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Archive for the ‘Críticas’ Category

                Recentemente vi circulando na internet um texto que mostrava os estágios de uma pessoa para se tornar ateu. Um processo linear com passos muito bem definidos que mais pareciam uma escala, na qual “ser ateu” é o ponto mais elevado. Um roteiro de vida, que parece mais o tiro de um canhão, onde o ser humano disparado irá passar pelo mesmo caminho de muitos e o alvo: “ser Ateu”. Não vejo as coisas dessa forma. E, me apropriando das metáforas de Henri Bergson diria que a transformação da vida de um ser humano pode ser definida mais como a explosão de uma granada. Cheia de tendências e possibilidades, irá explodir para todos os lados, e cada novo fragmento irá se fragmentar ainda mais. Infinitas possibilidades. E assim como a teoria da evolução que os Ateístas tanto gostam, não existe como dizer se algo é mais “evoluído” que outro, ou que existe um processo de evolução linear.

                O problema disso tudo é que textos assim dão um caráter mais elevado a uma forma de crer, ou de “ser” do que outra. Quem disse que ser ateu é ser mais “evoluído” que um agnóstico? Ou até mesmo que um cristão? Só porque você começou cristão e terminou ateu não significa que esse caminho percorrido tenha te dado maiores méritos do quem permaneceu cristão. Mas a questão está mais embaixo, está na crença de grupo, na tentativa de aceitação perante os outros tentamos nos justificar, e assim nos elevar perante a sociedade.

                Imagine uma torta. Essa torta é finita e representaria a sociedade. Ela é deliciosa. Cada grupo ideológico tenta pegar um pedaço dessa torta para si. Os grupos não querem dividir, querem a maior quantidade para si. Então tentam ao máximo justificar-se perante eles mesmos, porque eles são melhores que os outros. E eles precisam justificar a si mesmos, porque no final, sempre ficará aquela ponta de dúvida de se o caminho escolhido será o certo.

                Dentro desta luta sem sentido pela maior fatia da torta, ela acaba se perdendo. Perde o real propósito. Ora, “sou melhor que os outros”, “eu estou certo” e coisas do tipo acabam cegando um diálogo verdadeiro onde todos poderiam dividir as coisas igualmente, e ao menos tentar se entender. Qualquer ideologia pode ser justificada com nomes bonitos. Mas não basta entender apenas os nomes e pequenas frases de efeito, é necessário entender a luta. No final, essas pessoas estavam tentando simplesmente serem elas mesmas, dar mais liberdade as pessoas. Deve ser triste ver um pensamento que pensava a liberdade criando um grupo ainda mais fechado.

                O que é difícil é deixar toda essa disputa de lado e ser simplesmente quem tu acha que deve ser, sem pressões sociais, sem uma necessidade de aceitação perante um grupo. Seja Cristão, seja Ateu, seja Feminista, vegetariano, gay ou qualquer coisa do tipo. É difícil ser sem a necessidade de se autoafirmação perante outros, ou uma provação pessoal. É difícil conseguir entender que as outras pessoas são diferentes e podem não concordar com o que tu acreditas, e mesmo assim aceitá-las. É difícil, mas as recompensas são muitas. Se “ser” ateu, religioso, agnóstico, vegetariano, socialista, etc. te mostra como é belo o mundo lá fora, ser “você mesmo” te mostra como é bela a pessoa que tu és.

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Eu estou a muito tempo sem escrever no blog. Peço desculpas por isso. Mas não posso prometer nada. Talvez seja porque minha mente esteja uma confusão assim como a de muitas pessoas. Tenho ideias para escrever, mas me faltam palavras para conseguir finalizar os textos, talvez seja por uma falta de tempo provocada pela minha própria desorganização. Pera ai!  – As vezes, quando eu escrevo isso parece que esse blog tem um alcance muito maior do que realmente tem. – Mas talvez não seja nem a quantidade dos leitores, talvez seja o fato de que escrever essas linhas, com a certeza de que pelo menos uma pessoa irá ler me faz ter a vontade de voltar aqui. Talvez seja pela minha ideia de leitor, onde quando eu escrevo acado travando um diálogo mental contigo, leitor.

Mas o que estou falando? Enrolando, de certo. Muito embora o tema desse texto seja justamente o de um desabafo! Posso falar o que eu quiser. (Será que pelo título as pessoas irão realmente ler este texto?). Ah é, para quem não é meu stalker o suficiente, eu, o autor, sou um estudante de filosofia em seu último ano do curso. E a filosofia mudou minha vida e forma de pensar, e muda a cada dia. Mas porque desabafo? Ora, por muitas coisas.

Era uma vez uma aula de filosofia, onde um movimento de estudantes invadiu a aula, e começou a falar aquelas besteiras que todos os movimentos de estudantes com ideologia de esquerda falam (mas que não sabem o que é realmente a esquerda). Besteiras sim! Os caras tinham como ideal tornar a universidade uma espécie de democracia, onde os alunos poderiam votar para reitor e ter acesso as informações sobre o modelo estratégico da universidade (não consigo imaginar um ser humano que consiga pensar que isso seja uma boa ideia, e não seja um completo peão de um jogo muito maior que ele). Nessa aula eu acabei não me calando e discuti um pouco, e, como sempre, ninguém se convenceu de nada.

Mas o mais interessante é que a professora falou uma coisa que me impactou muito, de que o estudante de filosofia acaba se fechando muito em si mesmo, e fica a parte dos movimentos estudantis, movimentos sociais. O que de fato acontece, acabamos ficando céticos demais, descrentes de muitos desses movimentos. MAS PORRA! O que tu vai esperar de um bando de pessoas que passa o curso inteiro em dúvida sobre se realidade é a realidade de fato, que não sabem nem quem são, e que na verdade tudo pode não passar de um grande sonho, ou de um mundo criado pela nossa cabeça. Estudamos fenomeologia simplesmente para sabermos que não temos acesso as coisas em si, e o que percebemos do mundo está em nossa cabeça (sim, eu sei que a filosofia da consciência já está, de certa forma, superada). Sim, o mundo acaba estando todo na nossa cabeça, afinal, a única experiência primária é a experiência da psiquê. Cheguei a conclusão que normalmente o estudante de filosofia que não se fechou em si mesmo é porque não está tão avançado no curso, ou porque não compreendeu de fato todas as dúvidas da filosofia (não pensa filosoficamente de fato, apenas é um repetidor de frases), mas talvez ele também possa não ligar para todos esses problemas.

Isso até não chega a ser tão revoltante. O que mais me irrita dentro desse mundo da filosofia, são páginas montadas por esses mesmos ignorantes, que incapazes de conseguir entender a ideia de um autor, ou até mesmo desenvolver um pensamento próprio, mascaram a si mesmos. Filósofos obscenos, Filósofos anônimos, frase disso, frase daquilo e tantas outras páginas que se apropriam do pensamento de um autor e o distorcem de tal modo a dar uma comicidade a ele, ou de passar uma mensagem totalmente diferente. Ok, querem fazer uma piadinha. Bla, bla, bla falso moralista sem senso de humor. Pois enfie esse humor regado a zoeira em seu orifício anal, vulgo cu.

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Filosofia pressupõe toda uma atitude perante o mundo, perante a si mesmo. Uma forma de pensar diferente. E não apenas frases soltas que parecem um pouco profundas. Falar de filosofia é algo que pode ser muito fácil como muito difícil. Mas requer que alguém abstraia, vá além. Pois senão serão meras palavras, palavras frias e sem um significado que apenas impressionam aqueles que tem preguiça até de pensar.

O pior é que esse vírus da simplicidade. Da corrente de pensamento padrão infecta todos os meios acadêmicos. Sejam páginas, ou grupos de discussões de filosofia. Existe uma ideologia corrente, seja ela esquerda ou direita, seja vegetarianismo, feminismo… o que for. E tu não pode debater fora desse campo. Se alguém for em um diretório acadêmico de filosofia (ou qualquer outro curso de humanas) e defender posições contrárias as ideologias aceitas naquele grupo, essa pessoas será massacrada! O diálogo dentro da filosofia se fechou. E graças a esses grupos ideológicos dominantes, pessoas que pensam diferente ou devem se adaptar, ou ficam excluídas.

A filosofia se fecha em si mesma porque tem medo de crítica, acaba tendo medo do novo. E nesse fechar-se em si mesma, acaba ficando em uma grande masturbação mental, no qual egos são acariciados, e críticas superficiais são disparadas a todos os lados. E eu, como pessoa que pretende entrar nesse mundo fico desanimado. É uma merda, não tem definição melhor. Uma merda. Onde os medíocres, por serem maioria são os que tem mais voz. Agora deu para entender porque Nietzsche tacou o foda-se e tentou destruir o que era a filosofia da época dele. Infelizmente, até Nietzsche, hoje, se tornou um dogma.

Em resumo. Esse mundo da filosofia está uma merda. Ninguém sabe o que é filosofia de fato, nem eu. O que mais tem por ai é gente achando que sabe algo, e falando de coisas que desconhece.

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Nota Inicial: A primeira parte deste texto é na verdade uma grande paráfrase do primeiro capítulo dolivro de um de meus professores. Tal livro foi o que me inspirou a entrar na filosofia. Eu não utilizei de citações diretas ou indiretas para não poluir o texto. Ao final poderão achar as referências para o livro, apesar de eu achar que é impossível acharem ele a venda.

Segunda nota: Essa é uma crítica apenas as pessoas que seguem suas ideologias de forma radical, não a todas as ideologias em sua totalidade. Saiba a diferença.

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Viver é algo imprevisível. Se existe um fato ou uma verdade essa é a questão mais próxima que podemos chegar a disso. Nunca sabemos o que irá acontecer no momento seguinte até que ele chegue. Podemos fazer previsões, mas nunca saberemos se elas irão se realizar. Podemos planejar uma viajem, mas não sabemos como estará a situação no dia seguinte, pode acabar a gasolina do carro, pode chover, você pode ficar doente, algum parente pode morrer, um meteoro pode cair em sua casa… enfim, uma infinidade de possibilidades. Mas digamos que tudo esteja certo para que a viajem vá acontecer, você pode simplesmente mudar de ideia, e seus planos passarão para não ir mais.

Mas mesmo em meio a esse caos de possibilidades o ser humano ainda procura determinar um ritmo para suas vidas, as horas, as estações, os anos, a economia, o ensino, as classes sociais… Essa ordem em que vivemos é apenas uma tentativa desesperada de organizar o caos que é nossa vida. Para fugir desse caos, da possibilidade de morte a cada segundo, nós planejamos. Procuramos prever e nos antecipar da melhor forma possível, pensamos no futuro e o tentamos organizá-lo. E isso pode ser muito perigoso, pode acontecer de alguns seres humanos tentarem controlar esse caos, tentarem criar o ritmo perfeito.

Parece que certas pessoas possuem a utopia do mundo perfeito (perfeito segundo suas concepções). Essas pessoas acabam buscando o poder, poder para controlar o caos. E uma vez que não é possível controlar a vida em si eles procuram controlar a única coisa que está ao alcance deles, ou seja, a vontade humana. Controlando a educação, o conhecimento e a liberdade eles irão controlar uma parte importante do caos: o ser humano. Já que é difícil controlar todo o resto, é só retirar a liberdade, a opinião e o ponto de vista contraditório. Mas a democracia deve existir, a liberdade deve permanecer.

Sem o caos não existe vida, não existe a liberdade. Essas pessoas que buscam o poder podem pensar que ao controlar a sociedade estarão fazendo um bem a ela, mas estão enganados, pois o que resta ao ser humano se sua liberdade for retirada?– Fim da paráfrase – E o que acontece atualmente é justamente essa busca por poder por muitos radicais em suas ideologias, como feministas,veganos, ateus e esquerdistas. Eles buscam o poder para mudar e controlar a vontade humana.

Tomemos o exemplo das feministas radicais, dos veganos, ateus, esquerdistas, ativistas do PT, ou qualquer outro grupo que tente impor sua vontade perante os outros. Muitos desses grupos já mostraram que estão dispostos a fazer de tudo para conseguir esse poder sobre as vontades humanas, até mesmo “jogar sujo”. Imagine um mundo onde tu não possa escolher mais o que vestir, o que comer, o que ouvir, comprar, ou o que irá fazer durante a tarde. O problema é que eles utilizam a estratégia de eliminar qualquer tentativa de oposição as suas ideias. Quem vai contra eles está errado, é considerado o vilão. Eles tomam toda a crítica as suas ideias como críticas pessoais.

A busca pelo poder é um veneno. Quando essas pessoas o provam procuram sempre mais. A democracia, mesmo que frágil deve permanecer, as pessoas ainda devem ter sua liberdade. Por mais que tais ideologias acreditem, os seres humanos não precisam de um pastor. Eles precisam sim de normas de conduta, uma moral e uma cultura. Mas não são crianças para que sempre tenham que depender de alguém. Se essas ideologias realmente quisessem indivíduos capazes de fazer suas próprias escolhas, não procurariam tanto assim limitar as ações humanas.

Referência:

LARENTIS, Milton. A vida das Idéias. Experimentos 1988-2008. Bauru: Canal 6, 2008.

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Afinal, existe um certo e um errado? E o belo e o feio, existem? Será até mesmo que o bem e o mal podem ser julgados? Em uma era onde a relatividade afetou o estado do que é possível conhecer, será que poderemos chegar a uma verdade absoluta? A resposta para isto é que não existe uma verdade absoluta, apenas um modelo para se chegar a uma certeza ou construir o conhecimento limitado, que não consegue compreender toda a realidade. Existem muitas formas de chegar até ele, e dentro dos parâmetros usados esse conhecimento será válido, mas não será absoluto.

Esses parâmetros podem ser entendidos de duas formas, a primeira é o método científico, ou o conjunto de regras que uma área da ciência utiliza para julgar um conhecimento novo como válido ou não. Esse parâmetro muda de área para área (a forma como um físico conduz suas pesquisas é muito diferente da de um biólogo). E a segunda forma, mais popular, é através de uma ideologia. Mas o que é essa tal de ideologia? A ideologia como foi definida por Antonio Gramsci é dividida em três níveis: filosófico, comunicional e senso comum.

Uma ideologia surge a partir de um trabalho teórico de algum estudioso (Marx por exemplo). O problema é que esse conhecimento é muito complexo para as classes sociais mais baixas, ou pessoas que não estão no meio. Dessa forma, alguma estrutura social como a mídia, militantes, chatos de facebook, etc… Tratam de entender esse conhecimento, simplificá-lo, e passá-lo adiante. Em uma sequência de releituras o conhecimento original distorce e simplifica até entrar no senso comum. Quando ele entra no senso comum vira um comum acordo entre as pessoas. Tomemos o voto feminino como exemplo. Ele surgiu a partir de movimentos teóricos e aos poucos foi se disseminando pela população, hoje ele é aceito por praticamente todos, não é mais questionado.

Dessa forma, podemos entender que a ideologia, para Gramsci, em última instância é o conjunto de ideias e práticas que algum grupo usa para explicar e entender o mundo, e dele produzir um novo conhecimento. É impossível ser neutro a todas as ideologias, mas em uma época em que o conhecimento é relativizado chega a ser impossível explicar e entender o mundo com apenas alguma ideologia. Por isso que muitas pessoas que seguem apenas uma acabam sendo muito chatas, pois elas acabam com uma percepção da realidade limitada apenas a poucos fatores.

É incrível como ideologias fazem com que feministas, esquerdistas, vegans, ateus, religiosos (todos que são extremistas) tenham a certeza de estarem certos, e o mundo todo está ou errado, ou contra eles. Parecem tratar as pessoas ao seu redor como: se não está a meu favor está contra mim. A questão é: Se alguém acha que conhece e segue uma verdade absoluta, essa pessoa só pode ter se alienado perante uma grande parte de sua realidade.

No final não existe certo e errado, ou bom e ruim. São apenas pontos de vista. Como disse Nietzsche, não existem fatos, apenas interpretações. Cada um percebe a realidade da sua própria forma. Não existem dois seres humanos com pontos de vista exatamente iguais e que percebam o mundo exatamente da mesma forma. Obrigar pessoas a concordarem contigo por seja lá qual for o motivo é simplesmente estupidez. Mais do que isso, é uma tentativa de passar a tua alienação para outras pessoas.

Não podemos julgar que alguma coisa seja boa para a maioria, pois somos incapazes de prever as consequências em longo prazo. Não podemos dizer o que é melhor para a sociedade. Grandes atrocidades já foram cometidas pelo “bem maior”. Todos os grandes ditadores da terra acreditavam estar fazendo um bem para a sua população. Nenhum deles se via como uma má pessoa. Al Capone, que chegou as ser considerado inimigo público número um dos Estados Unidos, disse que não entendia porque era odiado uma vez que ele provia diversão para a sociedade. TwoGun, um pistoleiro também dos Estados Unidos escreveu em uma carta (antes de morrer em um tiroteio contra a política) que possuía um coração cansado incapaz de ferir o mais indefeso dos animais. Esse mesmo assassino foi capaz de matar um policial a sangue frio quando o parou em uma estrada.

Ninguém consegue perceber a si mesmo como o vilão. Para nós todos somos os heróis, todos fazemos o melhor para as pessoas ao nosso redor. A mente humana é capaz de adaptar e modificar informações para que elas sejam aceitas para nossos valores, para a ideologia em que acreditamos. Enquanto um ateu vê a religião como algo ruim, um religioso vê em sua religião como a única coisa que pode ajudar a sociedade. Mas quem realmente está certo? Não somos capazes de dizer. Apenas interpretamos a realidade da nossa forma para julgar um certo e errado que é mais aceito por nossa cultura.

O que chega a ser engraçado é que quanto mais tu acreditar em tua crença, mais tu acabarás fazendo o contrário dela, e sem perceber. Um homem que é contra a pornografia pode começar a assistir todos os tipos com a justificativa de que ele precisa aprender mais sobre ela. Um Ateu pode começar a discriminar religiosos, justo quando ele mais reclama da discriminação por crença. Se existe uma forma de evitar isso, é não ser tão extremista em suas convicções, ou ideologias. A melhor forma é ao menos tentar entender a forma como as outras pessoas percebem o mundo, e ter em mente que tudo muda, até mesmo ideias.

Para uma convivência em sociedade se faz necessária a tolerância. Não existe uma verdade que sirva para todas as pessoas, não existe apenas uma forma de ajudar as pessoas. Não existe um bem supremo que ajude a todos. Fazer com que pessoas sejam obrigadas a certas atitudes é remover a liberdade humana, e não queremos outra ditadura. O melhor é procurar entender o outro lado e aproveitar o que ele tem de bom, quem sabe assim dessa forma possa existir um diálogo, e não uma discussão. Viver é estar mergulhado em caos, e desse caos não existe apenas uma ordem.

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Nota final: Esse texto surgiu de uma sugestão de uma leitora. Caso tenham sugestões de tópicos para que eu escreva, podem sugerir! Mesmo que eu possa demorar para escrever, adoro receber esse tipo de feedback.

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Tive que dar uma pausa em todos os trabalhos que tenho que fazer para escrever esse texto.

É incrível como muitos ateus defendem a ideia de que o Brasil deveria ser um “estado laico”. Defendem essa ideia como se fosse uma verdadeira religião. Como se o Brasil se tornando “laico” resolveria todos os problemas da sociedade. A cura do câncer seria descoberta, e entraríamos em uma nova era de paz e harmonia que duraria 200 anos com finalmente uma sociedade racional o bastante para não acreditar mais em Deus. Mas pera ai? Tem algo de errado nisso tudo, e ironias a parte, o erro é achar que um estado laico é aquele estado que nega todo o tipo de religião.

Mas o que é esse tal de estado laico? Não é nada mais do que uma forma de governo onde a Religião é separada das decisões políticas, e as decisões políticas são separadas da religião. Onde o poder é separado da religião. É tão simples! Mas é incrível como tantas pessoas não conseguem entender essa simples divisão. A definição mais vulgar que posso encontrar para definir a laicidade do estado é aquele estado que está “cagando e andando para as manifestações religiosas”.

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Dentro de um estado laico uma pessoa possui a liberdade para expressar sua fé ou não-fé da forma que bem entender sem alguém a impedir de fazer isso. Os crentes podem continuar gritando em suas igrejas, os católicos podem continuar com suas missas e feriados, e os ateus podem continuar a xingar as religiões no facebook e no twitter. Mas isso tudo somente acontece porque é permitido pelo estado. Se tivéssemos um estado cristão, quem professasse uma fé diferente da aceita seria preso ou qualquer coisa do tipo.

Mas o que é esse tal de estado? Utilizando-me da definição moderna pela ciência política, o Estado é a reunião do Território, do povo, e do poder (político). E indo mais além, o poder está dividido em três, o legislativo, judiciário e executivo (sendo o executivo o que concentra mais poder político). Ou seja, tudo é o estado.

Um estado laico não pode ser um estado Ateu, pois dessa forma todas as formas de expressão religiosa estariam proibidas. Elas não seriam permitidas e o estado iria fomentar o ateísmo. Que é apenas uma forma de crer particular dentre tantas outras. Um estado Ateu destruiria toda a liberdade religiosa que a sociedade lutou tanto para conseguir.

Dentro dessa perspectiva começam questões como os crucifixos nas escolas públicas ou o “Deus seja louvado” nas notas de real, dizem que tais formas de se professar a fé destroem a laicidade do nosso amado Brasil. Dizem que devemos retirar todas as formas de expressão de fé das vias públicas. Mas lembro a vocês, o que é um estado laico? Um estado que defende todas as formas de expressão religiosa, sejam elas públicas ou não. Interferir nessas manifestações é justamente interferir no estado laico tão desejado.

As notas de real (que são a discussão do momento), são uma expressão de fé descolada do poder político. Uma vez que elas são apenas a moeda. Tanto faz se tem uma imagem de Deus nelas ou de um cachorro cagando, o valor simbólico que possuem será o mesmo. Elas continuarão a ser o dinheiro.

O problema dessa questão, é que procurar tirar o “Deus seja louvado” das notas justamente vai contra o que todos procuram. Defender um estado Laico seria defender que a nota continue igual, defender o estado laico é defender a possibilidade de todos expressarem sua fé. O que os ateus que se manifestam a favor do estado laico estão fazendo é justamente o contrário. Estão querendo destruir esse nosso princípio e transformar o Brasil em um estado Ateu.

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Introdução

 

  Estive estudando um autor muito fascinante nos últimos tempos. Seu nome é Carl Jung. Ele tem formação em psiquiatria, e foi o maior discípulo de Freud (apesar de que a grande obra de Jung começou depois do rompimento com Freud). Mas apesar de ele ser um psiquiatra, suas obras são muito mais estudadas por filósofos. Isso se deve ao fato de que as idéias de Jung são muito mais baseadas na filosofia, e tem um alto nível filosófico. Ele possuiu uma teoria sobre a construção do ser humano e da sociedade que é realmente fascinante. E mais do que isso, que possui validade científica.

  Com isso dito, o objetivo desta série de textos é trabalhar um dos conceitos principais de Jung, o de individuação. O tornar-se um indivíduo único.  E talvez mostrar que uma pessoa realmente pode ser um indivíduo único com suas próprias peculiaridades, com seus próprios desejos, e que se conhece muito mais do que normalmente podemos nos conhecer.

  Motivei-me a pensar sobre essa série (série, pois tudo de uma vez criaria um texto muito longo) depois de muita reflexão, depois de uma conversa ótima sobre “quem somos”, e também depois de ouvir pessoas falando que o ser humano perdeu seu potencial devido ao “sistema” ou a “sociedade capitalista”. Besteiras do tipo. A questão central aqui é entender o que é “ser único” e como podemos chegar a esse ponto.

 

Conversa com os leitores

 

  Antes de começar o texto propriamente dito quero dizer que estou escrevendo esta série de textos para você leitor. Esse texto é dedicado a todas as pessoas que leram o meu blog ou que virão a ler. Diferente dos meus últimos textos. Esse eu sei muito bem para quem eu escrevo. É para você! É para todos nós. E por isso seria muito legal poder ouvir a opinião de meus leitores a respeito desse assunto. Até porque assim saberei como desenvolver os próximos textos. Façam perguntas sobre o que não entenderem, ou simplesmente respondam as perguntas que deixarei. Ficarei muito contente em saber o que estão achando de tudo isso que escrevo.

 

O problema do sistema. O discurso da Alienação.

 

  O sistema social é sempre a culpa central de não podermos ser quem nós realmente somos. Afinal, é culpa da sociedade que esta é uma época difícil para sonhadores. Ou que esta seja uma época onde a produção de conhecimento está em decadência. Os seres humanos estão ficando cada vez mais burros. Nos prendemos em um sistema e não podemos mais ser livres como desejaríamos. Não podemos mais sermos nós mesmos. Não podemos mais fazer o que queremos. Temos que viver trabalhando em coisas que não gostamos. Logo, o ser humano está destinado a viver conforme padrões, e por isso se torna cada vez menos humano, menos ele mesmo.

  Este é um discurso amplamente aceito nas redes sociais. Afinal, por causa dessa “sociedade” não podemos sempre fazer o que desejamos. Só que a facilidade da aceitação desse discurso está mais embaixo. Esse discurso é aceito porque gostamos de nossa preguiça, gostamos de poder justificar nossas incapacidades em outras coisas. Em resumo, não gostamos de assumir a responsabilidade de nossas falhas. Não queremos aceitar o fato de que nossa vida é como é por nossa causa.

  Dois grandes teóricos trabalharam essa questão. Eles são Nietzsche e Sartre. A crítica desses dois autores se dá no âmbito em que somos plenamente livres. Não existem padrões éticos que valem para todas as pessoas. Ou até mesmo que deveriam limitar as ações dos homens.

  Já tratei desse assunto em minha crítica à ética religiosa nesse texto:  Se Deus não Existe então tudo é permitido

  Para Sartre o ser humano é plenamente livre. Porém ter consciência de nossa liberdade gera angustia. Angustia pelo fato de que não podemos fazer tudo o que desejamos com nossa liberdade, e além disso, angustia por saber que a responsabilidade é inteiramente nossa. E por causa disso acabamos mentindo para nós mesmos. Mentimos que o sistema (criado por nós) controla nossas vidas. Que não podemos mudar, que não podemos fazer nada senão batalhar e nos adaptar ao mundo. Mentimos para nós mesmos afirmando que somos limitados. E que a culpa da nossa limitação nos é externa.

  Para Sartre essa mentira pode ser entendida como má-fé. A má-fé que faz com que nos escondemos atrás de qualquer outra coisa. Afirmamos que a responsabilidade é da religião, da sociedade, de nossos pais. Mas jamais conduzimos nossas vidas por nós mesmos, com o que realmente desejamos e assumimos plena responsabilidade por nossos atos.

  Para tornarmo-nos humanos únicos em nós mesmos precisamos nos livrar da má-fé. Precisamos aceitar que somos plenamente livres e acatar todas as responsabilidades por nossos atos.  Sejam eles conscientes ou não. Devemos ser livres para escolher, agir, e ser. Já somos isso, mas será que podemos aceitar esse fardo?

  Para você leitor, a sociedade parece estar pronta para ser livre? Talvez sim, ou talvez não. Mas sobre tu mesmo? Tu está pronto para aceitar a liberdade que possuiu e assumir plenas responsabilidades por tua vida? Essa é uma resposta que somente tu pode dar, e não precisa falar para todos, apenas para si. Compreender a liberdade é o primeiro passo para se tornar verdadeiramente único. Para ser tornar tu mesmo.

 

Ser diferente não é ser único.

 

  O advento das redes sociais possibilitou uma maior rede de comunicação. Podíamos conversar com as pessoas e ver como elas estavam, e saber sobre a vida delas. Poderia ser um grande avanço para podermos finalmente nos conectar com o mundo. Mas o feitiço virou-se contra o feiticeiro, e as redes sociais passaram a exibir um outro lado de seus usuários.

  Através de uma rede social é possível analisar o movimento de diversas sub-sociedades (tribos). Como conversam, como se comportam. E mais do que isso, pessoas passaram a se expor mais. Colocam mais de si em um espaço público. E o que uma vez te fazia sentir-se único, passou a ser uma coisa comum. Afinal, pela internet é muito mais fácil achar pessoas que se comportam de forma parecida, tem os mesmos gostos e desgostos. E tudo isso acabou fazendo pessoas perderem seu senso de indivíduo. Tu já não podia saber o que te tornava único(a), pois haviam muitas pessoas que eram muito parecidas entre as outras.

  Partindo desse ponto, criou-se um desejo em “ser diferente”. Jovens buscando aquilo que os tornavam diferentes daquela multidão de pessoas. Aquilo que os fariam se destacar na multidão. Criou-se uma grande necessidade de “ser ouvido”. As pessoas precisavam ser notadas, e esse desejo de ser notado foi aumentando cada vez mais até o ponto de postarem fotos do que se estava comendo em redes sociais. Todos querem ter uma voz, todos querem que suas opiniões sejam ouvidas, e todos querem se destacar, querem ser percebidos. Ok, não todos, mas uma grande quantidade de pessoas, e praticamente todas as pessoas que são heavy users  de facebook e afins.

  Com esse desejo de ser diferente, as pessoas passaram a buscar gostos diferentes dessa multidão de pessoas, gostos que as fizessem sentirem diferentes, especiais, e pertencentes a uma “elite”. E ai surgiram novos sub-grupos, e outros tornaram-se mais sólidos. Temos os otakus, roqueiros, from england, pseudo-cults, ateus, fãs de Pink Floyd… E todos procuram acreditar que seu gosto é o que os torna muito diferentes de uma multidão de pessoas que caminham pelas vias reais e virtuais todos os dias.

  Mas a verdade é que ser de um desses grupos, e compartilhar esses gostos não torna uma pessoa única, muito menos diferente. Um exemplo pode ser o fã de Pink Floyd que se acha único por gostar dessa banda incrível (sim, eu os adoro) mas que “ninguém mais gosta”, ou que seus fãs são muito raros. Só que Pink Floyd é conhecida como uma das banda de rock mais famosas de todos os tempos (junto com Bettles e afins), o Dark Side of the moon, foi e é um dos álbuns mais vendidos de todos os tempos. Muitas das grandes bandas se espelham em diversos momentos da carreira deles para compor novas músicas. A própria madona possui influências de Pink Floyd em algumas de suas músicas. E vocês ainda acham que ser fã de Pink Floyd os destaca da multidão? Sejamos sinceros, chute uma pedra virtual na internet que tu irá achar outros 5 fãs deles.

  Nota mental:  Eu usei os fãs de Pink Floyd, mas o exemplo deles pode ser utilizado para qualquer gosto. Seja ele de animes, de coisas britânicas. Coisas de Hipsters e tantos outros. Pela internet é muito fácil achar um grupo de pessoas com algum tipo de gosto peculiar ou que gostam de alguma coisa.

  A realidade é difícil. Mas se tu enquadrar quaisquer atitudes, quaisquer formas de se vestir, falar ou se comportar, e achar que elas te fazem diferente, que te destacam, tu está errado. Em todo o tipo de comportamento haverá pelo menos um grupo que também tem esse mesmo comportamento. O diferente é só mais uma convenção social. Mas esses diferentes são só mais um na multidão que procura tal diferencial. De tanto que tentam se tornar diferentes, acabam ficando iguais a todos os outros.

  Como lidar? Não querendo ser diferente. Não querendo ter uma voz. Mas sim querendo ser a “si-mesmo”. E não ter a necessidade de se mostrar para todas as outras pessoas. A questão é: Pessoas estão preparadas para simplesmente serem, e não querer mostrar quem são?

  

Como tornar-se único?

  

  O ser único é algo além, é sutil e é inteiramente individual. É o processo de compreender a si mesmo, e de compreender muitos dos seus desejos. Ser único não está nas grandes atitudes, mas sim nos pequenos detalhes e peculiaridades que jamais poderão ser transformados em palavras. Mais do que isso, é o propósito dessa série de textos. É mostrar como que uma pessoa se torna ela mesma. Como se dão todos esses processos dentro da filosofia, e da psicologia. Aliar-me-ei em Carl Jung, Epicuro, Kant e diversos outros autores.

  Vocês terão aqui, queridos leitores, uma obra de coração. Um presente para vocês, uma compilação de muitos de meus estudos, e meus sinceros desejos que lendo e refletindo sobre o que escrevo os possa tornar além de únicos, um pouco mais felizes.

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Na internet todo mundo é…

Na internet todo mundo é sábio.

Na internet todo mundo é filósofo.

Na internet todo mundo tem consciência política.

Na internet todo mundo tem algo a dizer.

Na internet todo mundo é irônico.

Na internet todo mundo é comediante.

Na internet todo mundo está preocupado com as pessoas ao seu redor.

Na internet todo mundo faz algo para o bem da humanidade.

Na internet todo mundo é ético e tem profundos conhecimentos sobre o bem e o mal.

Na internet todo mundo é crítico literário, musical e artístico.

Na internet todo mundo expressa o seu melhor.

Na internet todos somos melhores.

Na internet ninguém está errado.

Na internet todos somos, mas ninguém é.

Na internet somos tantas coisas que esquecemos de ser simplesmente nós mesmos.

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E para você, o que todos somos na internet?

 

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Se Deus não existe então tudo é permitido – Dostoievski

 

Começo esse texto com uma célebre paráfrase usada por Dostoievski (um grande religioso) sobre a relação que Deus possui com a liberdade humana. Mas antes de adentrar nesse assunto com maior profundidade preciso dizer que a cada novo texto de filosofia que leio, a cada novo filósofo que estudo, a cada dia que passo com um livro em mãos eu acabo chegando a uma conclusão terrível: Que a não-existência de um Deus é muito mais provável do que sua existência. Acima disso, esse assunto está cada vez me trazendo um profundo desinteresse. Até porque, após tomar uma posição de dúvida é muito complicado encontrar um argumento que confirme a existência e a não-existência de um ser divino.

Essas questões são levantadas quando tomamos assuntos como a liberdade, a psicanálise, a ética e a teoria do conhecimento (dentre outras).  Mas antes preciso deixar em evidência o que é esse Deus que estou falando. É a ideia de um ser onipotente, onipresente, e onisciente. A ideia de um Deus corpóreo, seja ele a ideia judaico-cristã, muçulmana  ou os deuses das mais diversas mitologias como Zeus, Odin, Horus dentre todos os outros. A ideia desse deus é de um Ser (seja ele com características humanas ou não) que possa atuar e interferir no nosso mundo. Além da ideia de um Deus criador.

Mas agora vamos tomar como ponto de partida a nossa frase inicial. Muitos religiosos argumentam que a religião é a unica coisa capaz de dar preceitos éticos e morais. Se não existe Deus, não existiria a ideia do bem e do mal. Não existiria nada que daria limites aos seres humanos. Viveríamos na mais completa anarquia, onde, mesmo limitados por leis, tudo ainda seria permitido. Porém, esse não é o ponto em que Dostoievski pretende chegar ao utilizar essa paráfrase atribuída aos irmãos Karamazov. A questão é que sem Deus a liberdade é plena, seriamos então, completamente responsáveis por nossos atos e por tudo que está acontecendo em nossa vida. Não existe mais essa de que a culpa é de Deus, ou as coisas aconteceram porque Deus desejou que fosse assim.

Nietzsche é um grande expoente nessa situação ao usar sua célebre frase “Deus está morto e nós o matamos” (Gaia ciência aforismo 125).  Para Nietzsche o ser humano precisa se tornar senhor de suas próprias ações e se tornar completamente responsável por sua vida. Precisa se libertar de suas dependências. Precisa assumir todas responsabilidades, e não depender de mais ninguém, além dele mesmo. É claro que essa perspectiva é um pouco assustadora, afinal “a culpa dessas coisas ruins em minha vida e de meu sofrimento é completamente minha”, e não são todas as pessoas capazes de assumir plenas responsabilidades por sua vida. Diria Nietzsche, ser um Super-homem é para poucos. É muito mais fácil colocar a responsabilidade em Deus ou em qualquer outra coisa.

A morte de Deus se dá muito mais nessa questão simbólica de Deus, onde ele deixa de atuar como aquele que define o destino das pessoas, bem como o regente moral da sociedade (até porque para Nietzsche Deus nunca existiu de verdade). Esse ser se torna em nada, está morto. E para a sociedade européia da época nada representou senão um resto de algo que já foi, mas que não valia nada. A sociedade não dependia mais de Deus para saber o que era certo e o que era errado, e não estava mais limitada por um Deus para fazer o que bem entendesse e fosse capaz de assumir as plenas responsabilidades.

Quem  desenvolveu mais essas ideias foi Sartre que disse que somos seres condenados a sermos livres. De tudo o que somos como seres humanos somos livres e temos plena responsabilidade por aquilo que fazemos. Se uma pessoa nega sua liberdade, isso ainda é um ato livre, pois tu escolhe não o ser. Tua liberdade é tua prisão. E porque o ser humano é plenamente livre e responsável por suas ações, responsabilizar um Deus por algo que tu fizeste é apenas uma atitude de má-fé (ver nota no final do texto para um resumo da má-fé). O ser humano é responsável por si e pelos outros. Se o mundo está da forma que está, a responsabilidade é tua, é minha, é de todos nós. É da humanidade e de mais ninguém. E se não fizermos nada para mudar, a responsabilidade continuará sendo nossa, diria Sartre.

A liberdade é um tema radicalmente ligado à religião. Mas por mais que as pessoas procurem responsabilizar Deus pelas ações humanas, por mais que a religião procure restringir a liberdade, escolher não fazer algo ainda é uma escolha e somos responsáveis por ela. Somos livres e podemos fazer o que quisermos, nada nos impede disso. Mas também devemos arcar com as responsabilidades. Se Deus não existe então tudo é permitido. E como Deus não existe, tudo é permitido. Mas além disso são duas coisas que quero deixar aos meus leitores. A questão de que somos plenamente responsáveis por quem somos e quem seremos. E a dúvida. Afinal, jamais poderemos saber se Deus existe ou não, mas podemos nos livrar dessa ilusão de que não somos livres! Devemos agir por nós mesmos, somos responsáveis por nossas ações, e não Deus.

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A má-fé de forma resumida é uma mentira a ti mesmo e as outras pessoas. É mentir sobre ser responsável pelas próprias atitudes. Deixar a escolha da liberdade para outra pessoa ou entidade. É deixar que a religião, os pais, o país escolha como tu deve agir e usar a tua liberdade. É claro que é algo que vai muito além, mas de forma resumida é isso.

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O que é a marcha das vadias? Em linhas gerais, o protesto se baseia no direito das mulheres serem chamadas de vadias sem uma conotação pejorativa. Ou, além disso, um movimento que protesta contra a crença de que as mulheres que são vítimas de estupro pediram por isso devido as suas vestimentas. O movimento começou dia 3 de abril de 2011 em Toronto. Dias depois  do oficial de polícia Michael Sanguinetti fazer uma observação para que “as mulheres evitassem se vestirem como vadias, para não serem vítimas”. E isso irritou muito as feministas, que acharam o pronunciamento algo muito “machista”.

Para entendermos essa questão mais afundo precisamos entender o feminismo moderno (ou pós-moderno como preferirem chamar) que é diferente do feminismo original. O Feminismo moderno prega a igualdade de gêneros. A teoria dos gêneros afirma que a sexualidade não é nada mais do que construção feita por nossa sociedade. Ou seja, tu não és homem ou mulher porque nasceu com um pinto ou uma vagina, mas porque a sociedade te fez homem ou mulher. Um homem seria um homem porque foi educado como um, vestia roupas “de homem” brincava como homem, etc. O mesmo vale para a mulher. Biologia, DNA, teoria da evolução, medicina, etc. Tudo foi ignorado, claro.

A teoria dos gêneros tem um furo muito grande pois percebe o ser humano como uma máquina, e não como algo biológico. Ela não considera o fato de que homens possuem aproximadamente 20% a mais de massa muscular (não tenho certeza desse valor, mas sei que é algo por volta dos 20%). Ela não considera que psicologicamente mulheres tem mais facilidade em fazer várias coisas ao mesmo tempo, e homens tem um pensamento mais lógico e sequencial. Tudo isso foi deixado de lado. E com base nessa teoria dos gêneros as feministas modernas afirmam que homens e mulheres podem ser iguais em tudo. O que obviamente não é verdade.

Por outro lado, o feminismo antigo combatia a superioridade masculina, porém, levava em conta que homens e mulheres eram diferentes, essas feministas apenas não queriam ser inferiores ao homem, o que acredito ser uma causa muito nobre, mas já muito esquecida. Esse feminismo pregava que perante o juiz, homens e mulheres possuiriam os mesmo direitos e deveres na medida de suas limitações. E por isso hoje as mulheres se aposentam mais cedo, possuem licença maternidade, podem servir ao exército de forma opcional, e tantas outras coisas.

Se o feminismo moderno fosse realmente íntegro com seus princípios, não deveria haver nenhuma diferença legal entre homens e mulheres. Porém, as questões dessas “feministas” param quando começam a ferir seus interesses, interessante, não?

Mas o que a marcha das vadias tem a ver com tudo isso? Lembramos que em primeiro lugar elas reivindicam o direito de se vestirem como vadias e não sofrerem nenhum tipo de abuso. Em segundo lugar todas aquelas outras besteiras que percebemos nas placas que escrevem. Sim, este ano a marcha das vadias brasileira também protestou contra a Medida Provisória nº 557/2011.¹ Porém, leigos ao movimento, não conseguiram perceber isso, porque placas com “minha vagina é o poder” se destacavam mais.

Um motivo muito nobre para se protestar!

A marcha das vadias ignora dois conceitos muito importantes, a liberdade, e a natureza humana. Eu sei, Marx e sua turma afirmam que a natureza humana não existe. Sem entrar em seus méritos ou não, e focando apenas na natureza humana, poderemos perceber que ela existe, e ela está mais para Hobbes do que para Rousseau. O Homem é o Lobo do homem. O estado de natureza humano é destrutivo, as pessoas são más por natureza, se agirmos por nossos instintos (paixões) acabaremos cometendo o mal. Como Aristóteles explica na Ética Nicomaqueia, as paixões levam para o caminho contrário das virtudes, ou seja, o mal.

Já a liberdade é uma questão mais complexa. Usando como um referencial a Liberdade em Epicuro, e após em Lima Vaz, constatamos que o ser humano é livre para-si, mas não para o outro. A liberdade de um indivíduo age somente sobre esse indivíduo. Dessa forma, podemos ter um controle somente sobre os nossos atos, mas não um controle sobre os atos das outras pessoas. Tu só tem a capacidade de controlar o teu corpo, mas nada além dele.

Em contrapartida, a marcha das vadias defende a liberdade de se fazer algo que está no campo do outro. Ou seja, tu colocas a responsabilidade no outro, e não em si. A mulher tem a mais completa liberdade de se vestir da forma que quiser, mas ela não terá como controlar as ações que causarão nos homens ao seu redor. E sabendo que o homem é mal, e age por instinto, podemos saber o que poderá acontecer. Um homem bêbado não irá controlar as suas ações, o máximo que uma mulher pode fazer é se prevenir. Por isso que “não nos ensine como vestir, ensine eles a não estuprar” nunca vai dar certo. Porque é impossível ensinar a todos “eles”.

A reivindicação a nível legal das feministas modernas é que elas querem que o estado seja capaz de prever o futuro, fazendo uma viagem no tempo e prender o estuprador antes que o estupro acontecesse. Essa marcha não passa de um sonho utópico por algumas mulheres querendo mais direitos do que podem ter. A marcha das vadias nos mostra que a maioria das mulheres, nunca estarão contentes, não importa o que se faça, ou que direito elas tenham.

 Chateada =/

¹ A MP, editada pelo Governo Dilma em 26 de dezembro de 2011, visava instituir o cadastro compulsório das gestantes para garantir a saúde da mulher e do nascituro. Além disso, ela previa o pagamento de um auxílio-transporte ao pré-natal, no valor de R$ 50.

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