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Posts Tagged ‘Porfírio’

Texto escrito em parceria com @pequenasophia

 

O problema dos universais, de certo ponto de vista, existe desde o tempo dos pré-socráticos, porém somente em Platão o mesmo passou a apresentar uma estrutura coerente de pensamento, representada pela teoria das ideias. A categorização do conhecimento em uma parte sensível e outra inteligível abriu uma porta por onde vários filósofos posteriores vieram a passar.

Para que conheçamos algo, é necessário que este algo seja “captado” por nós através da experiência sensível, porém somente estes dados não são suficientes para que sejamos capazes de discernir sobre o que se trata o objeto em sí. Para que identifiquemos o objeto, precisamos de conceitos. Um conceito é uma representação abstrata deste algo, extraída através da experiência sensível, que possui um caráter geral e universal, se tornando um termo comum a muitos singulares, porém sem designar nenhum em particular.

A problematização da chamada “Querela dos Universais” começa com Porfírio, no prefácio da sua “Isagoge”, onde ele questiona a posição Aristotélica perante a Platônica, sobre o fato de se, os assim chamados universais, são realidades inatas ou apenas abstrações de nossa mente.

Uma coisa fica aparentemente clara, esse problema está ligado às seguintes questões: o que é possível sentir e o que é possível abstrair disso. Duas das faces mais exploradas do problema são as que dizem respeito aos campos teológico e/ou do cotidiano, em como seria possível definir o que era “Homem” ou um “Animal”, até mesmo qual seria o conceito de “cadeira” e se essa ideia perfeita de uma cadeira existia em algum lugar ou seria apenas um nome em nosso intelecto.

A grande questão é que além de coisas passíveis de serem sentidas, existem outros conceitos, tais como o Amor, o Poder, a Justiça e o Ódio, que não possuem um representante fenomenológico passível de ser captado diretamente pelos sentidos. Sua existência se dá apenas por conceitos. Será que existe um conceito verdadeiro dessas palavras abstratas, ou seriam apenas processos químicos que se desencadeiam em nosso cérebro, de modo a nos “enganar”?

O grande problema desses conceitos abstratos é que sem uma experiência sensível é quase impossível saber se eles realmente existem. Será que o conceito de amor foi apenas uma confusão sensorial com a paixão que se propagou desde a antiguidade? Será que a existência do poder seja falsa e existe uma outra força que rege as relações humanas hierárquicas?

Uma outra linha de pensamento dos universais se apresentava como o nominalismo(defendido por Roscelin de Compiègne). Afirmavam que a existência de conceitos universais não existia, que tudo não passava de palavras sem existêcia real. Que elas não passavam de um resultado da percepção particular das coisas. Ao mesmo tempo, esses conceitos abstratos como a justiça, por exemplo, não são passíveis de serem sentidos nem mesmo no campo particular, uma vez que ela muda dependendo do caso que a envolva.

O que é possível conhecer? Essa se torna a grande pergunta. Se limitarmos o que é possível conhecer somente aos nossos sentidos, muitos dos conceitos abstratos irão se perder. O conhecimento não está somente ligado aos nossos sentidos, e também não é ligado a apenas o que podemos perceber. O conceito de Amor, de Justiça pode não ser presenciável, mas ao mesmo tempo, a falta de evidências não prova a não-existência deles. Assim como Santo Anselmo provou Deus afirmando que a existência da palavra implicaria na existência da entidade, a existência de um conceito de Amor que se aproximaria da ideia perfeita sobre ele talvez demonstre que ele pode ser apresentado como existente. Mesmo tendo passado tanto tempo e com todo o avanço da ciência, a única certeza que podemos afirmar é aquela enunciada por Sócrates: “tudo que sei é que nada sei”.

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