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Archive for the ‘Textos de Filsofia’ Category

O solipcismo é um problema filosófico que consiste na pergunta: O que nos prova que o Outro de fato existe e não é somente uma criação da minha cabeça? Em resumo ele trabalha com a questão da solidão do Eu. Visto por cima parece um problema simples, até mesmo fútil, afinal o outro deve existir, eu posso falar com ele, tocá-lo. Porque deveria duvidar da sua existência? Contudo por mais que tu possas tocar nesse outro, sentir seu calor, e ouvir suas palavras, jamais terá acesso aos seus sentimentos verdadeiros, seus pensamentos ou à mente dele, o que diferencia o outro “humano” de um robô, por exemplo?

Se nossos sentidos são percebidos pelo nosso cérebro, e muitas vezes facilmente distorcidos, enganados, como podemos saber o que é real e o que não é? Acredito que a primeira aparição desta pergunta aparece com Descartes, quando ele usa da dúvida para questionar tudo ao seu redor. O cogito ergo sum (duvido logo existo) foi sua solução para o problema do Eu, eu existo, mas e todo o mundo ao meu redor? A resposta dele foi mais fraca, era por causa de Deus. Um Deus puramente bom como o que deveria existir, não permitiria que vivêssemos em um mundo irreal. E por muito tempo se aceitou essa resposta, ou talvez, não se pensou tanto sobre essa questão.

Este problema costuma aparecer como uma crítica a uma teoria filosófica. “Essa sua linha de pensamento leva a um solipcismo”. E com a contemporaneidade esta crítica sempre foi uma sombra de todas as teorias filosóficas, principalmente para a fenomenologia, que trata que não temos como conhecer as coisas ao nosso redor como são, apenas como elas aparentam a nós. Uma solução para isso foi colocar o Eu fora do centro da reflexão filosófica, Levinas defendeu que o Eu só existe a partir do Outro. Ele existe, e depois eu. A construção do eu pelo outro se chama de Alteridade.

E muito se aceitou essa forma de jogo, de que Eu só existo se algo externo a mim existir. O ser humano só podia se constituir enquanto pessoa na medida em que outras pessoas estivessem ao redor dele. Nós somos na medida em que nos relacionamos, conversamos crescemos e mudamos através de nossos amigos, inimigos e conhecidos. Todas as pessoas que passam por nossas vidas deixam uma parte delas em nós.

Acredito que essa seja a solução mais aceita para este problema. Mas não dá conta de um único fantasma, afinal nem sempre estamos na presença de outros, o que nos leva a uma terrível percepção:

                Em nossas mentes, estamos condenados a uma solidão eterna.

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Quando eu aprendia a dançar meus professores me ensinaram que a música era composta dos sons e dos silêncios. O dançarino não se movimentaria pelo salão usando apenas os toques da melodia, mas também, os espaços entre eles. Estes espaços, sem nenhum som, eram os momentos de parada, suavidade, e de liberdade criativa. Dentro do silêncio, na dança, te era permitido sair da cadência dos movimentos. O que mais diferencia dançarinos são suas capacidades de aproveitar os silêncios da música.

Para mim, a dança se tornou uma verdadeira paixão pela liberdade que ela te permitia, pelo envolvimento que ela criava entre duas almas quando estas trocavam sorrisos e movimentos pelo salão. E mesmo que muitos não enxerguem a dança como eu, ela me ensinou a escutar os sons do silêncio.

O que quero dizer com isso? Ora, tenho visto uma grande valorização das palavras, das coisas ditas, mas jamais a capacidade de entender o que calar-se pode significar. Nossa linguagem humana permite muito mais do que meramente palavras, e aqui discordo de Wittgenstein, o mundo é mais do que nossa linguagem pode expressar. Mas essa capacidade jamais é explorada nas nossas vidas. Jamais achamos que temos a liberdade, de como na dança, interpretar os silêncios, de entender que nossas vidas são muito mais que uma cadência fixa.

Silence____by_WiciaQ

O silêncio parece ter muitas formas, é a ausência de sons, de palavras, mas também o vazio, a escuridão. E por mais que ele pareça físico, assim como muitas coisas nas nossas vidas, ele tem ares de mistério. Ou vão dizer que o silêncio da madrugada, os ares da noite, não possuem algo de diferente?

Há alguns meses atrás me perguntaram o que eu diria se o mundo todo parasse para me ouvir. Respondi que provavelmente permaneceria em silêncio. E desde então, tal pergunta tem estado presente em minha mente. Acho que até fiquei muito mais calado do que costumava. Deixei de escrever no blog, no twitter, e até mesmo de discutir durante minhas aulas. Nada que eu pudesse falar pareceria relevante o suficiente para ser dito a outras pessoas.

Às vezes eu tento acreditar que meu olhar revelaria muito mais que minhas palavras. Este vazio deveria permitir a liberdade de ações, de interpretações, tanto para mim, como para outros. Talvez por muito tempo eu tenha ignorado o que o silêncio daqueles ao meu redor pudesse significar. Ignorei a grandiosidade de significados que não podiam ser postos em linguagem. E muitas coisas talvez se perderam em um vazio.

Mal podemos começar a entender o que essa ausência significa. O silêncio para si e para os outros. E agora nem mais sei o que poderia escrever para por para fora o que sinto. Algumas vezes me sinto perdido no labirinto da minha mente, sem nem mesmo um guia para me ajudar. Me restaria então, ficar nessa solidão silenciosa sozinho?

Nota: Minhas idéias estão muito confusas, espero que algum entendimento possa sair deste texto. Me calei, é verdade, mas tentarei quebrar esse silêncio com algumas dicas do que eu poderia escrever dadas por alguns leitores (a algum tempo atrás).

Ah sim, para os que não me acompanharam no twitter, agora estou formado em filosofia e fazendo mestrado 🙂

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Desaparecer

Eu estava relendo textos antigos. Lendo aquilo que escrevi há um ano. Como o tempo passa, você não acha? Este blog possui uma parte íntima de mim. Alguns medos, e muitas reflexões. Talvez ele revele até mais do que eu gostaria sobre uma parte de mim. E dois textos em específico me fizeram pensar, e muito.

E por mais que eu tenha mudado. Por mais que um ano se passe, por mais que eu seja diferente, que eu até me conheça mais. Porque os questionamentos sempre serão os mesmos? Será que estamos para sempre destinados e odiar quem nos tornamos? Ou será que iremos nos fragmentar em pequenos pedaços, partes minúsculas, pequenos “eus”.

Vanish_by_aeyeduh

Queria ser acolhido pela solidão, mas nem ela quer a minha companhia. E por mais que sentimo-nos perdidos, a pior coisa é quando alguém tenta dar uma de guru da vida e tentar nos mostrar uma resposta enlatada, superficial. Nesses momentos não precisamos de palavras.

 

Crescemos, e quem nos tornamos? Orgulhamo-nos de quem somos? Devemos nos cobrar um ideal de perfeição tão grande assim? Porque não podemos mais simplesmente deitar em um gramado e passar algumas horas olhando para o céu? Porque constantemente precisamos buscar alguma coisa
para tentarmos fugir de nós mesmos?

 –

Essas perguntas martelam a minha mente.

Em realidade, eu apenas queria desaparecer.

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                Recentemente vi circulando na internet um texto que mostrava os estágios de uma pessoa para se tornar ateu. Um processo linear com passos muito bem definidos que mais pareciam uma escala, na qual “ser ateu” é o ponto mais elevado. Um roteiro de vida, que parece mais o tiro de um canhão, onde o ser humano disparado irá passar pelo mesmo caminho de muitos e o alvo: “ser Ateu”. Não vejo as coisas dessa forma. E, me apropriando das metáforas de Henri Bergson diria que a transformação da vida de um ser humano pode ser definida mais como a explosão de uma granada. Cheia de tendências e possibilidades, irá explodir para todos os lados, e cada novo fragmento irá se fragmentar ainda mais. Infinitas possibilidades. E assim como a teoria da evolução que os Ateístas tanto gostam, não existe como dizer se algo é mais “evoluído” que outro, ou que existe um processo de evolução linear.

                O problema disso tudo é que textos assim dão um caráter mais elevado a uma forma de crer, ou de “ser” do que outra. Quem disse que ser ateu é ser mais “evoluído” que um agnóstico? Ou até mesmo que um cristão? Só porque você começou cristão e terminou ateu não significa que esse caminho percorrido tenha te dado maiores méritos do quem permaneceu cristão. Mas a questão está mais embaixo, está na crença de grupo, na tentativa de aceitação perante os outros tentamos nos justificar, e assim nos elevar perante a sociedade.

                Imagine uma torta. Essa torta é finita e representaria a sociedade. Ela é deliciosa. Cada grupo ideológico tenta pegar um pedaço dessa torta para si. Os grupos não querem dividir, querem a maior quantidade para si. Então tentam ao máximo justificar-se perante eles mesmos, porque eles são melhores que os outros. E eles precisam justificar a si mesmos, porque no final, sempre ficará aquela ponta de dúvida de se o caminho escolhido será o certo.

                Dentro desta luta sem sentido pela maior fatia da torta, ela acaba se perdendo. Perde o real propósito. Ora, “sou melhor que os outros”, “eu estou certo” e coisas do tipo acabam cegando um diálogo verdadeiro onde todos poderiam dividir as coisas igualmente, e ao menos tentar se entender. Qualquer ideologia pode ser justificada com nomes bonitos. Mas não basta entender apenas os nomes e pequenas frases de efeito, é necessário entender a luta. No final, essas pessoas estavam tentando simplesmente serem elas mesmas, dar mais liberdade as pessoas. Deve ser triste ver um pensamento que pensava a liberdade criando um grupo ainda mais fechado.

                O que é difícil é deixar toda essa disputa de lado e ser simplesmente quem tu acha que deve ser, sem pressões sociais, sem uma necessidade de aceitação perante um grupo. Seja Cristão, seja Ateu, seja Feminista, vegetariano, gay ou qualquer coisa do tipo. É difícil ser sem a necessidade de se autoafirmação perante outros, ou uma provação pessoal. É difícil conseguir entender que as outras pessoas são diferentes e podem não concordar com o que tu acreditas, e mesmo assim aceitá-las. É difícil, mas as recompensas são muitas. Se “ser” ateu, religioso, agnóstico, vegetariano, socialista, etc. te mostra como é belo o mundo lá fora, ser “você mesmo” te mostra como é bela a pessoa que tu és.

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Eu estou a muito tempo sem escrever no blog. Peço desculpas por isso. Mas não posso prometer nada. Talvez seja porque minha mente esteja uma confusão assim como a de muitas pessoas. Tenho ideias para escrever, mas me faltam palavras para conseguir finalizar os textos, talvez seja por uma falta de tempo provocada pela minha própria desorganização. Pera ai!  – As vezes, quando eu escrevo isso parece que esse blog tem um alcance muito maior do que realmente tem. – Mas talvez não seja nem a quantidade dos leitores, talvez seja o fato de que escrever essas linhas, com a certeza de que pelo menos uma pessoa irá ler me faz ter a vontade de voltar aqui. Talvez seja pela minha ideia de leitor, onde quando eu escrevo acado travando um diálogo mental contigo, leitor.

Mas o que estou falando? Enrolando, de certo. Muito embora o tema desse texto seja justamente o de um desabafo! Posso falar o que eu quiser. (Será que pelo título as pessoas irão realmente ler este texto?). Ah é, para quem não é meu stalker o suficiente, eu, o autor, sou um estudante de filosofia em seu último ano do curso. E a filosofia mudou minha vida e forma de pensar, e muda a cada dia. Mas porque desabafo? Ora, por muitas coisas.

Era uma vez uma aula de filosofia, onde um movimento de estudantes invadiu a aula, e começou a falar aquelas besteiras que todos os movimentos de estudantes com ideologia de esquerda falam (mas que não sabem o que é realmente a esquerda). Besteiras sim! Os caras tinham como ideal tornar a universidade uma espécie de democracia, onde os alunos poderiam votar para reitor e ter acesso as informações sobre o modelo estratégico da universidade (não consigo imaginar um ser humano que consiga pensar que isso seja uma boa ideia, e não seja um completo peão de um jogo muito maior que ele). Nessa aula eu acabei não me calando e discuti um pouco, e, como sempre, ninguém se convenceu de nada.

Mas o mais interessante é que a professora falou uma coisa que me impactou muito, de que o estudante de filosofia acaba se fechando muito em si mesmo, e fica a parte dos movimentos estudantis, movimentos sociais. O que de fato acontece, acabamos ficando céticos demais, descrentes de muitos desses movimentos. MAS PORRA! O que tu vai esperar de um bando de pessoas que passa o curso inteiro em dúvida sobre se realidade é a realidade de fato, que não sabem nem quem são, e que na verdade tudo pode não passar de um grande sonho, ou de um mundo criado pela nossa cabeça. Estudamos fenomeologia simplesmente para sabermos que não temos acesso as coisas em si, e o que percebemos do mundo está em nossa cabeça (sim, eu sei que a filosofia da consciência já está, de certa forma, superada). Sim, o mundo acaba estando todo na nossa cabeça, afinal, a única experiência primária é a experiência da psiquê. Cheguei a conclusão que normalmente o estudante de filosofia que não se fechou em si mesmo é porque não está tão avançado no curso, ou porque não compreendeu de fato todas as dúvidas da filosofia (não pensa filosoficamente de fato, apenas é um repetidor de frases), mas talvez ele também possa não ligar para todos esses problemas.

Isso até não chega a ser tão revoltante. O que mais me irrita dentro desse mundo da filosofia, são páginas montadas por esses mesmos ignorantes, que incapazes de conseguir entender a ideia de um autor, ou até mesmo desenvolver um pensamento próprio, mascaram a si mesmos. Filósofos obscenos, Filósofos anônimos, frase disso, frase daquilo e tantas outras páginas que se apropriam do pensamento de um autor e o distorcem de tal modo a dar uma comicidade a ele, ou de passar uma mensagem totalmente diferente. Ok, querem fazer uma piadinha. Bla, bla, bla falso moralista sem senso de humor. Pois enfie esse humor regado a zoeira em seu orifício anal, vulgo cu.

night_in_forest_by_wojtar

Filosofia pressupõe toda uma atitude perante o mundo, perante a si mesmo. Uma forma de pensar diferente. E não apenas frases soltas que parecem um pouco profundas. Falar de filosofia é algo que pode ser muito fácil como muito difícil. Mas requer que alguém abstraia, vá além. Pois senão serão meras palavras, palavras frias e sem um significado que apenas impressionam aqueles que tem preguiça até de pensar.

O pior é que esse vírus da simplicidade. Da corrente de pensamento padrão infecta todos os meios acadêmicos. Sejam páginas, ou grupos de discussões de filosofia. Existe uma ideologia corrente, seja ela esquerda ou direita, seja vegetarianismo, feminismo… o que for. E tu não pode debater fora desse campo. Se alguém for em um diretório acadêmico de filosofia (ou qualquer outro curso de humanas) e defender posições contrárias as ideologias aceitas naquele grupo, essa pessoas será massacrada! O diálogo dentro da filosofia se fechou. E graças a esses grupos ideológicos dominantes, pessoas que pensam diferente ou devem se adaptar, ou ficam excluídas.

A filosofia se fecha em si mesma porque tem medo de crítica, acaba tendo medo do novo. E nesse fechar-se em si mesma, acaba ficando em uma grande masturbação mental, no qual egos são acariciados, e críticas superficiais são disparadas a todos os lados. E eu, como pessoa que pretende entrar nesse mundo fico desanimado. É uma merda, não tem definição melhor. Uma merda. Onde os medíocres, por serem maioria são os que tem mais voz. Agora deu para entender porque Nietzsche tacou o foda-se e tentou destruir o que era a filosofia da época dele. Infelizmente, até Nietzsche, hoje, se tornou um dogma.

Em resumo. Esse mundo da filosofia está uma merda. Ninguém sabe o que é filosofia de fato, nem eu. O que mais tem por ai é gente achando que sabe algo, e falando de coisas que desconhece.

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Permita-me te contar uma história.

Não é um conto, ou uma narrativa, mas sim a vida de um pensamento. Há um tempo atrás, logo depois da tragédia em Santa Maria (ou seria no dia da morte do chorão?) podiam ser vistas muitas manifestações de luto nas redes sociais, principalmente no facebook. Discussões sobre vida e morte aconteciam em alguns cantos. Outros procuravam criticar o falso luto só para chamar atenção. O que aconteceu por volta desses dias foi que eu acabei entrando em uma discussão sobre o “medo da morte”, as pessoas acabaram chegando a conclusão que era o desconhecido que assustava. Mas que desconhecido? O que é esse tal de desconhecido?

É claro que as discussões sobre morte pararam, elas saíram de pauta, e o medo (ou talvez a compreensão dele) foi esquecido. Foi deixado de lado para outro assunto em pauta? Não sei, Marco Feliciano? (alguém ainda se lembra dos protestos contra Renan calheiros? Fiquei sabendo que ele riu do baixo-assinado e mandou a internet se mobilizar mais). Porém a pergunta sobre o que seria esse tal de “desconhecido” que muitos falam, mas poucos realmente sabem o que é permaneceu. E por algum tempo eu quis escrever este texto, mas também ainda não estava seguro que eu sabia o que é o desconhecido. Ora, ele é algo que não se conhece, certo? Mas ainda assim, quando falamos que algo é desconhecido, partimos do pressuposto que sabemos o que há ainda para se conhecer.

Fui muito chato nesses últimos dias. Como um Chato-Sócrates acabei fazendo diversos questionamentos as pessoas próximas de mim para a fim de entender como eles compreendiam o que era o desconhecido. Por fim, estou aqui, escrevendo este texto. O que dei-me por conta é que cada pessoa compreende o desconhecido, e o relaciona com a temporalidade, ou a noção de tempo que está por vir, um futuro metafísico. Mas o desconhecido chega a ser mais do que isso, e ainda, se cada um o sente, como podemos lidar com ele? Como não enlouquecemos?

Como falei acima, o desconhecido é diferente do não-conhecido. O desconhecido é algo que sabemos que existe, é apenas um conhecimento que nos escapa, que está distante, mas que de certa forma, podemos o sentir. Ele não passa despercebido diferente do não-conhecido. E como muitas pessoas falam, ele tem uma relação com a noção de passagem do tempo. O futuro é desconhecido, o ano que está por vir, por exemplo. Mas assim também é a semana, os minutos e também o próximo segundo. Eles estão todos equilibrados em um mesmo nível de desconhecido. Não é possível conhecer mais o próximo segundo do que os próximo dez anos até que de fato aconteçam. Mas porque será que os próximos anos assustam mais do que os próximos instantes? Para isso eu tenho duas suposições.

A primeira quer dizer que deveríamos ter medo igualmente do desconhecido. Se não temos medo dos próximos segundos, não devemos temer as próximas horas ou até mesmo a morte. Todos são igualmente desconhecidos. Todos estão distantes de nós até acontecerem. Então não deveríamos nos preocupar com nenhum deles, ou então… viveremos com medo de cada nova esquina da vida. Porém, como a percepção da passagem do tempo é muito subjetiva, os próximos momentos talvez não sejam classificados como um futuro propriamente dito, mas sim como o “presente”. O que está acontecendo, está. Não é mais desconhecido. Nessa ilusão do momento, acabaríamos temendo tudo aquilo que não faz parte dessa “zona de conforto”, e eis que nosso futuro desconhecido aparece diante de nós.

A segunda suposição é que existem diferentes magnitudes. A morte seria o nível máximo. Uma certeza que desconhecemos e lá no fundo torcemos para sermos um humano diferente e jamais morrermos, mas morreremos. E quando a morte acontece (como em Santa Maria) nos lembramos desse fato (que vamos morrer). Depois do medo da morte, quando mais no futuro mais o desconhecido se aproxima dela, e quando mais perto do momento presente, mais temos a ilusão de controle, mais temos a sensação de que tudo vai acontecer como planejamos. Ah! E como o ser humano planeja… O planejamento do futuro não é nada mais que uma maneira de tentar conhecer o desconhecido. Nos livrar da angústia que é enfrentar o futuro despreparados. Talvez seja por isso que algumas pessoas sejam tão controladoras, pois elas, com medo do desconhecido e da natureza caótica humana, tentam controlar tudo e todos ao seu redor. Mas não podemos controlar ou prever o desconhecidos, não é mesmo?

Nossos planos são uma grande ilusão. Uma tentativa de não ter que enfrentar a realidade caótica do mundo e então paramos na própria existência, paramos em uma realidade ilusória que criamos para nós mesmos, tudo que acontece e parece abalá-la é logo rejeitado. Mas será que eu entendi mesmo o que é o desconhecido? Afinal, eu provavelmente o desconheço. Se você leitor tem uma opinião a dar, escreva nos comentários, enriqueça a discussão. Afinal de contas, são coisas que todos enfrentamos, mas que cada um tem sua própria visão.

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Nota Inicial: A primeira parte deste texto é na verdade uma grande paráfrase do primeiro capítulo dolivro de um de meus professores. Tal livro foi o que me inspirou a entrar na filosofia. Eu não utilizei de citações diretas ou indiretas para não poluir o texto. Ao final poderão achar as referências para o livro, apesar de eu achar que é impossível acharem ele a venda.

Segunda nota: Essa é uma crítica apenas as pessoas que seguem suas ideologias de forma radical, não a todas as ideologias em sua totalidade. Saiba a diferença.

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Viver é algo imprevisível. Se existe um fato ou uma verdade essa é a questão mais próxima que podemos chegar a disso. Nunca sabemos o que irá acontecer no momento seguinte até que ele chegue. Podemos fazer previsões, mas nunca saberemos se elas irão se realizar. Podemos planejar uma viajem, mas não sabemos como estará a situação no dia seguinte, pode acabar a gasolina do carro, pode chover, você pode ficar doente, algum parente pode morrer, um meteoro pode cair em sua casa… enfim, uma infinidade de possibilidades. Mas digamos que tudo esteja certo para que a viajem vá acontecer, você pode simplesmente mudar de ideia, e seus planos passarão para não ir mais.

Mas mesmo em meio a esse caos de possibilidades o ser humano ainda procura determinar um ritmo para suas vidas, as horas, as estações, os anos, a economia, o ensino, as classes sociais… Essa ordem em que vivemos é apenas uma tentativa desesperada de organizar o caos que é nossa vida. Para fugir desse caos, da possibilidade de morte a cada segundo, nós planejamos. Procuramos prever e nos antecipar da melhor forma possível, pensamos no futuro e o tentamos organizá-lo. E isso pode ser muito perigoso, pode acontecer de alguns seres humanos tentarem controlar esse caos, tentarem criar o ritmo perfeito.

Parece que certas pessoas possuem a utopia do mundo perfeito (perfeito segundo suas concepções). Essas pessoas acabam buscando o poder, poder para controlar o caos. E uma vez que não é possível controlar a vida em si eles procuram controlar a única coisa que está ao alcance deles, ou seja, a vontade humana. Controlando a educação, o conhecimento e a liberdade eles irão controlar uma parte importante do caos: o ser humano. Já que é difícil controlar todo o resto, é só retirar a liberdade, a opinião e o ponto de vista contraditório. Mas a democracia deve existir, a liberdade deve permanecer.

Sem o caos não existe vida, não existe a liberdade. Essas pessoas que buscam o poder podem pensar que ao controlar a sociedade estarão fazendo um bem a ela, mas estão enganados, pois o que resta ao ser humano se sua liberdade for retirada?– Fim da paráfrase – E o que acontece atualmente é justamente essa busca por poder por muitos radicais em suas ideologias, como feministas,veganos, ateus e esquerdistas. Eles buscam o poder para mudar e controlar a vontade humana.

Tomemos o exemplo das feministas radicais, dos veganos, ateus, esquerdistas, ativistas do PT, ou qualquer outro grupo que tente impor sua vontade perante os outros. Muitos desses grupos já mostraram que estão dispostos a fazer de tudo para conseguir esse poder sobre as vontades humanas, até mesmo “jogar sujo”. Imagine um mundo onde tu não possa escolher mais o que vestir, o que comer, o que ouvir, comprar, ou o que irá fazer durante a tarde. O problema é que eles utilizam a estratégia de eliminar qualquer tentativa de oposição as suas ideias. Quem vai contra eles está errado, é considerado o vilão. Eles tomam toda a crítica as suas ideias como críticas pessoais.

A busca pelo poder é um veneno. Quando essas pessoas o provam procuram sempre mais. A democracia, mesmo que frágil deve permanecer, as pessoas ainda devem ter sua liberdade. Por mais que tais ideologias acreditem, os seres humanos não precisam de um pastor. Eles precisam sim de normas de conduta, uma moral e uma cultura. Mas não são crianças para que sempre tenham que depender de alguém. Se essas ideologias realmente quisessem indivíduos capazes de fazer suas próprias escolhas, não procurariam tanto assim limitar as ações humanas.

Referência:

LARENTIS, Milton. A vida das Idéias. Experimentos 1988-2008. Bauru: Canal 6, 2008.

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Afinal, existe um certo e um errado? E o belo e o feio, existem? Será até mesmo que o bem e o mal podem ser julgados? Em uma era onde a relatividade afetou o estado do que é possível conhecer, será que poderemos chegar a uma verdade absoluta? A resposta para isto é que não existe uma verdade absoluta, apenas um modelo para se chegar a uma certeza ou construir o conhecimento limitado, que não consegue compreender toda a realidade. Existem muitas formas de chegar até ele, e dentro dos parâmetros usados esse conhecimento será válido, mas não será absoluto.

Esses parâmetros podem ser entendidos de duas formas, a primeira é o método científico, ou o conjunto de regras que uma área da ciência utiliza para julgar um conhecimento novo como válido ou não. Esse parâmetro muda de área para área (a forma como um físico conduz suas pesquisas é muito diferente da de um biólogo). E a segunda forma, mais popular, é através de uma ideologia. Mas o que é essa tal de ideologia? A ideologia como foi definida por Antonio Gramsci é dividida em três níveis: filosófico, comunicional e senso comum.

Uma ideologia surge a partir de um trabalho teórico de algum estudioso (Marx por exemplo). O problema é que esse conhecimento é muito complexo para as classes sociais mais baixas, ou pessoas que não estão no meio. Dessa forma, alguma estrutura social como a mídia, militantes, chatos de facebook, etc… Tratam de entender esse conhecimento, simplificá-lo, e passá-lo adiante. Em uma sequência de releituras o conhecimento original distorce e simplifica até entrar no senso comum. Quando ele entra no senso comum vira um comum acordo entre as pessoas. Tomemos o voto feminino como exemplo. Ele surgiu a partir de movimentos teóricos e aos poucos foi se disseminando pela população, hoje ele é aceito por praticamente todos, não é mais questionado.

Dessa forma, podemos entender que a ideologia, para Gramsci, em última instância é o conjunto de ideias e práticas que algum grupo usa para explicar e entender o mundo, e dele produzir um novo conhecimento. É impossível ser neutro a todas as ideologias, mas em uma época em que o conhecimento é relativizado chega a ser impossível explicar e entender o mundo com apenas alguma ideologia. Por isso que muitas pessoas que seguem apenas uma acabam sendo muito chatas, pois elas acabam com uma percepção da realidade limitada apenas a poucos fatores.

É incrível como ideologias fazem com que feministas, esquerdistas, vegans, ateus, religiosos (todos que são extremistas) tenham a certeza de estarem certos, e o mundo todo está ou errado, ou contra eles. Parecem tratar as pessoas ao seu redor como: se não está a meu favor está contra mim. A questão é: Se alguém acha que conhece e segue uma verdade absoluta, essa pessoa só pode ter se alienado perante uma grande parte de sua realidade.

No final não existe certo e errado, ou bom e ruim. São apenas pontos de vista. Como disse Nietzsche, não existem fatos, apenas interpretações. Cada um percebe a realidade da sua própria forma. Não existem dois seres humanos com pontos de vista exatamente iguais e que percebam o mundo exatamente da mesma forma. Obrigar pessoas a concordarem contigo por seja lá qual for o motivo é simplesmente estupidez. Mais do que isso, é uma tentativa de passar a tua alienação para outras pessoas.

Não podemos julgar que alguma coisa seja boa para a maioria, pois somos incapazes de prever as consequências em longo prazo. Não podemos dizer o que é melhor para a sociedade. Grandes atrocidades já foram cometidas pelo “bem maior”. Todos os grandes ditadores da terra acreditavam estar fazendo um bem para a sua população. Nenhum deles se via como uma má pessoa. Al Capone, que chegou as ser considerado inimigo público número um dos Estados Unidos, disse que não entendia porque era odiado uma vez que ele provia diversão para a sociedade. TwoGun, um pistoleiro também dos Estados Unidos escreveu em uma carta (antes de morrer em um tiroteio contra a política) que possuía um coração cansado incapaz de ferir o mais indefeso dos animais. Esse mesmo assassino foi capaz de matar um policial a sangue frio quando o parou em uma estrada.

Ninguém consegue perceber a si mesmo como o vilão. Para nós todos somos os heróis, todos fazemos o melhor para as pessoas ao nosso redor. A mente humana é capaz de adaptar e modificar informações para que elas sejam aceitas para nossos valores, para a ideologia em que acreditamos. Enquanto um ateu vê a religião como algo ruim, um religioso vê em sua religião como a única coisa que pode ajudar a sociedade. Mas quem realmente está certo? Não somos capazes de dizer. Apenas interpretamos a realidade da nossa forma para julgar um certo e errado que é mais aceito por nossa cultura.

O que chega a ser engraçado é que quanto mais tu acreditar em tua crença, mais tu acabarás fazendo o contrário dela, e sem perceber. Um homem que é contra a pornografia pode começar a assistir todos os tipos com a justificativa de que ele precisa aprender mais sobre ela. Um Ateu pode começar a discriminar religiosos, justo quando ele mais reclama da discriminação por crença. Se existe uma forma de evitar isso, é não ser tão extremista em suas convicções, ou ideologias. A melhor forma é ao menos tentar entender a forma como as outras pessoas percebem o mundo, e ter em mente que tudo muda, até mesmo ideias.

Para uma convivência em sociedade se faz necessária a tolerância. Não existe uma verdade que sirva para todas as pessoas, não existe apenas uma forma de ajudar as pessoas. Não existe um bem supremo que ajude a todos. Fazer com que pessoas sejam obrigadas a certas atitudes é remover a liberdade humana, e não queremos outra ditadura. O melhor é procurar entender o outro lado e aproveitar o que ele tem de bom, quem sabe assim dessa forma possa existir um diálogo, e não uma discussão. Viver é estar mergulhado em caos, e desse caos não existe apenas uma ordem.

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Nota final: Esse texto surgiu de uma sugestão de uma leitora. Caso tenham sugestões de tópicos para que eu escreva, podem sugerir! Mesmo que eu possa demorar para escrever, adoro receber esse tipo de feedback.

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Introdução

 

  Estive estudando um autor muito fascinante nos últimos tempos. Seu nome é Carl Jung. Ele tem formação em psiquiatria, e foi o maior discípulo de Freud (apesar de que a grande obra de Jung começou depois do rompimento com Freud). Mas apesar de ele ser um psiquiatra, suas obras são muito mais estudadas por filósofos. Isso se deve ao fato de que as idéias de Jung são muito mais baseadas na filosofia, e tem um alto nível filosófico. Ele possuiu uma teoria sobre a construção do ser humano e da sociedade que é realmente fascinante. E mais do que isso, que possui validade científica.

  Com isso dito, o objetivo desta série de textos é trabalhar um dos conceitos principais de Jung, o de individuação. O tornar-se um indivíduo único.  E talvez mostrar que uma pessoa realmente pode ser um indivíduo único com suas próprias peculiaridades, com seus próprios desejos, e que se conhece muito mais do que normalmente podemos nos conhecer.

  Motivei-me a pensar sobre essa série (série, pois tudo de uma vez criaria um texto muito longo) depois de muita reflexão, depois de uma conversa ótima sobre “quem somos”, e também depois de ouvir pessoas falando que o ser humano perdeu seu potencial devido ao “sistema” ou a “sociedade capitalista”. Besteiras do tipo. A questão central aqui é entender o que é “ser único” e como podemos chegar a esse ponto.

 

Conversa com os leitores

 

  Antes de começar o texto propriamente dito quero dizer que estou escrevendo esta série de textos para você leitor. Esse texto é dedicado a todas as pessoas que leram o meu blog ou que virão a ler. Diferente dos meus últimos textos. Esse eu sei muito bem para quem eu escrevo. É para você! É para todos nós. E por isso seria muito legal poder ouvir a opinião de meus leitores a respeito desse assunto. Até porque assim saberei como desenvolver os próximos textos. Façam perguntas sobre o que não entenderem, ou simplesmente respondam as perguntas que deixarei. Ficarei muito contente em saber o que estão achando de tudo isso que escrevo.

 

O problema do sistema. O discurso da Alienação.

 

  O sistema social é sempre a culpa central de não podermos ser quem nós realmente somos. Afinal, é culpa da sociedade que esta é uma época difícil para sonhadores. Ou que esta seja uma época onde a produção de conhecimento está em decadência. Os seres humanos estão ficando cada vez mais burros. Nos prendemos em um sistema e não podemos mais ser livres como desejaríamos. Não podemos mais sermos nós mesmos. Não podemos mais fazer o que queremos. Temos que viver trabalhando em coisas que não gostamos. Logo, o ser humano está destinado a viver conforme padrões, e por isso se torna cada vez menos humano, menos ele mesmo.

  Este é um discurso amplamente aceito nas redes sociais. Afinal, por causa dessa “sociedade” não podemos sempre fazer o que desejamos. Só que a facilidade da aceitação desse discurso está mais embaixo. Esse discurso é aceito porque gostamos de nossa preguiça, gostamos de poder justificar nossas incapacidades em outras coisas. Em resumo, não gostamos de assumir a responsabilidade de nossas falhas. Não queremos aceitar o fato de que nossa vida é como é por nossa causa.

  Dois grandes teóricos trabalharam essa questão. Eles são Nietzsche e Sartre. A crítica desses dois autores se dá no âmbito em que somos plenamente livres. Não existem padrões éticos que valem para todas as pessoas. Ou até mesmo que deveriam limitar as ações dos homens.

  Já tratei desse assunto em minha crítica à ética religiosa nesse texto:  Se Deus não Existe então tudo é permitido

  Para Sartre o ser humano é plenamente livre. Porém ter consciência de nossa liberdade gera angustia. Angustia pelo fato de que não podemos fazer tudo o que desejamos com nossa liberdade, e além disso, angustia por saber que a responsabilidade é inteiramente nossa. E por causa disso acabamos mentindo para nós mesmos. Mentimos que o sistema (criado por nós) controla nossas vidas. Que não podemos mudar, que não podemos fazer nada senão batalhar e nos adaptar ao mundo. Mentimos para nós mesmos afirmando que somos limitados. E que a culpa da nossa limitação nos é externa.

  Para Sartre essa mentira pode ser entendida como má-fé. A má-fé que faz com que nos escondemos atrás de qualquer outra coisa. Afirmamos que a responsabilidade é da religião, da sociedade, de nossos pais. Mas jamais conduzimos nossas vidas por nós mesmos, com o que realmente desejamos e assumimos plena responsabilidade por nossos atos.

  Para tornarmo-nos humanos únicos em nós mesmos precisamos nos livrar da má-fé. Precisamos aceitar que somos plenamente livres e acatar todas as responsabilidades por nossos atos.  Sejam eles conscientes ou não. Devemos ser livres para escolher, agir, e ser. Já somos isso, mas será que podemos aceitar esse fardo?

  Para você leitor, a sociedade parece estar pronta para ser livre? Talvez sim, ou talvez não. Mas sobre tu mesmo? Tu está pronto para aceitar a liberdade que possuiu e assumir plenas responsabilidades por tua vida? Essa é uma resposta que somente tu pode dar, e não precisa falar para todos, apenas para si. Compreender a liberdade é o primeiro passo para se tornar verdadeiramente único. Para ser tornar tu mesmo.

 

Ser diferente não é ser único.

 

  O advento das redes sociais possibilitou uma maior rede de comunicação. Podíamos conversar com as pessoas e ver como elas estavam, e saber sobre a vida delas. Poderia ser um grande avanço para podermos finalmente nos conectar com o mundo. Mas o feitiço virou-se contra o feiticeiro, e as redes sociais passaram a exibir um outro lado de seus usuários.

  Através de uma rede social é possível analisar o movimento de diversas sub-sociedades (tribos). Como conversam, como se comportam. E mais do que isso, pessoas passaram a se expor mais. Colocam mais de si em um espaço público. E o que uma vez te fazia sentir-se único, passou a ser uma coisa comum. Afinal, pela internet é muito mais fácil achar pessoas que se comportam de forma parecida, tem os mesmos gostos e desgostos. E tudo isso acabou fazendo pessoas perderem seu senso de indivíduo. Tu já não podia saber o que te tornava único(a), pois haviam muitas pessoas que eram muito parecidas entre as outras.

  Partindo desse ponto, criou-se um desejo em “ser diferente”. Jovens buscando aquilo que os tornavam diferentes daquela multidão de pessoas. Aquilo que os fariam se destacar na multidão. Criou-se uma grande necessidade de “ser ouvido”. As pessoas precisavam ser notadas, e esse desejo de ser notado foi aumentando cada vez mais até o ponto de postarem fotos do que se estava comendo em redes sociais. Todos querem ter uma voz, todos querem que suas opiniões sejam ouvidas, e todos querem se destacar, querem ser percebidos. Ok, não todos, mas uma grande quantidade de pessoas, e praticamente todas as pessoas que são heavy users  de facebook e afins.

  Com esse desejo de ser diferente, as pessoas passaram a buscar gostos diferentes dessa multidão de pessoas, gostos que as fizessem sentirem diferentes, especiais, e pertencentes a uma “elite”. E ai surgiram novos sub-grupos, e outros tornaram-se mais sólidos. Temos os otakus, roqueiros, from england, pseudo-cults, ateus, fãs de Pink Floyd… E todos procuram acreditar que seu gosto é o que os torna muito diferentes de uma multidão de pessoas que caminham pelas vias reais e virtuais todos os dias.

  Mas a verdade é que ser de um desses grupos, e compartilhar esses gostos não torna uma pessoa única, muito menos diferente. Um exemplo pode ser o fã de Pink Floyd que se acha único por gostar dessa banda incrível (sim, eu os adoro) mas que “ninguém mais gosta”, ou que seus fãs são muito raros. Só que Pink Floyd é conhecida como uma das banda de rock mais famosas de todos os tempos (junto com Bettles e afins), o Dark Side of the moon, foi e é um dos álbuns mais vendidos de todos os tempos. Muitas das grandes bandas se espelham em diversos momentos da carreira deles para compor novas músicas. A própria madona possui influências de Pink Floyd em algumas de suas músicas. E vocês ainda acham que ser fã de Pink Floyd os destaca da multidão? Sejamos sinceros, chute uma pedra virtual na internet que tu irá achar outros 5 fãs deles.

  Nota mental:  Eu usei os fãs de Pink Floyd, mas o exemplo deles pode ser utilizado para qualquer gosto. Seja ele de animes, de coisas britânicas. Coisas de Hipsters e tantos outros. Pela internet é muito fácil achar um grupo de pessoas com algum tipo de gosto peculiar ou que gostam de alguma coisa.

  A realidade é difícil. Mas se tu enquadrar quaisquer atitudes, quaisquer formas de se vestir, falar ou se comportar, e achar que elas te fazem diferente, que te destacam, tu está errado. Em todo o tipo de comportamento haverá pelo menos um grupo que também tem esse mesmo comportamento. O diferente é só mais uma convenção social. Mas esses diferentes são só mais um na multidão que procura tal diferencial. De tanto que tentam se tornar diferentes, acabam ficando iguais a todos os outros.

  Como lidar? Não querendo ser diferente. Não querendo ter uma voz. Mas sim querendo ser a “si-mesmo”. E não ter a necessidade de se mostrar para todas as outras pessoas. A questão é: Pessoas estão preparadas para simplesmente serem, e não querer mostrar quem são?

  

Como tornar-se único?

  

  O ser único é algo além, é sutil e é inteiramente individual. É o processo de compreender a si mesmo, e de compreender muitos dos seus desejos. Ser único não está nas grandes atitudes, mas sim nos pequenos detalhes e peculiaridades que jamais poderão ser transformados em palavras. Mais do que isso, é o propósito dessa série de textos. É mostrar como que uma pessoa se torna ela mesma. Como se dão todos esses processos dentro da filosofia, e da psicologia. Aliar-me-ei em Carl Jung, Epicuro, Kant e diversos outros autores.

  Vocês terão aqui, queridos leitores, uma obra de coração. Um presente para vocês, uma compilação de muitos de meus estudos, e meus sinceros desejos que lendo e refletindo sobre o que escrevo os possa tornar além de únicos, um pouco mais felizes.

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Se Deus não existe então tudo é permitido – Dostoievski

 

Começo esse texto com uma célebre paráfrase usada por Dostoievski (um grande religioso) sobre a relação que Deus possui com a liberdade humana. Mas antes de adentrar nesse assunto com maior profundidade preciso dizer que a cada novo texto de filosofia que leio, a cada novo filósofo que estudo, a cada dia que passo com um livro em mãos eu acabo chegando a uma conclusão terrível: Que a não-existência de um Deus é muito mais provável do que sua existência. Acima disso, esse assunto está cada vez me trazendo um profundo desinteresse. Até porque, após tomar uma posição de dúvida é muito complicado encontrar um argumento que confirme a existência e a não-existência de um ser divino.

Essas questões são levantadas quando tomamos assuntos como a liberdade, a psicanálise, a ética e a teoria do conhecimento (dentre outras).  Mas antes preciso deixar em evidência o que é esse Deus que estou falando. É a ideia de um ser onipotente, onipresente, e onisciente. A ideia de um Deus corpóreo, seja ele a ideia judaico-cristã, muçulmana  ou os deuses das mais diversas mitologias como Zeus, Odin, Horus dentre todos os outros. A ideia desse deus é de um Ser (seja ele com características humanas ou não) que possa atuar e interferir no nosso mundo. Além da ideia de um Deus criador.

Mas agora vamos tomar como ponto de partida a nossa frase inicial. Muitos religiosos argumentam que a religião é a unica coisa capaz de dar preceitos éticos e morais. Se não existe Deus, não existiria a ideia do bem e do mal. Não existiria nada que daria limites aos seres humanos. Viveríamos na mais completa anarquia, onde, mesmo limitados por leis, tudo ainda seria permitido. Porém, esse não é o ponto em que Dostoievski pretende chegar ao utilizar essa paráfrase atribuída aos irmãos Karamazov. A questão é que sem Deus a liberdade é plena, seriamos então, completamente responsáveis por nossos atos e por tudo que está acontecendo em nossa vida. Não existe mais essa de que a culpa é de Deus, ou as coisas aconteceram porque Deus desejou que fosse assim.

Nietzsche é um grande expoente nessa situação ao usar sua célebre frase “Deus está morto e nós o matamos” (Gaia ciência aforismo 125).  Para Nietzsche o ser humano precisa se tornar senhor de suas próprias ações e se tornar completamente responsável por sua vida. Precisa se libertar de suas dependências. Precisa assumir todas responsabilidades, e não depender de mais ninguém, além dele mesmo. É claro que essa perspectiva é um pouco assustadora, afinal “a culpa dessas coisas ruins em minha vida e de meu sofrimento é completamente minha”, e não são todas as pessoas capazes de assumir plenas responsabilidades por sua vida. Diria Nietzsche, ser um Super-homem é para poucos. É muito mais fácil colocar a responsabilidade em Deus ou em qualquer outra coisa.

A morte de Deus se dá muito mais nessa questão simbólica de Deus, onde ele deixa de atuar como aquele que define o destino das pessoas, bem como o regente moral da sociedade (até porque para Nietzsche Deus nunca existiu de verdade). Esse ser se torna em nada, está morto. E para a sociedade européia da época nada representou senão um resto de algo que já foi, mas que não valia nada. A sociedade não dependia mais de Deus para saber o que era certo e o que era errado, e não estava mais limitada por um Deus para fazer o que bem entendesse e fosse capaz de assumir as plenas responsabilidades.

Quem  desenvolveu mais essas ideias foi Sartre que disse que somos seres condenados a sermos livres. De tudo o que somos como seres humanos somos livres e temos plena responsabilidade por aquilo que fazemos. Se uma pessoa nega sua liberdade, isso ainda é um ato livre, pois tu escolhe não o ser. Tua liberdade é tua prisão. E porque o ser humano é plenamente livre e responsável por suas ações, responsabilizar um Deus por algo que tu fizeste é apenas uma atitude de má-fé (ver nota no final do texto para um resumo da má-fé). O ser humano é responsável por si e pelos outros. Se o mundo está da forma que está, a responsabilidade é tua, é minha, é de todos nós. É da humanidade e de mais ninguém. E se não fizermos nada para mudar, a responsabilidade continuará sendo nossa, diria Sartre.

A liberdade é um tema radicalmente ligado à religião. Mas por mais que as pessoas procurem responsabilizar Deus pelas ações humanas, por mais que a religião procure restringir a liberdade, escolher não fazer algo ainda é uma escolha e somos responsáveis por ela. Somos livres e podemos fazer o que quisermos, nada nos impede disso. Mas também devemos arcar com as responsabilidades. Se Deus não existe então tudo é permitido. E como Deus não existe, tudo é permitido. Mas além disso são duas coisas que quero deixar aos meus leitores. A questão de que somos plenamente responsáveis por quem somos e quem seremos. E a dúvida. Afinal, jamais poderemos saber se Deus existe ou não, mas podemos nos livrar dessa ilusão de que não somos livres! Devemos agir por nós mesmos, somos responsáveis por nossas ações, e não Deus.

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A má-fé de forma resumida é uma mentira a ti mesmo e as outras pessoas. É mentir sobre ser responsável pelas próprias atitudes. Deixar a escolha da liberdade para outra pessoa ou entidade. É deixar que a religião, os pais, o país escolha como tu deve agir e usar a tua liberdade. É claro que é algo que vai muito além, mas de forma resumida é isso.

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