as discussões sobre morte pararam, elas saíram de pauta, e o medo (ou talvez a compreensão dele) foi esquecido. Foi deixado de lado para outro assunto em pauta? Não sei, Marco Feliciano? (alguém ainda se lembra dos protestos contra Renan calheiros? Fiquei sabendo que ele riu do baixo-assinado e mandou a internet se mobilizar mais). Porém a pergunta sobre o que seria esse tal de “desconhecido” que muitos falam, mas poucos realmente sabem o que é permaneceu. E por algum tempo eu quis escrever este texto, mas também ainda não estava seguro que eu sabia o que é o desconhecido. Ora, ele é algo que não se conhece, certo? Mas ainda assim, quando falamos que algo é desconhecido, partimos do pressuposto que sabemos o que há ainda para se conhecer.

Fui muito chato nesses últimos dias. Como um Chato-Sócrates acabei fazendo diversos questionamentos as pessoas próximas de mim para a fim de entender como eles compreendiam o que era o desconhecido. Por fim, estou aqui, escrevendo este texto. O que dei-me por conta é que cada pessoa compreende o desconhecido, e o relaciona com a temporalidade, ou a noção de tempo que está por vir, um futuro metafísico. Mas o desconhecido chega a ser mais do que isso, e ainda, se cada um o sente, como podemos lidar com ele? Como não enlouquecemos?

Como falei acima, o desconhecido é diferente do não-conhecido. O desconhecido é algo que sabemos que existe, é apenas um conhecimento que nos escapa, que está distante, mas que de certa forma, podemos o sentir. Ele não passa despercebido diferente do não-conhecido. E como muitas pessoas falam, ele tem uma relação com a noção de passagem do tempo. O futuro é desconhecido, o ano que está por vir, por exemplo. Mas assim também é a semana, os minutos e também o próximo segundo. Eles estão todos equilibrados em um mesmo nível de desconhecido. Não é possível conhecer mais o próximo segundo do que os próximo dez anos até que de fato aconteçam. Mas porque será que os próximos anos assustam mais do que os próximos instantes? Para isso eu tenho duas suposições.

A primeira quer dizer que deveríamos ter medo igualmente do desconhecido. Se não temos medo dos próximos segundos, não devemos temer as próximas horas ou até mesmo a morte. Todos são igualmente desconhecidos. Todos estão distantes de nós até acontecerem. Então não deveríamos nos preocupar com nenhum deles, ou então… viveremos com medo de cada nova esquina da vida. Porém, como a percepção da passagem do tempo é muito subjetiva, os próximos momentos talvez não sejam classificados como um futuro propriamente dito, mas sim como o “presente”. O que está acontecendo, está. Não é mais desconhecido. Nessa ilusão do momento, acabaríamos temendo tudo aquilo que não faz parte dessa “zona de conforto”, e eis que nosso futuro desconhecido aparece diante de nós.

A segunda suposição é que existem diferentes magnitudes. A morte seria o nível máximo. Uma certeza que desconhecemos e lá no fundo torcemos para sermos um humano diferente e jamais morrermos, mas morreremos. E quando a morte acontece (como em Santa Maria) nos lembramos desse fato (que vamos morrer). Depois do medo da morte, quando mais no futuro mais o desconhecido se aproxima dela, e quando mais perto do momento presente, mais temos a ilusão de controle, mais temos a sensação de que tudo vai acontecer como planejamos. Ah! E como o ser humano planeja… O planejamento do futuro não é nada mais que uma maneira de tentar conhecer o desconhecido. Nos livrar da angústia que é enfrentar o futuro despreparados. Talvez seja por isso que algumas pessoas sejam tão controladoras, pois elas, com medo do desconhecido e da natureza caótica humana, tentam controlar tudo e todos ao seu redor. Mas não podemos controlar ou prever o desconhecidos, não é mesmo?

Nossos planos são uma grande ilusão. Uma tentativa de não ter que enfrentar a realidade caótica do mundo e então paramos na própria existência, paramos em uma realidade ilusória que criamos para nós mesmos, tudo que acontece e parece abalá-la é logo rejeitado. Mas será que eu entendi mesmo o que é o desconhecido? Afinal, eu provavelmente o desconheço. Se você leitor tem uma opinião a dar, escreva nos comentários, enriqueça a discussão. Afinal de contas, são coisas que todos enfrentamos, mas que cada um tem sua própria visão.

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