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Archive for Janeiro, 2013

Um minuto em minha mente

– Um minuto em minha mente poderia causar insanidade. – Murmurou essas palavras por entre os dentes o jovem que olhava o horizonte, e as pessoas que estavam no bar onde ele estava.

Uma risada logo atrás de si atraiu sua atenção. Era uma garota franzina, baixa e de cabelos negros curtos. ­­Ela se aproximou dele sem qualquer vergonha e logo se sentou em sua frente. A mesa em que ele estava possuía apenas dois lugares, e ela ocupou justamente o que restava.

– Essa é uma frase que todos adoram falar, como se a mente das outras pessoas fosse mais frágil que a sua própria. – Ela sorriu novamente para ele – Mas não se culpe, é normal tentarmos parecer maiores que outras pessoas.

Não obteve uma resposta de imediato. O jovem apenas virou a cara com uma expressão que de estava com o orgulho ferido. Ignorou-a, e ignorou completamente a crítica que ela havia feito. Como ela ousava falar aquele tipo de coisa, ela não sabia nem um pouco o que se passava em sua mente, suas dúvidas, medos e traumas. Como ela podia então ter a presunção de dizer que seu pensamento era normal? Apenas uma tentativa de se sentir maior que as outras pessoas que estavam naquele bar? Besteira!

– Hahaha! Vejo que alguém está com o orgulho ferido – falou a garota em um tom zombeteiro, como se fosse para irritar ainda mais seu interlocutor – Não fique assim, eu achei você interessante. De todas as pessoas desse bar eu queria falar apenas contigo. E não gosto de puxar conversa de forma clichê. Meu nome é Barbara, a propósito.

– Tanto faz… – Ele falou finalmente quebrando o silêncio, sua expressão ainda era de alguém bravo, agora, porém, estava disposto a conversar. – Mas o que você quis dizer com todas as pessoas tentam parecer maiores do que as outras?

– É muito simples. Temos o desejo de sermos importantes, a busca pela grandeza. Isso resulta em nos justificarmos para nos sentirmos melhores. – Ela apontou para o resto das pessoas do bar – Você não as conhece. Da mesma forma, elas não te conhecem. Elas não tem como saber o que se passa em sua mente, e apenas você conhece teus próprios fantasmas. Mas você não sabe o que se passa na mente delas, não conhece seus fantasmas. E não é porque são mais ignorantes, ou conseguem se divertir em lugares como este que tem menos valor ou força do que você. Em certo ponto todos somos diferentes, mas também somos iguais em nosso valor.

Ele pareceu relaxar na cadeira. Pegou o cigarro que estava no cinzeiro, tragou. Soprou tudo para o teto enquanto refletia na resposta da jovem. Na verdade nunca tinha visto dessa forma. Se ele se colocasse no lugar dos outros seria incapaz de julgá-los. Ele seria tão insignificante quanto todo o resto da humanidade.

-Se todos somos iguais em nossa insignificância, porque permanecer vivo? – Murmurou

Ela riu.

– Você já viu de uma teia? Ou uma rede? É quase a mesma coisa. Nossas vidas estão interligadas em uma espécie de rede. É impossível fugir dela, tua vida influenciará a de outros, e a vida de outras dependerá da tua. Cada ser humano terá seu papel nessa teia, seja para o que achamos ser o bem como o mal. Se você morrer muitas pessoas sofrerão, direta e indiretamente. Você não pode ser egoísta e achar que está sozinho. Não está. Se eu ou você tivéssemos morrido não teríamos essa conversa agora, não mudaríamos nossas vidas. Se o taxista que me trouxe aqui não existisse, talvez eu estivesse em outro lugar. Podemos fazer uma cadeia de eventos para tudo que acarretaria o nosso não-encontro aqui hoje. Mas aqui estamos.

– Então porque ainda assim as pessoas buscam um sentido de importância, buscam seres maiores? – O jovem se inclinou para frente parecendo estar cada vez mais interessado na conversa. As perguntas em sua mente eram várias. Também desejaria poder conversar ainda mais com aquela garota.

– Imagino que primeiramente elas não saibam se sua importância para as outras. Seres humanos são egoístas, pensam somente em si mesmos, então eles precisam ser grandes nesse egoísmo. Por isso que buscam a fama, buscam serem conhecidos na internet, muitos jogam MMO e garotas mostram os peitinhos. É tudo para serem mais conhecidos, para se sentirem mais importantes, maiores, além de darem um sentido de importância para a própria vida.

– Eu nunca consegui entender essas pessoas fazendo de tudo para ficarem famosas ou conhecidas, principalmente na internet – ele falou finalmente – me parece que também existe uma ganância muito grande, eles não se contentam com o que tem, querem sempre mais e mais. Alguns parecem que chegam no fundo do poço. As vezes sinto que merecem o que se passou na vida deles.

– Ora, não podemos ser tão duros nesse julgamento podemos? – ela riu – Se colocarmos no lugar dessas pessoas veremos que se sentem sozinhas. Podem estar cercadas de pessoas, virtuais ou não, mas se sentem sozinhas, como se elogios e a atenção fossem apenas um meio para terem um sentido na vida que elas tornaram vazia. Não podemos os condenar, podemos os entender. O que torna as pessoas em bons líderes é a capacidade de entender as outras pessoas, principalmente quando falham. Criticar todos sabem, entender, nem tanto…

– Mas se não podemos criticar as outras pessoas como podemos mudar a sociedade em que estamos? – Falou o jovem nervoso – Se a única coisa que podemos fazer é entende-los… devemos deixa-los fazendo o que é errado? Devemos os deixar nessa ignorância e alienação? Não podemos todos sermos egoístas…

– Ora, você se lembra da rede da vida que te falei? – Ela se inclinou para trás apoiando-se na cadeira e piscou com o olho direito – Mesmo que você não queira sua vida influenciará no mundo. Se tu viver compreendendo os outros eles serão afetados por isso. Tudo que podemos deixar é esperar que evoluam, não podemos os fazer da um passo maior que a perna. É o mesmo que pedir que uma criança se comporte com a sabedoria de um idoso. Tudo leva o seu tempo.

– Mas temos que poder fazer algo que os influencie diretamente…

– E podemos, é o que estou fazendo agora. Estou influenciando a ti! – A jovem olhou diretamente nos olhos dele – A pergunta que te faço é: Depois disso tudo tu vai sair daqui pensando da mesma forma?

– N-não… – Ele gaguejou

– Assim eu pensei. Você não muda as pessoas pela crítica, mas sim criando o desejo de mudança nelas. Como diria Sócrates, dando a possibilidade para que ela parissem ideias. Não é as confrontando diretamente em suas crenças que você as ajudará, mas sim pela inspiração. Você sabe que é igual a todo mundo. E apenas sendo capaz de entrar na mente de uma pessoa, a compreender, que então poderá lidar com ela, que conseguirá que ela te ouça. – Ela se levantou da cadeira – Continue sonhando.

Com um ultimo sorriso ela deu as costas e saiu daquela mesa se afastando rapidamente. O jovem ainda estava atordoado por causa daquele encontro. Era como se sua vida começava novamente daquele ponto em diante. Finalmente resolveu tragar seu cigarro que agora estava no fim, aquela fumaça espiralou através dele antes de simplesmente se dissipar pelo ambiente. Ele olhou para o teto daquele bar, e então para as pessoas a sua volta.

– Se pudessem entrar em minha mente veriam apenas mais um ser humano. Um ser tão importante quanto qualquer outro.

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