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Há um lugar onde confusões deixaram de existir. Este local não existe apenas como uma memória. Também não é apenas mera imaginação. Ele se encontra por entre as palavras. Nos momentos de silêncio em que me lembro de seu olhar.

Existe um lugar, um algo sem nome, que eu não esperaria poder defini-lo senão pelas entrelinhas de seu rizo. Ele se cria através de seu sorriso, se propaga por seu abraço, e se concretiza em seu beijo. É lá, dentro daquele local sem confusões que foi-me dito que te amo. Eu sei que, por trás de sua face corada, algo me diz que não precisarei de outra pessoa senão você.

E se eu me perder em mim, se a confusão é tamanha já não preciso ir tão longe. Apenas penso em ti e já posso estar nesse local. Ora, o que mais eu precisaria além dessa lembrança, da forma como você ri, para ter certeza do que sinto?

Mesmo que a beleza de nossas memórias às vezes possa nos trair com a dureza da realidade. Algo em seu olhar me dirá que a realidade nunca é tão dura quanto parece. Você até pode me perguntar se é para sempre. Não sei, eu realmente não sei. Mas fique ao meu lado e iremos descobrir. De alguma forma gostaria de poder te dizer todas as coisas que existem em meu coração, mas, como poderia com palavras tão limitantes? Poderia então, ao menos tentar te mostrar esse lugar…

Sempre poderemos ir para lá. Um lugar onde não somos mais conhecidos. Ficaríamos sozinhos, esquecidos, para sentir essas coisas que tanto queremos; em nossa ingenuidade, permaneceríamos jovens, jovens para sempre…

Que outra Vitória eu poderia querer em minha vida senão você?

Eu estou a muito tempo sem escrever no blog. Peço desculpas por isso. Mas não posso prometer nada. Talvez seja porque minha mente esteja uma confusão assim como a de muitas pessoas. Tenho ideias para escrever, mas me faltam palavras para conseguir finalizar os textos, talvez seja por uma falta de tempo provocada pela minha própria desorganização. Pera ai!  – As vezes, quando eu escrevo isso parece que esse blog tem um alcance muito maior do que realmente tem. – Mas talvez não seja nem a quantidade dos leitores, talvez seja o fato de que escrever essas linhas, com a certeza de que pelo menos uma pessoa irá ler me faz ter a vontade de voltar aqui. Talvez seja pela minha ideia de leitor, onde quando eu escrevo acado travando um diálogo mental contigo, leitor.

Mas o que estou falando? Enrolando, de certo. Muito embora o tema desse texto seja justamente o de um desabafo! Posso falar o que eu quiser. (Será que pelo título as pessoas irão realmente ler este texto?). Ah é, para quem não é meu stalker o suficiente, eu, o autor, sou um estudante de filosofia em seu último ano do curso. E a filosofia mudou minha vida e forma de pensar, e muda a cada dia. Mas porque desabafo? Ora, por muitas coisas.

Era uma vez uma aula de filosofia, onde um movimento de estudantes invadiu a aula, e começou a falar aquelas besteiras que todos os movimentos de estudantes com ideologia de esquerda falam (mas que não sabem o que é realmente a esquerda). Besteiras sim! Os caras tinham como ideal tornar a universidade uma espécie de democracia, onde os alunos poderiam votar para reitor e ter acesso as informações sobre o modelo estratégico da universidade (não consigo imaginar um ser humano que consiga pensar que isso seja uma boa ideia, e não seja um completo peão de um jogo muito maior que ele). Nessa aula eu acabei não me calando e discuti um pouco, e, como sempre, ninguém se convenceu de nada.

Mas o mais interessante é que a professora falou uma coisa que me impactou muito, de que o estudante de filosofia acaba se fechando muito em si mesmo, e fica a parte dos movimentos estudantis, movimentos sociais. O que de fato acontece, acabamos ficando céticos demais, descrentes de muitos desses movimentos. MAS PORRA! O que tu vai esperar de um bando de pessoas que passa o curso inteiro em dúvida sobre se realidade é a realidade de fato, que não sabem nem quem são, e que na verdade tudo pode não passar de um grande sonho, ou de um mundo criado pela nossa cabeça. Estudamos fenomeologia simplesmente para sabermos que não temos acesso as coisas em si, e o que percebemos do mundo está em nossa cabeça (sim, eu sei que a filosofia da consciência já está, de certa forma, superada). Sim, o mundo acaba estando todo na nossa cabeça, afinal, a única experiência primária é a experiência da psiquê. Cheguei a conclusão que normalmente o estudante de filosofia que não se fechou em si mesmo é porque não está tão avançado no curso, ou porque não compreendeu de fato todas as dúvidas da filosofia (não pensa filosoficamente de fato, apenas é um repetidor de frases), mas talvez ele também possa não ligar para todos esses problemas.

Isso até não chega a ser tão revoltante. O que mais me irrita dentro desse mundo da filosofia, são páginas montadas por esses mesmos ignorantes, que incapazes de conseguir entender a ideia de um autor, ou até mesmo desenvolver um pensamento próprio, mascaram a si mesmos. Filósofos obscenos, Filósofos anônimos, frase disso, frase daquilo e tantas outras páginas que se apropriam do pensamento de um autor e o distorcem de tal modo a dar uma comicidade a ele, ou de passar uma mensagem totalmente diferente. Ok, querem fazer uma piadinha. Bla, bla, bla falso moralista sem senso de humor. Pois enfie esse humor regado a zoeira em seu orifício anal, vulgo cu.

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Filosofia pressupõe toda uma atitude perante o mundo, perante a si mesmo. Uma forma de pensar diferente. E não apenas frases soltas que parecem um pouco profundas. Falar de filosofia é algo que pode ser muito fácil como muito difícil. Mas requer que alguém abstraia, vá além. Pois senão serão meras palavras, palavras frias e sem um significado que apenas impressionam aqueles que tem preguiça até de pensar.

O pior é que esse vírus da simplicidade. Da corrente de pensamento padrão infecta todos os meios acadêmicos. Sejam páginas, ou grupos de discussões de filosofia. Existe uma ideologia corrente, seja ela esquerda ou direita, seja vegetarianismo, feminismo… o que for. E tu não pode debater fora desse campo. Se alguém for em um diretório acadêmico de filosofia (ou qualquer outro curso de humanas) e defender posições contrárias as ideologias aceitas naquele grupo, essa pessoas será massacrada! O diálogo dentro da filosofia se fechou. E graças a esses grupos ideológicos dominantes, pessoas que pensam diferente ou devem se adaptar, ou ficam excluídas.

A filosofia se fecha em si mesma porque tem medo de crítica, acaba tendo medo do novo. E nesse fechar-se em si mesma, acaba ficando em uma grande masturbação mental, no qual egos são acariciados, e críticas superficiais são disparadas a todos os lados. E eu, como pessoa que pretende entrar nesse mundo fico desanimado. É uma merda, não tem definição melhor. Uma merda. Onde os medíocres, por serem maioria são os que tem mais voz. Agora deu para entender porque Nietzsche tacou o foda-se e tentou destruir o que era a filosofia da época dele. Infelizmente, até Nietzsche, hoje, se tornou um dogma.

Em resumo. Esse mundo da filosofia está uma merda. Ninguém sabe o que é filosofia de fato, nem eu. O que mais tem por ai é gente achando que sabe algo, e falando de coisas que desconhece.

Permita-me te contar uma história.

Não é um conto, ou uma narrativa, mas sim a vida de um pensamento. Há um tempo atrás, logo depois da tragédia em Santa Maria (ou seria no dia da morte do chorão?) podiam ser vistas muitas manifestações de luto nas redes sociais, principalmente no facebook. Discussões sobre vida e morte aconteciam em alguns cantos. Outros procuravam criticar o falso luto só para chamar atenção. O que aconteceu por volta desses dias foi que eu acabei entrando em uma discussão sobre o “medo da morte”, as pessoas acabaram chegando a conclusão que era o desconhecido que assustava. Mas que desconhecido? O que é esse tal de desconhecido?

É claro que as discussões sobre morte pararam, elas saíram de pauta, e o medo (ou talvez a compreensão dele) foi esquecido. Foi deixado de lado para outro assunto em pauta? Não sei, Marco Feliciano? (alguém ainda se lembra dos protestos contra Renan calheiros? Fiquei sabendo que ele riu do baixo-assinado e mandou a internet se mobilizar mais). Porém a pergunta sobre o que seria esse tal de “desconhecido” que muitos falam, mas poucos realmente sabem o que é permaneceu. E por algum tempo eu quis escrever este texto, mas também ainda não estava seguro que eu sabia o que é o desconhecido. Ora, ele é algo que não se conhece, certo? Mas ainda assim, quando falamos que algo é desconhecido, partimos do pressuposto que sabemos o que há ainda para se conhecer.

Fui muito chato nesses últimos dias. Como um Chato-Sócrates acabei fazendo diversos questionamentos as pessoas próximas de mim para a fim de entender como eles compreendiam o que era o desconhecido. Por fim, estou aqui, escrevendo este texto. O que dei-me por conta é que cada pessoa compreende o desconhecido, e o relaciona com a temporalidade, ou a noção de tempo que está por vir, um futuro metafísico. Mas o desconhecido chega a ser mais do que isso, e ainda, se cada um o sente, como podemos lidar com ele? Como não enlouquecemos?

Como falei acima, o desconhecido é diferente do não-conhecido. O desconhecido é algo que sabemos que existe, é apenas um conhecimento que nos escapa, que está distante, mas que de certa forma, podemos o sentir. Ele não passa despercebido diferente do não-conhecido. E como muitas pessoas falam, ele tem uma relação com a noção de passagem do tempo. O futuro é desconhecido, o ano que está por vir, por exemplo. Mas assim também é a semana, os minutos e também o próximo segundo. Eles estão todos equilibrados em um mesmo nível de desconhecido. Não é possível conhecer mais o próximo segundo do que os próximo dez anos até que de fato aconteçam. Mas porque será que os próximos anos assustam mais do que os próximos instantes? Para isso eu tenho duas suposições.

A primeira quer dizer que deveríamos ter medo igualmente do desconhecido. Se não temos medo dos próximos segundos, não devemos temer as próximas horas ou até mesmo a morte. Todos são igualmente desconhecidos. Todos estão distantes de nós até acontecerem. Então não deveríamos nos preocupar com nenhum deles, ou então… viveremos com medo de cada nova esquina da vida. Porém, como a percepção da passagem do tempo é muito subjetiva, os próximos momentos talvez não sejam classificados como um futuro propriamente dito, mas sim como o “presente”. O que está acontecendo, está. Não é mais desconhecido. Nessa ilusão do momento, acabaríamos temendo tudo aquilo que não faz parte dessa “zona de conforto”, e eis que nosso futuro desconhecido aparece diante de nós.

A segunda suposição é que existem diferentes magnitudes. A morte seria o nível máximo. Uma certeza que desconhecemos e lá no fundo torcemos para sermos um humano diferente e jamais morrermos, mas morreremos. E quando a morte acontece (como em Santa Maria) nos lembramos desse fato (que vamos morrer). Depois do medo da morte, quando mais no futuro mais o desconhecido se aproxima dela, e quando mais perto do momento presente, mais temos a ilusão de controle, mais temos a sensação de que tudo vai acontecer como planejamos. Ah! E como o ser humano planeja… O planejamento do futuro não é nada mais que uma maneira de tentar conhecer o desconhecido. Nos livrar da angústia que é enfrentar o futuro despreparados. Talvez seja por isso que algumas pessoas sejam tão controladoras, pois elas, com medo do desconhecido e da natureza caótica humana, tentam controlar tudo e todos ao seu redor. Mas não podemos controlar ou prever o desconhecidos, não é mesmo?

Nossos planos são uma grande ilusão. Uma tentativa de não ter que enfrentar a realidade caótica do mundo e então paramos na própria existência, paramos em uma realidade ilusória que criamos para nós mesmos, tudo que acontece e parece abalá-la é logo rejeitado. Mas será que eu entendi mesmo o que é o desconhecido? Afinal, eu provavelmente o desconheço. Se você leitor tem uma opinião a dar, escreva nos comentários, enriqueça a discussão. Afinal de contas, são coisas que todos enfrentamos, mas que cada um tem sua própria visão.

E ai, tu se lembra? Provavelmente agora que falei tu deve ter se lembrado daquela mulher que matou o yorkshire a pancadas em dezembro de 2011 (poxa cara tá tirando coisas do fundo do baú!). Mas e ai, tu ainda se importa com o Yorkshire e sua assassina? Não minta, certamente não. Mas para explicar para quem não estava na internet aquela época, irei recapitular. Em 16 de Dezembro (ou por volta desta data) caiu na internet um vídeo de uma mulher matando um Yorkshire a pancadas. Tu já podes imaginar o que aconteceu depois. A internet se mobilizou! Protestos, imagens, mensagens de ódio e pessoas dando o seu suporte ao falecido cão pipocaram em todas as redes sociais existentes. Yorkshire chegou a ser Trending topic por uma semana (ou um dia).

Enfermeira mata cachorro Yorkshire na pancada

“Assassina!”

Nessa época eu falei que esses “protestos” não iriam durar nem uma semana e logo todas as garotas politicamente corretas e socialmente engajadas já teriam esquecido do tal do cachorro, e ninguém mais se importaria com esse assunto. Bem, o que aconteceu? Exatamente isso! depois de algumas semanas ninguém mais falava na mulher ou no cachorrinho. Era como se nada disso tivesse acontecido.

Todo mundo sabe muito bem que as coisas que explodem na internet costumam sumir com a mesma velocidade. Mas esse acontecimento de protesto por justiça (justiça pela morte de um mísero cão) terminou tão rápido quanto começou. Na época todo mundo se importava com o Yorkshire, chamavam a mulher de assassina. O tempo passou, muitos se esqueceram, e os que ainda são capazes de se lembrar desse fato não se importam mais. Isso levanta um problema muito sério desse ativismo de sofá, a velocidade com que as pessoas se esquecem das causas. Na internet ninguém segue um acontecimento do início ao fim, param na metade e logo mudam para uma causa muito mais nova.

Hoje é um protesto diferente, é uma nova causa social que está em alta (Renan Calheiros, alguém?). Mas será que irá acontecer justamente a mesma coisa que o Yorkshire? Provavelmente sim (já quase não protestam mais contra esse tal de Renan), processos que levam tempo para serem julgados perdem a força justamente pela rapidez com que as pessoas perdem o interesse pelo assunto. É só pensar em quanto tempo demorou para o mensalão ser julgado. Se dependesse da fiscalização do povo virtual, esse escândalo teria facilmente sido esquecido.

O que me parece é que no Brasil tudo são Yorkshires. Ou como minha avó dizia, é fogo de palha. Queima rápido, mas apaga tão rápido quanto. Que tal escolher apenas uma causa e lutar por ela até o fim? Acho que assim as coisas poderia ao menos se realizar, e não simplesmente serem lançadas para esquecimento assim que algo mais novo aparece.

Nota Inicial: A primeira parte deste texto é na verdade uma grande paráfrase do primeiro capítulo dolivro de um de meus professores. Tal livro foi o que me inspirou a entrar na filosofia. Eu não utilizei de citações diretas ou indiretas para não poluir o texto. Ao final poderão achar as referências para o livro, apesar de eu achar que é impossível acharem ele a venda.

Segunda nota: Essa é uma crítica apenas as pessoas que seguem suas ideologias de forma radical, não a todas as ideologias em sua totalidade. Saiba a diferença.

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Viver é algo imprevisível. Se existe um fato ou uma verdade essa é a questão mais próxima que podemos chegar a disso. Nunca sabemos o que irá acontecer no momento seguinte até que ele chegue. Podemos fazer previsões, mas nunca saberemos se elas irão se realizar. Podemos planejar uma viajem, mas não sabemos como estará a situação no dia seguinte, pode acabar a gasolina do carro, pode chover, você pode ficar doente, algum parente pode morrer, um meteoro pode cair em sua casa… enfim, uma infinidade de possibilidades. Mas digamos que tudo esteja certo para que a viajem vá acontecer, você pode simplesmente mudar de ideia, e seus planos passarão para não ir mais.

Mas mesmo em meio a esse caos de possibilidades o ser humano ainda procura determinar um ritmo para suas vidas, as horas, as estações, os anos, a economia, o ensino, as classes sociais… Essa ordem em que vivemos é apenas uma tentativa desesperada de organizar o caos que é nossa vida. Para fugir desse caos, da possibilidade de morte a cada segundo, nós planejamos. Procuramos prever e nos antecipar da melhor forma possível, pensamos no futuro e o tentamos organizá-lo. E isso pode ser muito perigoso, pode acontecer de alguns seres humanos tentarem controlar esse caos, tentarem criar o ritmo perfeito.

Parece que certas pessoas possuem a utopia do mundo perfeito (perfeito segundo suas concepções). Essas pessoas acabam buscando o poder, poder para controlar o caos. E uma vez que não é possível controlar a vida em si eles procuram controlar a única coisa que está ao alcance deles, ou seja, a vontade humana. Controlando a educação, o conhecimento e a liberdade eles irão controlar uma parte importante do caos: o ser humano. Já que é difícil controlar todo o resto, é só retirar a liberdade, a opinião e o ponto de vista contraditório. Mas a democracia deve existir, a liberdade deve permanecer.

Sem o caos não existe vida, não existe a liberdade. Essas pessoas que buscam o poder podem pensar que ao controlar a sociedade estarão fazendo um bem a ela, mas estão enganados, pois o que resta ao ser humano se sua liberdade for retirada?– Fim da paráfrase – E o que acontece atualmente é justamente essa busca por poder por muitos radicais em suas ideologias, como feministas,veganos, ateus e esquerdistas. Eles buscam o poder para mudar e controlar a vontade humana.

Tomemos o exemplo das feministas radicais, dos veganos, ateus, esquerdistas, ativistas do PT, ou qualquer outro grupo que tente impor sua vontade perante os outros. Muitos desses grupos já mostraram que estão dispostos a fazer de tudo para conseguir esse poder sobre as vontades humanas, até mesmo “jogar sujo”. Imagine um mundo onde tu não possa escolher mais o que vestir, o que comer, o que ouvir, comprar, ou o que irá fazer durante a tarde. O problema é que eles utilizam a estratégia de eliminar qualquer tentativa de oposição as suas ideias. Quem vai contra eles está errado, é considerado o vilão. Eles tomam toda a crítica as suas ideias como críticas pessoais.

A busca pelo poder é um veneno. Quando essas pessoas o provam procuram sempre mais. A democracia, mesmo que frágil deve permanecer, as pessoas ainda devem ter sua liberdade. Por mais que tais ideologias acreditem, os seres humanos não precisam de um pastor. Eles precisam sim de normas de conduta, uma moral e uma cultura. Mas não são crianças para que sempre tenham que depender de alguém. Se essas ideologias realmente quisessem indivíduos capazes de fazer suas próprias escolhas, não procurariam tanto assim limitar as ações humanas.

Referência:

LARENTIS, Milton. A vida das Idéias. Experimentos 1988-2008. Bauru: Canal 6, 2008.

Existe uma verdade?

Afinal, existe um certo e um errado? E o belo e o feio, existem? Será até mesmo que o bem e o mal podem ser julgados? Em uma era onde a relatividade afetou o estado do que é possível conhecer, será que poderemos chegar a uma verdade absoluta? A resposta para isto é que não existe uma verdade absoluta, apenas um modelo para se chegar a uma certeza ou construir o conhecimento limitado, que não consegue compreender toda a realidade. Existem muitas formas de chegar até ele, e dentro dos parâmetros usados esse conhecimento será válido, mas não será absoluto.

Esses parâmetros podem ser entendidos de duas formas, a primeira é o método científico, ou o conjunto de regras que uma área da ciência utiliza para julgar um conhecimento novo como válido ou não. Esse parâmetro muda de área para área (a forma como um físico conduz suas pesquisas é muito diferente da de um biólogo). E a segunda forma, mais popular, é através de uma ideologia. Mas o que é essa tal de ideologia? A ideologia como foi definida por Antonio Gramsci é dividida em três níveis: filosófico, comunicional e senso comum.

Uma ideologia surge a partir de um trabalho teórico de algum estudioso (Marx por exemplo). O problema é que esse conhecimento é muito complexo para as classes sociais mais baixas, ou pessoas que não estão no meio. Dessa forma, alguma estrutura social como a mídia, militantes, chatos de facebook, etc… Tratam de entender esse conhecimento, simplificá-lo, e passá-lo adiante. Em uma sequência de releituras o conhecimento original distorce e simplifica até entrar no senso comum. Quando ele entra no senso comum vira um comum acordo entre as pessoas. Tomemos o voto feminino como exemplo. Ele surgiu a partir de movimentos teóricos e aos poucos foi se disseminando pela população, hoje ele é aceito por praticamente todos, não é mais questionado.

Dessa forma, podemos entender que a ideologia, para Gramsci, em última instância é o conjunto de ideias e práticas que algum grupo usa para explicar e entender o mundo, e dele produzir um novo conhecimento. É impossível ser neutro a todas as ideologias, mas em uma época em que o conhecimento é relativizado chega a ser impossível explicar e entender o mundo com apenas alguma ideologia. Por isso que muitas pessoas que seguem apenas uma acabam sendo muito chatas, pois elas acabam com uma percepção da realidade limitada apenas a poucos fatores.

É incrível como ideologias fazem com que feministas, esquerdistas, vegans, ateus, religiosos (todos que são extremistas) tenham a certeza de estarem certos, e o mundo todo está ou errado, ou contra eles. Parecem tratar as pessoas ao seu redor como: se não está a meu favor está contra mim. A questão é: Se alguém acha que conhece e segue uma verdade absoluta, essa pessoa só pode ter se alienado perante uma grande parte de sua realidade.

No final não existe certo e errado, ou bom e ruim. São apenas pontos de vista. Como disse Nietzsche, não existem fatos, apenas interpretações. Cada um percebe a realidade da sua própria forma. Não existem dois seres humanos com pontos de vista exatamente iguais e que percebam o mundo exatamente da mesma forma. Obrigar pessoas a concordarem contigo por seja lá qual for o motivo é simplesmente estupidez. Mais do que isso, é uma tentativa de passar a tua alienação para outras pessoas.

Não podemos julgar que alguma coisa seja boa para a maioria, pois somos incapazes de prever as consequências em longo prazo. Não podemos dizer o que é melhor para a sociedade. Grandes atrocidades já foram cometidas pelo “bem maior”. Todos os grandes ditadores da terra acreditavam estar fazendo um bem para a sua população. Nenhum deles se via como uma má pessoa. Al Capone, que chegou as ser considerado inimigo público número um dos Estados Unidos, disse que não entendia porque era odiado uma vez que ele provia diversão para a sociedade. TwoGun, um pistoleiro também dos Estados Unidos escreveu em uma carta (antes de morrer em um tiroteio contra a política) que possuía um coração cansado incapaz de ferir o mais indefeso dos animais. Esse mesmo assassino foi capaz de matar um policial a sangue frio quando o parou em uma estrada.

Ninguém consegue perceber a si mesmo como o vilão. Para nós todos somos os heróis, todos fazemos o melhor para as pessoas ao nosso redor. A mente humana é capaz de adaptar e modificar informações para que elas sejam aceitas para nossos valores, para a ideologia em que acreditamos. Enquanto um ateu vê a religião como algo ruim, um religioso vê em sua religião como a única coisa que pode ajudar a sociedade. Mas quem realmente está certo? Não somos capazes de dizer. Apenas interpretamos a realidade da nossa forma para julgar um certo e errado que é mais aceito por nossa cultura.

O que chega a ser engraçado é que quanto mais tu acreditar em tua crença, mais tu acabarás fazendo o contrário dela, e sem perceber. Um homem que é contra a pornografia pode começar a assistir todos os tipos com a justificativa de que ele precisa aprender mais sobre ela. Um Ateu pode começar a discriminar religiosos, justo quando ele mais reclama da discriminação por crença. Se existe uma forma de evitar isso, é não ser tão extremista em suas convicções, ou ideologias. A melhor forma é ao menos tentar entender a forma como as outras pessoas percebem o mundo, e ter em mente que tudo muda, até mesmo ideias.

Para uma convivência em sociedade se faz necessária a tolerância. Não existe uma verdade que sirva para todas as pessoas, não existe apenas uma forma de ajudar as pessoas. Não existe um bem supremo que ajude a todos. Fazer com que pessoas sejam obrigadas a certas atitudes é remover a liberdade humana, e não queremos outra ditadura. O melhor é procurar entender o outro lado e aproveitar o que ele tem de bom, quem sabe assim dessa forma possa existir um diálogo, e não uma discussão. Viver é estar mergulhado em caos, e desse caos não existe apenas uma ordem.

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Nota final: Esse texto surgiu de uma sugestão de uma leitora. Caso tenham sugestões de tópicos para que eu escreva, podem sugerir! Mesmo que eu possa demorar para escrever, adoro receber esse tipo de feedback.

– Um minuto em minha mente poderia causar insanidade. – Murmurou essas palavras por entre os dentes o jovem que olhava o horizonte, e as pessoas que estavam no bar onde ele estava.

Uma risada logo atrás de si atraiu sua atenção. Era uma garota franzina, baixa e de cabelos negros curtos. ­­Ela se aproximou dele sem qualquer vergonha e logo se sentou em sua frente. A mesa em que ele estava possuía apenas dois lugares, e ela ocupou justamente o que restava.

– Essa é uma frase que todos adoram falar, como se a mente das outras pessoas fosse mais frágil que a sua própria. – Ela sorriu novamente para ele – Mas não se culpe, é normal tentarmos parecer maiores que outras pessoas.

Não obteve uma resposta de imediato. O jovem apenas virou a cara com uma expressão que de estava com o orgulho ferido. Ignorou-a, e ignorou completamente a crítica que ela havia feito. Como ela ousava falar aquele tipo de coisa, ela não sabia nem um pouco o que se passava em sua mente, suas dúvidas, medos e traumas. Como ela podia então ter a presunção de dizer que seu pensamento era normal? Apenas uma tentativa de se sentir maior que as outras pessoas que estavam naquele bar? Besteira!

– Hahaha! Vejo que alguém está com o orgulho ferido – falou a garota em um tom zombeteiro, como se fosse para irritar ainda mais seu interlocutor – Não fique assim, eu achei você interessante. De todas as pessoas desse bar eu queria falar apenas contigo. E não gosto de puxar conversa de forma clichê. Meu nome é Barbara, a propósito.

– Tanto faz… – Ele falou finalmente quebrando o silêncio, sua expressão ainda era de alguém bravo, agora, porém, estava disposto a conversar. – Mas o que você quis dizer com todas as pessoas tentam parecer maiores do que as outras?

– É muito simples. Temos o desejo de sermos importantes, a busca pela grandeza. Isso resulta em nos justificarmos para nos sentirmos melhores. – Ela apontou para o resto das pessoas do bar – Você não as conhece. Da mesma forma, elas não te conhecem. Elas não tem como saber o que se passa em sua mente, e apenas você conhece teus próprios fantasmas. Mas você não sabe o que se passa na mente delas, não conhece seus fantasmas. E não é porque são mais ignorantes, ou conseguem se divertir em lugares como este que tem menos valor ou força do que você. Em certo ponto todos somos diferentes, mas também somos iguais em nosso valor.

Ele pareceu relaxar na cadeira. Pegou o cigarro que estava no cinzeiro, tragou. Soprou tudo para o teto enquanto refletia na resposta da jovem. Na verdade nunca tinha visto dessa forma. Se ele se colocasse no lugar dos outros seria incapaz de julgá-los. Ele seria tão insignificante quanto todo o resto da humanidade.

-Se todos somos iguais em nossa insignificância, porque permanecer vivo? – Murmurou

Ela riu.

– Você já viu de uma teia? Ou uma rede? É quase a mesma coisa. Nossas vidas estão interligadas em uma espécie de rede. É impossível fugir dela, tua vida influenciará a de outros, e a vida de outras dependerá da tua. Cada ser humano terá seu papel nessa teia, seja para o que achamos ser o bem como o mal. Se você morrer muitas pessoas sofrerão, direta e indiretamente. Você não pode ser egoísta e achar que está sozinho. Não está. Se eu ou você tivéssemos morrido não teríamos essa conversa agora, não mudaríamos nossas vidas. Se o taxista que me trouxe aqui não existisse, talvez eu estivesse em outro lugar. Podemos fazer uma cadeia de eventos para tudo que acarretaria o nosso não-encontro aqui hoje. Mas aqui estamos.

– Então porque ainda assim as pessoas buscam um sentido de importância, buscam seres maiores? – O jovem se inclinou para frente parecendo estar cada vez mais interessado na conversa. As perguntas em sua mente eram várias. Também desejaria poder conversar ainda mais com aquela garota.

– Imagino que primeiramente elas não saibam se sua importância para as outras. Seres humanos são egoístas, pensam somente em si mesmos, então eles precisam ser grandes nesse egoísmo. Por isso que buscam a fama, buscam serem conhecidos na internet, muitos jogam MMO e garotas mostram os peitinhos. É tudo para serem mais conhecidos, para se sentirem mais importantes, maiores, além de darem um sentido de importância para a própria vida.

– Eu nunca consegui entender essas pessoas fazendo de tudo para ficarem famosas ou conhecidas, principalmente na internet – ele falou finalmente – me parece que também existe uma ganância muito grande, eles não se contentam com o que tem, querem sempre mais e mais. Alguns parecem que chegam no fundo do poço. As vezes sinto que merecem o que se passou na vida deles.

– Ora, não podemos ser tão duros nesse julgamento podemos? – ela riu – Se colocarmos no lugar dessas pessoas veremos que se sentem sozinhas. Podem estar cercadas de pessoas, virtuais ou não, mas se sentem sozinhas, como se elogios e a atenção fossem apenas um meio para terem um sentido na vida que elas tornaram vazia. Não podemos os condenar, podemos os entender. O que torna as pessoas em bons líderes é a capacidade de entender as outras pessoas, principalmente quando falham. Criticar todos sabem, entender, nem tanto…

– Mas se não podemos criticar as outras pessoas como podemos mudar a sociedade em que estamos? – Falou o jovem nervoso – Se a única coisa que podemos fazer é entende-los… devemos deixa-los fazendo o que é errado? Devemos os deixar nessa ignorância e alienação? Não podemos todos sermos egoístas…

– Ora, você se lembra da rede da vida que te falei? – Ela se inclinou para trás apoiando-se na cadeira e piscou com o olho direito – Mesmo que você não queira sua vida influenciará no mundo. Se tu viver compreendendo os outros eles serão afetados por isso. Tudo que podemos deixar é esperar que evoluam, não podemos os fazer da um passo maior que a perna. É o mesmo que pedir que uma criança se comporte com a sabedoria de um idoso. Tudo leva o seu tempo.

– Mas temos que poder fazer algo que os influencie diretamente…

– E podemos, é o que estou fazendo agora. Estou influenciando a ti! – A jovem olhou diretamente nos olhos dele – A pergunta que te faço é: Depois disso tudo tu vai sair daqui pensando da mesma forma?

– N-não… – Ele gaguejou

– Assim eu pensei. Você não muda as pessoas pela crítica, mas sim criando o desejo de mudança nelas. Como diria Sócrates, dando a possibilidade para que ela parissem ideias. Não é as confrontando diretamente em suas crenças que você as ajudará, mas sim pela inspiração. Você sabe que é igual a todo mundo. E apenas sendo capaz de entrar na mente de uma pessoa, a compreender, que então poderá lidar com ela, que conseguirá que ela te ouça. – Ela se levantou da cadeira – Continue sonhando.

Com um ultimo sorriso ela deu as costas e saiu daquela mesa se afastando rapidamente. O jovem ainda estava atordoado por causa daquele encontro. Era como se sua vida começava novamente daquele ponto em diante. Finalmente resolveu tragar seu cigarro que agora estava no fim, aquela fumaça espiralou através dele antes de simplesmente se dissipar pelo ambiente. Ele olhou para o teto daquele bar, e então para as pessoas a sua volta.

– Se pudessem entrar em minha mente veriam apenas mais um ser humano. Um ser tão importante quanto qualquer outro.

Evelyn

              Mais uma folha de papel amassada rolou pelo chão. Quantas vezes tentei escrever a fatídica carta? Perdi a conta. Não conseguia escrever, não conseguia fazer algo que agradasse, afinal, como alguém poderia colocar um sentimento em palavras? A linguagem me limitava, estava preso e não poderia jamais explicar como sentia saudades, não poderia revelar tudo o que sentia em linhas e palavras frias. Nem com uma vida eu poderia conseguir chegar a expressar o que pretendia falar.

               “Evelyn, tu foste como uma irmã, e a pessoa que mais me entendeu. Sem você me sinto tão sozinho, como se nada poderia substituir o calor de saber que eu compartilhava essa ligação espiritual contigo…”

              – Não, não está certo, ainda não chegou lá. – Murmurei. E mais uma folha amassada rolou pelo chão.

              Como poderia? Como poderia chegar a dizer tudo o que sentia? Queria poder expressar tantas coisas, queria poder responder suas cartas. Depois que nos separamos recebi muitas, mas enviei poucas, ou até mesmo nenhuma. E com o tempo suas cartas pararam de chegar. Eu queria enviar uma como as suas, poder a dizer tudo o que sentia, contar minha vida e os eventos que aconteceram nesse tempo que estavam separados. Mas como poderia? Nada era bom o suficiente…

               O quarto onde estava era pequeno, de madeira. Era o sótão de minha casa. Ele rangia com o vento e estava frio agora no inverno, a única luz vinha de uma única vela ao lado da escrivaninha a qual estava na minha frente. Apesar disso, era o único lugar que poderia ter algum tipo de paz, tanto com outras pessoas, como também para com minha mente. Evelyn, você sabia muito bem como minha mente era confusa, era como se meu corpo fosse habitado por várias pessoas, cada uma lutando para ser ouvida, cada uma lutando para ser eu mesmo. Mas estranhamente no frio daquele pequeno cômodo, eu simplesmente era eu.

              Mas mesmo estando com tanta certeza do que sentida, e do que queria dizer, eu não conseguia escrever uma carta. Não conseguia falar que queria aqueles dias dourados que passamos juntos de volta. Aquela época em que nos sentíamos tão inocentes e que o futuro era brilhante. Aquela época em que sonhávamos como duas crianças. Éramos assim, duas crianças cujos sentimentos tão inocentes as faziam sonhar. Amizade… Era realmente o sentimento que unia a alma de duas pessoas… Ah, como eu queria tudo aquilo de volta. Porque tínhamos que crescer? Mas a vida é assim, e com um sopro, tudo muda. Levam-nos aqueles que nos são importantes. Você foi assim, o vento te levou de mim… E eu não fiz nada para evitar.

              O arrependimento crescia em meu peito. Eu não queria aparecer de cabeça baixa, não queria ter que remendar aquilo que foi quebrado. Queria construir algo novo. De nada adianta tentar reparar o que outrora foi. É preciso construir tudo de novo. E eu não sabia como te dizer isso, e muito menos como poderia fazer. Você confiaria em mim de novo? Eu não sabia a resposta, e tinha muito medo dela.

              Suspirei e baixei a cabeça contra a mesa. A vela queimava calmamente ao meu lado. Crescemos não é mesmo? Como eu poderia te dizer tudo o que sinto? Não sabia… Um vento lentamente entrou pelas frestas do sótão, parecia que ele sabia justamente onde ir, pois a vela cambaleou, e então apagou. Escuro. Um leve crepúsculo pairou sobre aquele local, e então eu já sabia o que te escrever. Não era muito, não representava tudo aquilo que sentia, muito menos tudo o que queria dizer. Mas era puro, assim como uma vez nós fomos, e satisfeito com o que escrevi, sabia que estava pronto para finalmente te enviar a carta que continha uma única palavra:

               “Saudades”.

Tive que dar uma pausa em todos os trabalhos que tenho que fazer para escrever esse texto.

É incrível como muitos ateus defendem a ideia de que o Brasil deveria ser um “estado laico”. Defendem essa ideia como se fosse uma verdadeira religião. Como se o Brasil se tornando “laico” resolveria todos os problemas da sociedade. A cura do câncer seria descoberta, e entraríamos em uma nova era de paz e harmonia que duraria 200 anos com finalmente uma sociedade racional o bastante para não acreditar mais em Deus. Mas pera ai? Tem algo de errado nisso tudo, e ironias a parte, o erro é achar que um estado laico é aquele estado que nega todo o tipo de religião.

Mas o que é esse tal de estado laico? Não é nada mais do que uma forma de governo onde a Religião é separada das decisões políticas, e as decisões políticas são separadas da religião. Onde o poder é separado da religião. É tão simples! Mas é incrível como tantas pessoas não conseguem entender essa simples divisão. A definição mais vulgar que posso encontrar para definir a laicidade do estado é aquele estado que está “cagando e andando para as manifestações religiosas”.

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Dentro de um estado laico uma pessoa possui a liberdade para expressar sua fé ou não-fé da forma que bem entender sem alguém a impedir de fazer isso. Os crentes podem continuar gritando em suas igrejas, os católicos podem continuar com suas missas e feriados, e os ateus podem continuar a xingar as religiões no facebook e no twitter. Mas isso tudo somente acontece porque é permitido pelo estado. Se tivéssemos um estado cristão, quem professasse uma fé diferente da aceita seria preso ou qualquer coisa do tipo.

Mas o que é esse tal de estado? Utilizando-me da definição moderna pela ciência política, o Estado é a reunião do Território, do povo, e do poder (político). E indo mais além, o poder está dividido em três, o legislativo, judiciário e executivo (sendo o executivo o que concentra mais poder político). Ou seja, tudo é o estado.

Um estado laico não pode ser um estado Ateu, pois dessa forma todas as formas de expressão religiosa estariam proibidas. Elas não seriam permitidas e o estado iria fomentar o ateísmo. Que é apenas uma forma de crer particular dentre tantas outras. Um estado Ateu destruiria toda a liberdade religiosa que a sociedade lutou tanto para conseguir.

Dentro dessa perspectiva começam questões como os crucifixos nas escolas públicas ou o “Deus seja louvado” nas notas de real, dizem que tais formas de se professar a fé destroem a laicidade do nosso amado Brasil. Dizem que devemos retirar todas as formas de expressão de fé das vias públicas. Mas lembro a vocês, o que é um estado laico? Um estado que defende todas as formas de expressão religiosa, sejam elas públicas ou não. Interferir nessas manifestações é justamente interferir no estado laico tão desejado.

As notas de real (que são a discussão do momento), são uma expressão de fé descolada do poder político. Uma vez que elas são apenas a moeda. Tanto faz se tem uma imagem de Deus nelas ou de um cachorro cagando, o valor simbólico que possuem será o mesmo. Elas continuarão a ser o dinheiro.

O problema dessa questão, é que procurar tirar o “Deus seja louvado” das notas justamente vai contra o que todos procuram. Defender um estado Laico seria defender que a nota continue igual, defender o estado laico é defender a possibilidade de todos expressarem sua fé. O que os ateus que se manifestam a favor do estado laico estão fazendo é justamente o contrário. Estão querendo destruir esse nosso princípio e transformar o Brasil em um estado Ateu.

Introdução

 

  Estive estudando um autor muito fascinante nos últimos tempos. Seu nome é Carl Jung. Ele tem formação em psiquiatria, e foi o maior discípulo de Freud (apesar de que a grande obra de Jung começou depois do rompimento com Freud). Mas apesar de ele ser um psiquiatra, suas obras são muito mais estudadas por filósofos. Isso se deve ao fato de que as idéias de Jung são muito mais baseadas na filosofia, e tem um alto nível filosófico. Ele possuiu uma teoria sobre a construção do ser humano e da sociedade que é realmente fascinante. E mais do que isso, que possui validade científica.

  Com isso dito, o objetivo desta série de textos é trabalhar um dos conceitos principais de Jung, o de individuação. O tornar-se um indivíduo único.  E talvez mostrar que uma pessoa realmente pode ser um indivíduo único com suas próprias peculiaridades, com seus próprios desejos, e que se conhece muito mais do que normalmente podemos nos conhecer.

  Motivei-me a pensar sobre essa série (série, pois tudo de uma vez criaria um texto muito longo) depois de muita reflexão, depois de uma conversa ótima sobre “quem somos”, e também depois de ouvir pessoas falando que o ser humano perdeu seu potencial devido ao “sistema” ou a “sociedade capitalista”. Besteiras do tipo. A questão central aqui é entender o que é “ser único” e como podemos chegar a esse ponto.

 

Conversa com os leitores

 

  Antes de começar o texto propriamente dito quero dizer que estou escrevendo esta série de textos para você leitor. Esse texto é dedicado a todas as pessoas que leram o meu blog ou que virão a ler. Diferente dos meus últimos textos. Esse eu sei muito bem para quem eu escrevo. É para você! É para todos nós. E por isso seria muito legal poder ouvir a opinião de meus leitores a respeito desse assunto. Até porque assim saberei como desenvolver os próximos textos. Façam perguntas sobre o que não entenderem, ou simplesmente respondam as perguntas que deixarei. Ficarei muito contente em saber o que estão achando de tudo isso que escrevo.

 

O problema do sistema. O discurso da Alienação.

 

  O sistema social é sempre a culpa central de não podermos ser quem nós realmente somos. Afinal, é culpa da sociedade que esta é uma época difícil para sonhadores. Ou que esta seja uma época onde a produção de conhecimento está em decadência. Os seres humanos estão ficando cada vez mais burros. Nos prendemos em um sistema e não podemos mais ser livres como desejaríamos. Não podemos mais sermos nós mesmos. Não podemos mais fazer o que queremos. Temos que viver trabalhando em coisas que não gostamos. Logo, o ser humano está destinado a viver conforme padrões, e por isso se torna cada vez menos humano, menos ele mesmo.

  Este é um discurso amplamente aceito nas redes sociais. Afinal, por causa dessa “sociedade” não podemos sempre fazer o que desejamos. Só que a facilidade da aceitação desse discurso está mais embaixo. Esse discurso é aceito porque gostamos de nossa preguiça, gostamos de poder justificar nossas incapacidades em outras coisas. Em resumo, não gostamos de assumir a responsabilidade de nossas falhas. Não queremos aceitar o fato de que nossa vida é como é por nossa causa.

  Dois grandes teóricos trabalharam essa questão. Eles são Nietzsche e Sartre. A crítica desses dois autores se dá no âmbito em que somos plenamente livres. Não existem padrões éticos que valem para todas as pessoas. Ou até mesmo que deveriam limitar as ações dos homens.

  Já tratei desse assunto em minha crítica à ética religiosa nesse texto:  Se Deus não Existe então tudo é permitido

  Para Sartre o ser humano é plenamente livre. Porém ter consciência de nossa liberdade gera angustia. Angustia pelo fato de que não podemos fazer tudo o que desejamos com nossa liberdade, e além disso, angustia por saber que a responsabilidade é inteiramente nossa. E por causa disso acabamos mentindo para nós mesmos. Mentimos que o sistema (criado por nós) controla nossas vidas. Que não podemos mudar, que não podemos fazer nada senão batalhar e nos adaptar ao mundo. Mentimos para nós mesmos afirmando que somos limitados. E que a culpa da nossa limitação nos é externa.

  Para Sartre essa mentira pode ser entendida como má-fé. A má-fé que faz com que nos escondemos atrás de qualquer outra coisa. Afirmamos que a responsabilidade é da religião, da sociedade, de nossos pais. Mas jamais conduzimos nossas vidas por nós mesmos, com o que realmente desejamos e assumimos plena responsabilidade por nossos atos.

  Para tornarmo-nos humanos únicos em nós mesmos precisamos nos livrar da má-fé. Precisamos aceitar que somos plenamente livres e acatar todas as responsabilidades por nossos atos.  Sejam eles conscientes ou não. Devemos ser livres para escolher, agir, e ser. Já somos isso, mas será que podemos aceitar esse fardo?

  Para você leitor, a sociedade parece estar pronta para ser livre? Talvez sim, ou talvez não. Mas sobre tu mesmo? Tu está pronto para aceitar a liberdade que possuiu e assumir plenas responsabilidades por tua vida? Essa é uma resposta que somente tu pode dar, e não precisa falar para todos, apenas para si. Compreender a liberdade é o primeiro passo para se tornar verdadeiramente único. Para ser tornar tu mesmo.

 

Ser diferente não é ser único.

 

  O advento das redes sociais possibilitou uma maior rede de comunicação. Podíamos conversar com as pessoas e ver como elas estavam, e saber sobre a vida delas. Poderia ser um grande avanço para podermos finalmente nos conectar com o mundo. Mas o feitiço virou-se contra o feiticeiro, e as redes sociais passaram a exibir um outro lado de seus usuários.

  Através de uma rede social é possível analisar o movimento de diversas sub-sociedades (tribos). Como conversam, como se comportam. E mais do que isso, pessoas passaram a se expor mais. Colocam mais de si em um espaço público. E o que uma vez te fazia sentir-se único, passou a ser uma coisa comum. Afinal, pela internet é muito mais fácil achar pessoas que se comportam de forma parecida, tem os mesmos gostos e desgostos. E tudo isso acabou fazendo pessoas perderem seu senso de indivíduo. Tu já não podia saber o que te tornava único(a), pois haviam muitas pessoas que eram muito parecidas entre as outras.

  Partindo desse ponto, criou-se um desejo em “ser diferente”. Jovens buscando aquilo que os tornavam diferentes daquela multidão de pessoas. Aquilo que os fariam se destacar na multidão. Criou-se uma grande necessidade de “ser ouvido”. As pessoas precisavam ser notadas, e esse desejo de ser notado foi aumentando cada vez mais até o ponto de postarem fotos do que se estava comendo em redes sociais. Todos querem ter uma voz, todos querem que suas opiniões sejam ouvidas, e todos querem se destacar, querem ser percebidos. Ok, não todos, mas uma grande quantidade de pessoas, e praticamente todas as pessoas que são heavy users  de facebook e afins.

  Com esse desejo de ser diferente, as pessoas passaram a buscar gostos diferentes dessa multidão de pessoas, gostos que as fizessem sentirem diferentes, especiais, e pertencentes a uma “elite”. E ai surgiram novos sub-grupos, e outros tornaram-se mais sólidos. Temos os otakus, roqueiros, from england, pseudo-cults, ateus, fãs de Pink Floyd… E todos procuram acreditar que seu gosto é o que os torna muito diferentes de uma multidão de pessoas que caminham pelas vias reais e virtuais todos os dias.

  Mas a verdade é que ser de um desses grupos, e compartilhar esses gostos não torna uma pessoa única, muito menos diferente. Um exemplo pode ser o fã de Pink Floyd que se acha único por gostar dessa banda incrível (sim, eu os adoro) mas que “ninguém mais gosta”, ou que seus fãs são muito raros. Só que Pink Floyd é conhecida como uma das banda de rock mais famosas de todos os tempos (junto com Bettles e afins), o Dark Side of the moon, foi e é um dos álbuns mais vendidos de todos os tempos. Muitas das grandes bandas se espelham em diversos momentos da carreira deles para compor novas músicas. A própria madona possui influências de Pink Floyd em algumas de suas músicas. E vocês ainda acham que ser fã de Pink Floyd os destaca da multidão? Sejamos sinceros, chute uma pedra virtual na internet que tu irá achar outros 5 fãs deles.

  Nota mental:  Eu usei os fãs de Pink Floyd, mas o exemplo deles pode ser utilizado para qualquer gosto. Seja ele de animes, de coisas britânicas. Coisas de Hipsters e tantos outros. Pela internet é muito fácil achar um grupo de pessoas com algum tipo de gosto peculiar ou que gostam de alguma coisa.

  A realidade é difícil. Mas se tu enquadrar quaisquer atitudes, quaisquer formas de se vestir, falar ou se comportar, e achar que elas te fazem diferente, que te destacam, tu está errado. Em todo o tipo de comportamento haverá pelo menos um grupo que também tem esse mesmo comportamento. O diferente é só mais uma convenção social. Mas esses diferentes são só mais um na multidão que procura tal diferencial. De tanto que tentam se tornar diferentes, acabam ficando iguais a todos os outros.

  Como lidar? Não querendo ser diferente. Não querendo ter uma voz. Mas sim querendo ser a “si-mesmo”. E não ter a necessidade de se mostrar para todas as outras pessoas. A questão é: Pessoas estão preparadas para simplesmente serem, e não querer mostrar quem são?

  

Como tornar-se único?

  

  O ser único é algo além, é sutil e é inteiramente individual. É o processo de compreender a si mesmo, e de compreender muitos dos seus desejos. Ser único não está nas grandes atitudes, mas sim nos pequenos detalhes e peculiaridades que jamais poderão ser transformados em palavras. Mais do que isso, é o propósito dessa série de textos. É mostrar como que uma pessoa se torna ela mesma. Como se dão todos esses processos dentro da filosofia, e da psicologia. Aliar-me-ei em Carl Jung, Epicuro, Kant e diversos outros autores.

  Vocês terão aqui, queridos leitores, uma obra de coração. Um presente para vocês, uma compilação de muitos de meus estudos, e meus sinceros desejos que lendo e refletindo sobre o que escrevo os possa tornar além de únicos, um pouco mais felizes.