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Archive for Dezembro, 2012

Evelyn

              Mais uma folha de papel amassada rolou pelo chão. Quantas vezes tentei escrever a fatídica carta? Perdi a conta. Não conseguia escrever, não conseguia fazer algo que agradasse, afinal, como alguém poderia colocar um sentimento em palavras? A linguagem me limitava, estava preso e não poderia jamais explicar como sentia saudades, não poderia revelar tudo o que sentia em linhas e palavras frias. Nem com uma vida eu poderia conseguir chegar a expressar o que pretendia falar.

               “Evelyn, tu foste como uma irmã, e a pessoa que mais me entendeu. Sem você me sinto tão sozinho, como se nada poderia substituir o calor de saber que eu compartilhava essa ligação espiritual contigo…”

              – Não, não está certo, ainda não chegou lá. – Murmurei. E mais uma folha amassada rolou pelo chão.

              Como poderia? Como poderia chegar a dizer tudo o que sentia? Queria poder expressar tantas coisas, queria poder responder suas cartas. Depois que nos separamos recebi muitas, mas enviei poucas, ou até mesmo nenhuma. E com o tempo suas cartas pararam de chegar. Eu queria enviar uma como as suas, poder a dizer tudo o que sentia, contar minha vida e os eventos que aconteceram nesse tempo que estavam separados. Mas como poderia? Nada era bom o suficiente…

               O quarto onde estava era pequeno, de madeira. Era o sótão de minha casa. Ele rangia com o vento e estava frio agora no inverno, a única luz vinha de uma única vela ao lado da escrivaninha a qual estava na minha frente. Apesar disso, era o único lugar que poderia ter algum tipo de paz, tanto com outras pessoas, como também para com minha mente. Evelyn, você sabia muito bem como minha mente era confusa, era como se meu corpo fosse habitado por várias pessoas, cada uma lutando para ser ouvida, cada uma lutando para ser eu mesmo. Mas estranhamente no frio daquele pequeno cômodo, eu simplesmente era eu.

              Mas mesmo estando com tanta certeza do que sentida, e do que queria dizer, eu não conseguia escrever uma carta. Não conseguia falar que queria aqueles dias dourados que passamos juntos de volta. Aquela época em que nos sentíamos tão inocentes e que o futuro era brilhante. Aquela época em que sonhávamos como duas crianças. Éramos assim, duas crianças cujos sentimentos tão inocentes as faziam sonhar. Amizade… Era realmente o sentimento que unia a alma de duas pessoas… Ah, como eu queria tudo aquilo de volta. Porque tínhamos que crescer? Mas a vida é assim, e com um sopro, tudo muda. Levam-nos aqueles que nos são importantes. Você foi assim, o vento te levou de mim… E eu não fiz nada para evitar.

              O arrependimento crescia em meu peito. Eu não queria aparecer de cabeça baixa, não queria ter que remendar aquilo que foi quebrado. Queria construir algo novo. De nada adianta tentar reparar o que outrora foi. É preciso construir tudo de novo. E eu não sabia como te dizer isso, e muito menos como poderia fazer. Você confiaria em mim de novo? Eu não sabia a resposta, e tinha muito medo dela.

              Suspirei e baixei a cabeça contra a mesa. A vela queimava calmamente ao meu lado. Crescemos não é mesmo? Como eu poderia te dizer tudo o que sinto? Não sabia… Um vento lentamente entrou pelas frestas do sótão, parecia que ele sabia justamente onde ir, pois a vela cambaleou, e então apagou. Escuro. Um leve crepúsculo pairou sobre aquele local, e então eu já sabia o que te escrever. Não era muito, não representava tudo aquilo que sentia, muito menos tudo o que queria dizer. Mas era puro, assim como uma vez nós fomos, e satisfeito com o que escrevi, sabia que estava pronto para finalmente te enviar a carta que continha uma única palavra:

               “Saudades”.

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Tive que dar uma pausa em todos os trabalhos que tenho que fazer para escrever esse texto.

É incrível como muitos ateus defendem a ideia de que o Brasil deveria ser um “estado laico”. Defendem essa ideia como se fosse uma verdadeira religião. Como se o Brasil se tornando “laico” resolveria todos os problemas da sociedade. A cura do câncer seria descoberta, e entraríamos em uma nova era de paz e harmonia que duraria 200 anos com finalmente uma sociedade racional o bastante para não acreditar mais em Deus. Mas pera ai? Tem algo de errado nisso tudo, e ironias a parte, o erro é achar que um estado laico é aquele estado que nega todo o tipo de religião.

Mas o que é esse tal de estado laico? Não é nada mais do que uma forma de governo onde a Religião é separada das decisões políticas, e as decisões políticas são separadas da religião. Onde o poder é separado da religião. É tão simples! Mas é incrível como tantas pessoas não conseguem entender essa simples divisão. A definição mais vulgar que posso encontrar para definir a laicidade do estado é aquele estado que está “cagando e andando para as manifestações religiosas”.

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Dentro de um estado laico uma pessoa possui a liberdade para expressar sua fé ou não-fé da forma que bem entender sem alguém a impedir de fazer isso. Os crentes podem continuar gritando em suas igrejas, os católicos podem continuar com suas missas e feriados, e os ateus podem continuar a xingar as religiões no facebook e no twitter. Mas isso tudo somente acontece porque é permitido pelo estado. Se tivéssemos um estado cristão, quem professasse uma fé diferente da aceita seria preso ou qualquer coisa do tipo.

Mas o que é esse tal de estado? Utilizando-me da definição moderna pela ciência política, o Estado é a reunião do Território, do povo, e do poder (político). E indo mais além, o poder está dividido em três, o legislativo, judiciário e executivo (sendo o executivo o que concentra mais poder político). Ou seja, tudo é o estado.

Um estado laico não pode ser um estado Ateu, pois dessa forma todas as formas de expressão religiosa estariam proibidas. Elas não seriam permitidas e o estado iria fomentar o ateísmo. Que é apenas uma forma de crer particular dentre tantas outras. Um estado Ateu destruiria toda a liberdade religiosa que a sociedade lutou tanto para conseguir.

Dentro dessa perspectiva começam questões como os crucifixos nas escolas públicas ou o “Deus seja louvado” nas notas de real, dizem que tais formas de se professar a fé destroem a laicidade do nosso amado Brasil. Dizem que devemos retirar todas as formas de expressão de fé das vias públicas. Mas lembro a vocês, o que é um estado laico? Um estado que defende todas as formas de expressão religiosa, sejam elas públicas ou não. Interferir nessas manifestações é justamente interferir no estado laico tão desejado.

As notas de real (que são a discussão do momento), são uma expressão de fé descolada do poder político. Uma vez que elas são apenas a moeda. Tanto faz se tem uma imagem de Deus nelas ou de um cachorro cagando, o valor simbólico que possuem será o mesmo. Elas continuarão a ser o dinheiro.

O problema dessa questão, é que procurar tirar o “Deus seja louvado” das notas justamente vai contra o que todos procuram. Defender um estado Laico seria defender que a nota continue igual, defender o estado laico é defender a possibilidade de todos expressarem sua fé. O que os ateus que se manifestam a favor do estado laico estão fazendo é justamente o contrário. Estão querendo destruir esse nosso princípio e transformar o Brasil em um estado Ateu.

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