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Archive for the ‘Contos’ Category

Eu gosto de escrever. Gosto das palavras. Gosto de brincar com elas, torcer, transformar. Poderia até mesmo comparar o trabalho de um escritor ao de um tecelão, que de acordo com os fios que escolhe, aos poucos cria o desenho em sua tapeçaria. Sabe, um texto pode ser uma flecha, sentido único, um alvo especifico, nada muito difícil de perceber. Ou pode ser uma malha, sentidos e metáforas entrelaçadas que podem significar uma infinidade de coisas. Camadas atrás de camadas contendo significados ocultos que se revelam apenas aos mais atentos dos leitores.

Não consigo mais escrever feito flecha, por mais que tente, os textos que tenho publicado aqui sempre contém mais de um sentido, mais de um significado. Já foram mensagens ocultas para pessoas específicas (e provavelmente nunca entendidos) como no texto 185 dias. Outras, simples brincadeiras, enquanto imagino um leitor e se ele conseguiu ver que existia ali muito mais do que deixei aparecer. E em uma ultima possibilidade, um pedido de socorro que nem eu mesmo percebi a tempo.

Eu lentamente entrei em depressão. Welbutrin se tornou meu melhor amigo por um tempo, antes dele o Zoloft. A noite foi longa demais, mas o sol nasceu, as mentiras foram desfeitas. Bem, ainda está em seu nascer, por assim dizer. O maior problema foi que isto afetou em muito minha criatividade, e minha auto-crítica. E por isto, apenas um texto por ano aparecia por aqui. Não desejava entulhar este blog com coisas específicas demais sobre filosofia, ou com textos que não julgava dignos de serem lidos. Ninguém vai querer ler sobre as definições de Deus em Spinoza das proposições 15 à 23, ou rascunhos de pequenas perturbações da minha mente, ou até gostariam, mas no nível que estava minha auto-estima, nada era suficiente. Por isso deixei até de usar o twitter.

Já haviam alguns anos que eu tinha perdido a minha musa no labirinto da existência, logo quando os textos começaram a ficar mais escassos. É difícil se recuperar de uma perda tão grande, mas agora que estou banhado em uma nova luz colorida, quem sabe, eu logo consiga imaginação para voltar aqui com mais frequência com diversos textos/desafios de significação, não é mesmo?

Gostaria de deixar uma mensagem final, antes de pular para o próximo texto que estou trabalhando: Nunca tarde a acreditar em si. Teu Eu é o que tens de mais importante. E se tu fores verdadeiro consigo mesmo as pessoas logo irão te ver por quem tu és, e não através das mentiras que propagaram sobre tua honra. Ah, mas isso talvez seja assunto para outro texto. Ou talvez apenas mais um tapete.

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Meia-Noite

Havia paz. E havia escuridão. As estrelas não brilharam no céu aquela noite. A solidão era o que dominava aquele lugar. Não uma solidão boa, mas uma que comprime o ser. Sufoca. Tortura. Dói. Uma agulha afiada em um coração apertado.

Não era um lugar muito movimentado. Principalmente à noite. E, naquele momento apenas uma jovem estava sentada por entre as árvores. Joelhos encolhidos junto ao corpo, e um moletom que era alguns números maiores que ela. Longos cabelos negros destoavam com a brancura de sua pele. O cenário era clichê, mas para ela, aquilo não importava.

Ele não apareceu. Porque apareceria? Estava atrasado e já passava da meia-noite.

“Ainda iremos, juntos, ver as estrelas durante a meia noite.”

Quanta besteira… Se ele já a tinha abandonado durante todo esse tempo, porque iria se importar em aparecer agora. Justo aquela noite. As estrelas não apareceram… ele? Muito menos…

Tudo aquilo não significava nada para ele. Eram símbolos quebrados. Só restava a memória de uma inocente amizade que eles possuíram juntos. Se é que ela algum dia existiu.

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Perto dali, mas ainda no mesmo parque estava um jovem. Ele caminhava por entre as árvores. Onde ela estaria? Havia se perdido. Sua cabeça estava confusa. A realidade havia mudado. Eles tinham mudado. Ele mudara. Estava nervoso.

Suspirou. Seu suspiro ecoou ao seu redor. O vento soprava por entre as árvores lentamente. Da mesma forma com que aquele som ecoou, ele logo sumiu por entre o farfalhar das folhas.

– As estrelas e a meia noite – Ele murmurou – Que relação estranha. Eu costumava abusar de brincadeiras com esses dois termos, não é? – Falava ele com uma interlocutora imaginária.

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Ela estava sozinha, encolhida, sentia-se como se nada tivesse um sentido. A deixaram sozinha… Ele apenas parou de se importar. Porque então daria as caras agora? Ela se perguntava se para ele a amizade que tiveram significou alguma coisa. Mas aquela noite escura mostrava para ela que não.

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E você acreditaria se eu te dissesse que nunca parei de me importar? – Ele murmurou novamente.

 A vida dele havia mudado tanto nos últimos tempos. Já não era… E doía. Saber que não se é mais o mesmo, saber disso tudo e ainda ser incapaz. Sentir-se acorrentado e não conseguir fazer as coisas que antes aconteciam com tanta tranquilidade. Era possível se importar com alguém à distância. Nisso ele acreditava. Não fazia muito sentido, sim, mas foi o que ele fez.

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Ela estava em silêncio. Seus olhos castanhos profundos penetravam a escuridão a sua frente. Ele havia colocado tudo o que passaram em segundo plano. Como se nunca tivesse acontecido. Essa era uma certeza crescente em sua mente. Era a única explicação que encontrava para alguém que não se comunicava mais.

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– E por muito tempo eu me perguntei como você encarou aquilo tudo que passamos… Sabe, desde o começo… – ele murmurou para si – E então, depois de um tempo comecei a pensar que tu não mais acreditavas nas coisas que haviam acontecido. Como se fosse um capítulo de sua história que acabou. E esse medo acabou me impedido de falar contigo. Mas não me impediu de me importar…

Quantas coisas ele gostaria de falar. E palavras não existiam para isso.

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Finalmente ela se levantou para ir embora. Ele também decidiu que não conseguiria a encontrar. Ambos foram embora. Carregavam consigo um sentimento que apertava seus peitos. E uma suspeita de que aquele vulto que acharam que era mera imaginação deveria ter sido investigado.

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Eram dois caminhos que estavam paralelos. Iam para o mesmo sentido, apenas por caminhos diferentes. Um estranho desencontro. Enquanto ela o esperava, ele procurava no lugar errado. Uma amizade nunca acaba, apenas se desencontra. Ambos se importavam, e desejavam a coisa mais pura que poderia existir, a felicidade do outro. Iriam para casa sozinhos, mais uma vez. Mas, mesmo que as estrelas não pudessem ser vistas, isso não significava que não brilharam durante a meia-noite.

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Um minuto em minha mente

– Um minuto em minha mente poderia causar insanidade. – Murmurou essas palavras por entre os dentes o jovem que olhava o horizonte, e as pessoas que estavam no bar onde ele estava.

Uma risada logo atrás de si atraiu sua atenção. Era uma garota franzina, baixa e de cabelos negros curtos. ­­Ela se aproximou dele sem qualquer vergonha e logo se sentou em sua frente. A mesa em que ele estava possuía apenas dois lugares, e ela ocupou justamente o que restava.

– Essa é uma frase que todos adoram falar, como se a mente das outras pessoas fosse mais frágil que a sua própria. – Ela sorriu novamente para ele – Mas não se culpe, é normal tentarmos parecer maiores que outras pessoas.

Não obteve uma resposta de imediato. O jovem apenas virou a cara com uma expressão que de estava com o orgulho ferido. Ignorou-a, e ignorou completamente a crítica que ela havia feito. Como ela ousava falar aquele tipo de coisa, ela não sabia nem um pouco o que se passava em sua mente, suas dúvidas, medos e traumas. Como ela podia então ter a presunção de dizer que seu pensamento era normal? Apenas uma tentativa de se sentir maior que as outras pessoas que estavam naquele bar? Besteira!

– Hahaha! Vejo que alguém está com o orgulho ferido – falou a garota em um tom zombeteiro, como se fosse para irritar ainda mais seu interlocutor – Não fique assim, eu achei você interessante. De todas as pessoas desse bar eu queria falar apenas contigo. E não gosto de puxar conversa de forma clichê. Meu nome é Barbara, a propósito.

– Tanto faz… – Ele falou finalmente quebrando o silêncio, sua expressão ainda era de alguém bravo, agora, porém, estava disposto a conversar. – Mas o que você quis dizer com todas as pessoas tentam parecer maiores do que as outras?

– É muito simples. Temos o desejo de sermos importantes, a busca pela grandeza. Isso resulta em nos justificarmos para nos sentirmos melhores. – Ela apontou para o resto das pessoas do bar – Você não as conhece. Da mesma forma, elas não te conhecem. Elas não tem como saber o que se passa em sua mente, e apenas você conhece teus próprios fantasmas. Mas você não sabe o que se passa na mente delas, não conhece seus fantasmas. E não é porque são mais ignorantes, ou conseguem se divertir em lugares como este que tem menos valor ou força do que você. Em certo ponto todos somos diferentes, mas também somos iguais em nosso valor.

Ele pareceu relaxar na cadeira. Pegou o cigarro que estava no cinzeiro, tragou. Soprou tudo para o teto enquanto refletia na resposta da jovem. Na verdade nunca tinha visto dessa forma. Se ele se colocasse no lugar dos outros seria incapaz de julgá-los. Ele seria tão insignificante quanto todo o resto da humanidade.

-Se todos somos iguais em nossa insignificância, porque permanecer vivo? – Murmurou

Ela riu.

– Você já viu de uma teia? Ou uma rede? É quase a mesma coisa. Nossas vidas estão interligadas em uma espécie de rede. É impossível fugir dela, tua vida influenciará a de outros, e a vida de outras dependerá da tua. Cada ser humano terá seu papel nessa teia, seja para o que achamos ser o bem como o mal. Se você morrer muitas pessoas sofrerão, direta e indiretamente. Você não pode ser egoísta e achar que está sozinho. Não está. Se eu ou você tivéssemos morrido não teríamos essa conversa agora, não mudaríamos nossas vidas. Se o taxista que me trouxe aqui não existisse, talvez eu estivesse em outro lugar. Podemos fazer uma cadeia de eventos para tudo que acarretaria o nosso não-encontro aqui hoje. Mas aqui estamos.

– Então porque ainda assim as pessoas buscam um sentido de importância, buscam seres maiores? – O jovem se inclinou para frente parecendo estar cada vez mais interessado na conversa. As perguntas em sua mente eram várias. Também desejaria poder conversar ainda mais com aquela garota.

– Imagino que primeiramente elas não saibam se sua importância para as outras. Seres humanos são egoístas, pensam somente em si mesmos, então eles precisam ser grandes nesse egoísmo. Por isso que buscam a fama, buscam serem conhecidos na internet, muitos jogam MMO e garotas mostram os peitinhos. É tudo para serem mais conhecidos, para se sentirem mais importantes, maiores, além de darem um sentido de importância para a própria vida.

– Eu nunca consegui entender essas pessoas fazendo de tudo para ficarem famosas ou conhecidas, principalmente na internet – ele falou finalmente – me parece que também existe uma ganância muito grande, eles não se contentam com o que tem, querem sempre mais e mais. Alguns parecem que chegam no fundo do poço. As vezes sinto que merecem o que se passou na vida deles.

– Ora, não podemos ser tão duros nesse julgamento podemos? – ela riu – Se colocarmos no lugar dessas pessoas veremos que se sentem sozinhas. Podem estar cercadas de pessoas, virtuais ou não, mas se sentem sozinhas, como se elogios e a atenção fossem apenas um meio para terem um sentido na vida que elas tornaram vazia. Não podemos os condenar, podemos os entender. O que torna as pessoas em bons líderes é a capacidade de entender as outras pessoas, principalmente quando falham. Criticar todos sabem, entender, nem tanto…

– Mas se não podemos criticar as outras pessoas como podemos mudar a sociedade em que estamos? – Falou o jovem nervoso – Se a única coisa que podemos fazer é entende-los… devemos deixa-los fazendo o que é errado? Devemos os deixar nessa ignorância e alienação? Não podemos todos sermos egoístas…

– Ora, você se lembra da rede da vida que te falei? – Ela se inclinou para trás apoiando-se na cadeira e piscou com o olho direito – Mesmo que você não queira sua vida influenciará no mundo. Se tu viver compreendendo os outros eles serão afetados por isso. Tudo que podemos deixar é esperar que evoluam, não podemos os fazer da um passo maior que a perna. É o mesmo que pedir que uma criança se comporte com a sabedoria de um idoso. Tudo leva o seu tempo.

– Mas temos que poder fazer algo que os influencie diretamente…

– E podemos, é o que estou fazendo agora. Estou influenciando a ti! – A jovem olhou diretamente nos olhos dele – A pergunta que te faço é: Depois disso tudo tu vai sair daqui pensando da mesma forma?

– N-não… – Ele gaguejou

– Assim eu pensei. Você não muda as pessoas pela crítica, mas sim criando o desejo de mudança nelas. Como diria Sócrates, dando a possibilidade para que ela parissem ideias. Não é as confrontando diretamente em suas crenças que você as ajudará, mas sim pela inspiração. Você sabe que é igual a todo mundo. E apenas sendo capaz de entrar na mente de uma pessoa, a compreender, que então poderá lidar com ela, que conseguirá que ela te ouça. – Ela se levantou da cadeira – Continue sonhando.

Com um ultimo sorriso ela deu as costas e saiu daquela mesa se afastando rapidamente. O jovem ainda estava atordoado por causa daquele encontro. Era como se sua vida começava novamente daquele ponto em diante. Finalmente resolveu tragar seu cigarro que agora estava no fim, aquela fumaça espiralou através dele antes de simplesmente se dissipar pelo ambiente. Ele olhou para o teto daquele bar, e então para as pessoas a sua volta.

– Se pudessem entrar em minha mente veriam apenas mais um ser humano. Um ser tão importante quanto qualquer outro.

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Evelyn

              Mais uma folha de papel amassada rolou pelo chão. Quantas vezes tentei escrever a fatídica carta? Perdi a conta. Não conseguia escrever, não conseguia fazer algo que agradasse, afinal, como alguém poderia colocar um sentimento em palavras? A linguagem me limitava, estava preso e não poderia jamais explicar como sentia saudades, não poderia revelar tudo o que sentia em linhas e palavras frias. Nem com uma vida eu poderia conseguir chegar a expressar o que pretendia falar.

               “Evelyn, tu foste como uma irmã, e a pessoa que mais me entendeu. Sem você me sinto tão sozinho, como se nada poderia substituir o calor de saber que eu compartilhava essa ligação espiritual contigo…”

              – Não, não está certo, ainda não chegou lá. – Murmurei. E mais uma folha amassada rolou pelo chão.

              Como poderia? Como poderia chegar a dizer tudo o que sentia? Queria poder expressar tantas coisas, queria poder responder suas cartas. Depois que nos separamos recebi muitas, mas enviei poucas, ou até mesmo nenhuma. E com o tempo suas cartas pararam de chegar. Eu queria enviar uma como as suas, poder a dizer tudo o que sentia, contar minha vida e os eventos que aconteceram nesse tempo que estavam separados. Mas como poderia? Nada era bom o suficiente…

               O quarto onde estava era pequeno, de madeira. Era o sótão de minha casa. Ele rangia com o vento e estava frio agora no inverno, a única luz vinha de uma única vela ao lado da escrivaninha a qual estava na minha frente. Apesar disso, era o único lugar que poderia ter algum tipo de paz, tanto com outras pessoas, como também para com minha mente. Evelyn, você sabia muito bem como minha mente era confusa, era como se meu corpo fosse habitado por várias pessoas, cada uma lutando para ser ouvida, cada uma lutando para ser eu mesmo. Mas estranhamente no frio daquele pequeno cômodo, eu simplesmente era eu.

              Mas mesmo estando com tanta certeza do que sentida, e do que queria dizer, eu não conseguia escrever uma carta. Não conseguia falar que queria aqueles dias dourados que passamos juntos de volta. Aquela época em que nos sentíamos tão inocentes e que o futuro era brilhante. Aquela época em que sonhávamos como duas crianças. Éramos assim, duas crianças cujos sentimentos tão inocentes as faziam sonhar. Amizade… Era realmente o sentimento que unia a alma de duas pessoas… Ah, como eu queria tudo aquilo de volta. Porque tínhamos que crescer? Mas a vida é assim, e com um sopro, tudo muda. Levam-nos aqueles que nos são importantes. Você foi assim, o vento te levou de mim… E eu não fiz nada para evitar.

              O arrependimento crescia em meu peito. Eu não queria aparecer de cabeça baixa, não queria ter que remendar aquilo que foi quebrado. Queria construir algo novo. De nada adianta tentar reparar o que outrora foi. É preciso construir tudo de novo. E eu não sabia como te dizer isso, e muito menos como poderia fazer. Você confiaria em mim de novo? Eu não sabia a resposta, e tinha muito medo dela.

              Suspirei e baixei a cabeça contra a mesa. A vela queimava calmamente ao meu lado. Crescemos não é mesmo? Como eu poderia te dizer tudo o que sinto? Não sabia… Um vento lentamente entrou pelas frestas do sótão, parecia que ele sabia justamente onde ir, pois a vela cambaleou, e então apagou. Escuro. Um leve crepúsculo pairou sobre aquele local, e então eu já sabia o que te escrever. Não era muito, não representava tudo aquilo que sentia, muito menos tudo o que queria dizer. Mas era puro, assim como uma vez nós fomos, e satisfeito com o que escrevi, sabia que estava pronto para finalmente te enviar a carta que continha uma única palavra:

               “Saudades”.

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O jovem e as estrelas.

A noite estava estrelada. O jovem, solitário. Aquele que  agora se sentia o mais solitário dos seres humanos. Não que aquilo o fizesse mal, ou o deixasse triste. Na verdade aquela solidão o acolhia com braços calorosos. Sabia que estava assim por opção própria. Sabia que a solidão o permitiria perguntar: “Quem realmente sou?”, “O que espero da minha vida?”. Mas principalmente, ele queria se perguntar: “Como será o meu futuro?”.

A sua frente havia um lago. Tal lago com uma aparência selvagem. Parecia ainda intocado pela humanidade. Cercado de uma floresta delicada, o jovem se sentava em uma pequena elevação do solo e olhava para o reflexo das estrelas na água. Nada deveria ser dito, nada precisava ser dito. Apenas aquele momento congelado no tempo, congelado em sua memória.

Suas dúvidas, suas companheiras. Ele sabia que jamais teria uma resposta para nenhuma delas, teria apenas mais perguntas. Sem certezas, sabia que a única coisa que poderia fazer ela seguir em frente, dar um passo, após o outros. Colocar em ordem seus sentimentos confusos, procurar tornar-se quem ele realmente era. E principalmente sonhar. Sonhar com mundos além, sonhar com o futuro, sonhar com a realidade. Degustar o mundo assim como Amelie Polain.

Não queria ser ouvido, não queria clamar para que todos o ouvissem. Não queria ser o centro das atenções. Não queria ser famoso. Queria apenas que algumas poucas pessoas o dessem atenção. O que importaria que sua voz fosse ouvida e aclamada por multidões, se para quem ele falava não houvesse  Ele não procurava amor, não procurava afeto, não procurava atenção. Procurava somente saber para quem deveria falar. Para quem suas palavras deveria ser direcionadas.

Era um pequeno jovem. Único em sua insignificância, insubstituível em quem era. Não sabia mais com o que sonhar. Não sabia que caminho seguir. Era sufocado pela própria liberdade. O que faria agora? O que queria fazer? O que devia fazer? Não sabia, só sabia que não deveria fugir de si mesmo. Deveria existir. E assim, como no final de um conto de fadas, o jovem permaneceu lá, acompanhado de suas dúvidas e das estrelas.

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Quem eu me tornei?

Tive muito tempo para pensar nos últimos dias…

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Onde foram os sonhos coloridos, regados a doces e arco-íris? Onde está aquele olhar infantil, aquele sorriso inocente? Será que se quisermos viver estamos destinados a simplesmente crescer? Ao viver percebemos que a vida não é regada a sonhos e coisas boas, mas é justamente esse oposto. O viver não permite que sejamos para sempre inocentes, o mal realmente está em todo o lugar.

Meus pais costumavam dizer que crescer é uma coisa ótima. Parece ser difícil se libertar da infantilidade, mas uma vez na vida adulta me disseram que não gostaríamos de voltar a infância. Mas isso significa que sempre terei comigo uma sombra infantil. Algo que sempre irá me remeter as pequenas alegrias do passado, em como era bom simplesmente brincar…

Crescer parece-me mais algo em que devemos nos adequar as regras sociais. Em que devemos simplesmente ser limitados por algo que esperam de nós, por algo que almejamos ser, mas não por aquilo que realmente somos. Dinheiro, roupas, sexo, bebidas, drogas substituem o que antes era doce e inocente.

Os prazeres que tanto dizem que são bons anestesiam nossa mente. Dizem que essa liberdade de fazer sexo, de poder beber, dirigir e ir para qualquer lugar será melhor do que as coisas que uma mente sonhadora pode gostar. Mas quem disse isso? Quem me conhece o suficiente para dizer o que vou gostar mais e o que vou deixar de gostar? Isso não é ser livre. É somente uma falsa ideia de liberdade.

A verdade é… eu não gosto de quem me tornei.

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De que são feitos os sonhos? Na minha infância costumavam me falar que sonhos eram feitos de algodão doce. Sem forma, leves e doces, podiam ser o que tu quisesse, assim como as nuvens lá do céu. Cresci, mas os sonhos ainda possuem o mesmo mistério infantil que fazem as crianças terem aquele brilho único no olhar. É claro que eu já não percebo sonhos como algo físico, eles se tornaram algo que vai muito além. Não possuem gosto, ou cheiro. Muito menos podem ser tocados. Mas mesmo que não possamos senti-los, sabemos que existem.

Podemos reconhecer um sonho quando ele toma forma. Como aquele beijo na chuva depois de brigarmos porque estava frio demais, e eu não queria me molhar. Ou no brilho do nosso olhar em perceber que a infância ainda não acabou, que com uma mera música dos contos de fada da Disney podemos retornar a nossa inocência original.

O calor de um abraço, os acelerados batimentos cardíacos de quando nos beijamos, as lágrimas que escorrem por tua face quando nos despedimos… Todas essas coisas possuem um toque de magia que me faz pensar se sonhos não podem se tornar realidade. Mas sonhos não são reais. Por mais que queiramos pensar que estamos imersos em uma fantasia regada à algodão doce, logo perceberemos que o que estamos vivendo é a realidade. Podemos sentir os sonhos em doces momentos de nossa existência, mas eles nunca serão como contos-de-fadas, eles são reais.

Mas isso que torna o fato de estarmos vivos algo engraçado, sempre poderemos lembrar daqueles momentos ruins como coisas engraçadas. Como partes importantes de nossas vidas. A realidade pode ser muito mais bela do que o mais doce dos sonhos, pois ela depende de nossas ações, e não somente de nossa imaginação. Sabemos que cada lágrima derramada com nossas despedidas é apenas a certeza dos sorrisos de nossos futuros encontros.

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A parede era estranhamente fria. Meu corpo se apoiava inteiramente enquanto estava de pé encostado nela. Batia a cabeça contra ela, queria provocar a dor, talvez curar essa angústia que havia em meu peito. A sala em que estava era estranhamente pequena, não cabia o suficiente de mim, as paredes se fechavam contra meu corpo em uma ilusão sufocante. Olhei pela janela, para o céu, respirei fundo. Queria me acalmar. Mas eu me sentia como um relógio quebrado. Faltava algo dentro de mim. Eu não era mais o mesmo. Faltava algo… algo essêncial…

-Desde que você se foi… eu nunca mais fui o mesmo…

Como será que você está? Será que está bem? Será que está feliz? Eu não sei… eu não posso dizer. Aonde você está? Você pensa em mim? Eu realmente iria esperar que sim. Que você ao menos se lembrasse de mim. Talvez, se uma parte de mim tivesse ficado em ti. Será que ficou mesmo? Será que somente eu senti tudo o que aconteceu ao nosso redor? Será que foi somente eu quem sonhou? Então acho que é isso… você não deve mais se lembrar quem eu fui. Eu não devo ser uma pessoa que marca a vida das pessoas… não devo mesmo.

Deixei minhas costas escorrerem pela fria parede até sentar no chão. Me encolher naquele canto frio e solitário. Era assim que me sentia naquele momento. Solitário. Ninguem se importa, ninguem vai cuidar de mim. A situação para os homens é bem assim, quando estamos sós, se nossa alma quebrou, ninguem vai cuidar de nós. Mulheres querem alguém que as proteja, mulheres querem alguém que as sustente. E por isso que um homem quebrado, um homem machucado apenas desperta o desprezo nelas. Ninguem vai amar um homem que está chorando. Uma lágria escorreu por minha face. O meu coração estava pesado.

-Saudades…

Exatamente… é exatamente isso que você faz com que eu me sinta. Levou um pedacinho de mim, e no lugar deixou as saudades. Você se afastou de mim, matou as lembranças se esqueceu de tudo o que era maravilhoso. Deixou apenas a solidão. Se esqueceu de mim. Agora provavelmente está feliz. Está feliz com outro, muito provavelmente. Eu deveria estar sorridente, não deveria? Hora… tudo o que sempre quis foi a sua felicidade, você a possui, e para isso teve que se afastar de mim. Eu te fazia infeliz, não é mesmo? Então porque sinto esse gosto amargo em minha boca.

-Sou egoísta…

Sim, eu sou muito egoísta, sou egoista por querer você aqui. Por querer um abraço, por querer ser amado. Mas apenas a solidão me resta, apenas a dor. A solidão me entende, ela me acolhe, ela me abraça, e ela é tão ciumenta que não deixa mais ninguem chegar perto de mim. E quer saber de uma coisa…

-Isso é tudo sua culpa… culpa sua ter me abandonado de forma tão fria e ter levado o que tinha de melhor em mim…

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