Afinal, existe um certo e um errado? E o belo e o feio, existem? Será até mesmo que o bem e o mal podem ser julgados? Em uma era onde a relatividade afetou o estado do que é possível conhecer, será que poderemos chegar a uma verdade absoluta? A resposta para isto é que não existe uma verdade absoluta, apenas um modelo para se chegar a uma certeza ou construir o conhecimento limitado, que não consegue compreender toda a realidade. Existem muitas formas de chegar até ele, e dentro dos parâmetros usados esse conhecimento será válido, mas não será absoluto.
Esses parâmetros podem ser entendidos de duas formas, a primeira é o método científico, ou o conjunto de regras que uma área da ciência utiliza para julgar um conhecimento novo como válido ou não. Esse parâmetro muda de área para área (a forma como um físico conduz suas pesquisas é muito diferente da de um biólogo). E a segunda forma, mais popular, é através de uma ideologia. Mas o que é essa tal de ideologia? A ideologia como foi definida por Antonio Gramsci é dividida em três níveis: filosófico, comunicional e senso comum.
Uma ideologia surge a partir de um trabalho teórico de algum estudioso (Marx por exemplo). O problema é que esse conhecimento é muito complexo para as classes sociais mais baixas, ou pessoas que não estão no meio. Dessa forma, alguma estrutura social como a mídia, militantes, chatos de facebook, etc… Tratam de entender esse conhecimento, simplificá-lo, e passá-lo adiante. Em uma sequência de releituras o conhecimento original distorce e simplifica até entrar no senso comum. Quando ele entra no senso comum vira um comum acordo entre as pessoas. Tomemos o voto feminino como exemplo. Ele surgiu a partir de movimentos teóricos e aos poucos foi se disseminando pela população, hoje ele é aceito por praticamente todos, não é mais questionado.
Dessa forma, podemos entender que a ideologia, para Gramsci, em última instância é o conjunto de ideias e práticas que algum grupo usa para explicar e entender o mundo, e dele produzir um novo conhecimento. É impossível ser neutro a todas as ideologias, mas em uma época em que o conhecimento é relativizado chega a ser impossível explicar e entender o mundo com apenas alguma ideologia. Por isso que muitas pessoas que seguem apenas uma acabam sendo muito chatas, pois elas acabam com uma percepção da realidade limitada apenas a poucos fatores.
É incrível como ideologias fazem com que feministas, esquerdistas, vegans, ateus, religiosos (todos que são extremistas) tenham a certeza de estarem certos, e o mundo todo está ou errado, ou contra eles. Parecem tratar as pessoas ao seu redor como: se não está a meu favor está contra mim. A questão é: Se alguém acha que conhece e segue uma verdade absoluta, essa pessoa só pode ter se alienado perante uma grande parte de sua realidade.
No final não existe certo e errado, ou bom e ruim. São apenas pontos de vista. Como disse Nietzsche, não existem fatos, apenas interpretações. Cada um percebe a realidade da sua própria forma. Não existem dois seres humanos com pontos de vista exatamente iguais e que percebam o mundo exatamente da mesma forma. Obrigar pessoas a concordarem contigo por seja lá qual for o motivo é simplesmente estupidez. Mais do que isso, é uma tentativa de passar a tua alienação para outras pessoas.
Não podemos julgar que alguma coisa seja boa para a maioria, pois somos incapazes de prever as consequências em longo prazo. Não podemos dizer o que é melhor para a sociedade. Grandes atrocidades já foram cometidas pelo “bem maior”. Todos os grandes ditadores da terra acreditavam estar fazendo um bem para a sua população. Nenhum deles se via como uma má pessoa. Al Capone, que chegou as ser considerado inimigo público número um dos Estados Unidos, disse que não entendia porque era odiado uma vez que ele provia diversão para a sociedade. TwoGun, um pistoleiro também dos Estados Unidos escreveu em uma carta (antes de morrer em um tiroteio contra a política) que possuía um coração cansado incapaz de ferir o mais indefeso dos animais. Esse mesmo assassino foi capaz de matar um policial a sangue frio quando o parou em uma estrada.
Ninguém consegue perceber a si mesmo como o vilão. Para nós todos somos os heróis, todos fazemos o melhor para as pessoas ao nosso redor. A mente humana é capaz de adaptar e modificar informações para que elas sejam aceitas para nossos valores, para a ideologia em que acreditamos. Enquanto um ateu vê a religião como algo ruim, um religioso vê em sua religião como a única coisa que pode ajudar a sociedade. Mas quem realmente está certo? Não somos capazes de dizer. Apenas interpretamos a realidade da nossa forma para julgar um certo e errado que é mais aceito por nossa cultura.
O que chega a ser engraçado é que quanto mais tu acreditar em tua crença, mais tu acabarás fazendo o contrário dela, e sem perceber. Um homem que é contra a pornografia pode começar a assistir todos os tipos com a justificativa de que ele precisa aprender mais sobre ela. Um Ateu pode começar a discriminar religiosos, justo quando ele mais reclama da discriminação por crença. Se existe uma forma de evitar isso, é não ser tão extremista em suas convicções, ou ideologias. A melhor forma é ao menos tentar entender a forma como as outras pessoas percebem o mundo, e ter em mente que tudo muda, até mesmo ideias.
Para uma convivência em sociedade se faz necessária a tolerância. Não existe uma verdade que sirva para todas as pessoas, não existe apenas uma forma de ajudar as pessoas. Não existe um bem supremo que ajude a todos. Fazer com que pessoas sejam obrigadas a certas atitudes é remover a liberdade humana, e não queremos outra ditadura. O melhor é procurar entender o outro lado e aproveitar o que ele tem de bom, quem sabe assim dessa forma possa existir um diálogo, e não uma discussão. Viver é estar mergulhado em caos, e desse caos não existe apenas uma ordem.
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Nota final: Esse texto surgiu de uma sugestão de uma leitora. Caso tenham sugestões de tópicos para que eu escreva, podem sugerir! Mesmo que eu possa demorar para escrever, adoro receber esse tipo de feedback.
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