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Uma História

A morte do calor não é fria, e sim morna e monótona. J. Gleick.

E estava morno dentro de mim.

 

Estava ausente – deixe seu recado após o sinal – poderia responder dentro de uma semana. Era como ser uma vela rasgada, sensações me atravessavam. Nenhuma capaz de me mover. Torcia pela dor, por algo. Dentro de mim não havia conflito, nem movimento, nada. Eu era apenas os ecos do meu passado.

Fogo e gelo são energia, possibilidade. Apenas opostos de fatores que movem o espírito. E quando não existe nada, não existe vida. Sobra apenas a monotonia, a inércia de um autômato. Nada parecia alimentar a minha alma, a experimentação era tão tediosa quanto as tardes deitado no sofá. Não existia futuro, apenas os lamentos de um passado apagado.

No entanto, tu acendeste a chama no meu coração. Não foi como a chuva que me pegou desprevenido, muito menos me levou à um lugar seguro. Tu não tinhas nada para me oferecer. Nada para dar. Só tinha a ti mesma. E apenas segurou a minha mão. Não era confiança, não era um momento. Não era… nada.

 

Mas naquela noite, o mundo começou novamente.

 

E, apesar de não estar mais aqui, no final, tu me deste uma história.

Você está ai?

Ah, quem eu estou enganando, é claro que está aqui.

Se não estivesse, minhas palavras não teriam nenhum sentido. Sentido que só existe através dos teus olhos, do entendimento que fazes dentro de teu ser. O mundo só o é a partir do que tu sente. O significado só vai existir a contigo. A verdade e a mentira se constroem de forma similar, teu entendimento sobre os fatos que se apresentam. A vantagem é que a mentira, o irreal, é efêmero, sempre acaba virando ar e apagado pelo vento. Minhas palavras podem tomar inúmeras significações. Verdades ou mentiras, alegrias ou tristezas, tudo depende de como você cria esta pintura mental que é o texto que faço para ti. Eu escrevo porque você lê, não existe outra explicação para porque eu iria transformar minha intimidade de pensamentos em tramas públicas.

Mesmo que muitas vezes o que eu gostaria que tu entendesse algo daquilo que está além da primeira camada, saber que tu está aqui neste momento, dividindo de minha psique, já é capaz de me satisfazer.

Sabe, recentemente comecei a ler, e adorar a forma como Shakespeare constrói seus textos, ele consegue colocar ainda mais sentidos escondidos por dentre suas palavras. Uma inspiração para mim enquanto eu busco ainda mais apreender o domínio do sentido. No passado falávamos de Goethe, não se lembra? Mesmo que seus poemas sejam ótimos, eles muitas vezes são diretos demais, o mistério não existe ali, não tem como se perder dentre os significados.

Minhas palavras tem sido refinadas. Tenho conseguido colocar no papel muitas das ideias que circulavam em minha cabeça, que antes eu evitava as desenvolver por medo de não ficar suficiente para os padrões que eu considerava aceitáveis. Escrever tem sido um caminho solitário, mas aos poucos pude desbravar este desconhecido e fazê-lo mais visível. Me libertei de muitos pesos e pessoas do meu passado. Este ano eu sei que poderei me libertar ainda mais nestas ideias, tanto aqui no blog, quanto em publicações reais.

Mas por hora, eu estou aqui, estou matando esta saudade que tinha de ti. Saudade esta, que nunca vai se esgotar.

Eu gosto de escrever. Gosto das palavras. Gosto de brincar com elas, torcer, transformar. Poderia até mesmo comparar o trabalho de um escritor ao de um tecelão, que de acordo com os fios que escolhe, aos poucos cria o desenho em sua tapeçaria. Sabe, um texto pode ser uma flecha, sentido único, um alvo especifico, nada muito difícil de perceber. Ou pode ser uma malha, sentidos e metáforas entrelaçadas que podem significar uma infinidade de coisas. Camadas atrás de camadas contendo significados ocultos que se revelam apenas aos mais atentos dos leitores.

Não consigo mais escrever feito flecha, por mais que tente, os textos que tenho publicado aqui sempre contém mais de um sentido, mais de um significado. Já foram mensagens ocultas para pessoas específicas (e provavelmente nunca entendidos) como no texto 185 dias. Outras, simples brincadeiras, enquanto imagino um leitor e se ele conseguiu ver que existia ali muito mais do que deixei aparecer. E em uma ultima possibilidade, um pedido de socorro que nem eu mesmo percebi a tempo.

Eu lentamente entrei em depressão. Welbutrin se tornou meu melhor amigo por um tempo, antes dele o Zoloft. A noite foi longa demais, mas o sol nasceu, as mentiras foram desfeitas. Bem, ainda está em seu nascer, por assim dizer. O maior problema foi que isto afetou em muito minha criatividade, e minha auto-crítica. E por isto, apenas um texto por ano aparecia por aqui. Não desejava entulhar este blog com coisas específicas demais sobre filosofia, ou com textos que não julgava dignos de serem lidos. Ninguém vai querer ler sobre as definições de Deus em Spinoza das proposições 15 à 23, ou rascunhos de pequenas perturbações da minha mente, ou até gostariam, mas no nível que estava minha auto-estima, nada era suficiente. Por isso deixei até de usar o twitter.

Já haviam alguns anos que eu tinha perdido a minha musa no labirinto da existência, logo quando os textos começaram a ficar mais escassos. É difícil se recuperar de uma perda tão grande, mas agora que estou banhado em uma nova luz colorida, quem sabe, eu logo consiga imaginação para voltar aqui com mais frequência com diversos textos/desafios de significação, não é mesmo?

Gostaria de deixar uma mensagem final, antes de pular para o próximo texto que estou trabalhando: Nunca tarde a acreditar em si. Teu Eu é o que tens de mais importante. E se tu fores verdadeiro consigo mesmo as pessoas logo irão te ver por quem tu és, e não através das mentiras que propagaram sobre tua honra. Ah, mas isso talvez seja assunto para outro texto. Ou talvez apenas mais um tapete.

O solipcismo é um problema filosófico que consiste na pergunta: O que nos prova que o Outro de fato existe e não é somente uma criação da minha cabeça? Em resumo ele trabalha com a questão da solidão do Eu. Visto por cima parece um problema simples, até mesmo fútil, afinal o outro deve existir, eu posso falar com ele, tocá-lo. Porque deveria duvidar da sua existência? Contudo por mais que tu possas tocar nesse outro, sentir seu calor, e ouvir suas palavras, jamais terá acesso aos seus sentimentos verdadeiros, seus pensamentos ou à mente dele, o que diferencia o outro “humano” de um robô, por exemplo?

Se nossos sentidos são percebidos pelo nosso cérebro, e muitas vezes facilmente distorcidos, enganados, como podemos saber o que é real e o que não é? Acredito que a primeira aparição desta pergunta aparece com Descartes, quando ele usa da dúvida para questionar tudo ao seu redor. O cogito ergo sum (duvido logo existo) foi sua solução para o problema do Eu, eu existo, mas e todo o mundo ao meu redor? A resposta dele foi mais fraca, era por causa de Deus. Um Deus puramente bom como o que deveria existir, não permitiria que vivêssemos em um mundo irreal. E por muito tempo se aceitou essa resposta, ou talvez, não se pensou tanto sobre essa questão.

Este problema costuma aparecer como uma crítica a uma teoria filosófica. “Essa sua linha de pensamento leva a um solipcismo”. E com a contemporaneidade esta crítica sempre foi uma sombra de todas as teorias filosóficas, principalmente para a fenomenologia, que trata que não temos como conhecer as coisas ao nosso redor como são, apenas como elas aparentam a nós. Uma solução para isso foi colocar o Eu fora do centro da reflexão filosófica, Levinas defendeu que o Eu só existe a partir do Outro. Ele existe, e depois eu. A construção do eu pelo outro se chama de Alteridade.

E muito se aceitou essa forma de jogo, de que Eu só existo se algo externo a mim existir. O ser humano só podia se constituir enquanto pessoa na medida em que outras pessoas estivessem ao redor dele. Nós somos na medida em que nos relacionamos, conversamos crescemos e mudamos através de nossos amigos, inimigos e conhecidos. Todas as pessoas que passam por nossas vidas deixam uma parte delas em nós.

Acredito que essa seja a solução mais aceita para este problema. Mas não dá conta de um único fantasma, afinal nem sempre estamos na presença de outros, o que nos leva a uma terrível percepção:

                Em nossas mentes, estamos condenados a uma solidão eterna.

185 Dias

“Você está ai?”

 

                Quais dos meus “Eus” tu chamas? Estou, mas talvez não aqui. Estive… quem sabe somente não no lugar que me procuraste. Quem procuraria por mim? Boa pergunta. Na verdade boas perguntas são tudo que tenho tido por um tempo. Como posso saber quem é esse eu, e qual é o lugar que procuraste por ele. Acredito que procuramos com frequência nossos eus, nossas identidades. Uma busca sem fim, um sentimento de saudades de um “eu” que parece ter se perdido.

                Converso comigo mesmo. Um estranho solilóquio. Comecei a escrever esse texto enquanto tomava um café na universidade. Existe certo misticismo em tomar essa bebida, principalmente com outras pessoas. São dez minutos de solidão enquanto olho as pessoas passarem pelo campus, são dez minutos que me busco dentro de mim e me preparo para as aulas. As vezes tenho até mesmo medo de me sentir como o garoto solitário ao lado do bar. Já não sei mais se eu seria uma boa companhia para o café.

                Tenho medos bobos. Pois é, acho que muitas vezes me perco dentro de mim, evito me achar. Como se eu não quisesse ver meus defeitos, enfrentar a mim mesmo. Parece mais fácil deixar o tempo passar, talvez ele arrume o que não temos força para fazer. Outras vezes eu me encontro, mas sinto minha voz falhar, teria tanto a dizer… Embora no final só me restem milhares de frases soltas. Escrever um texto as vezes tem sido como bagunçar um monte de pecinhas de quebra-cabeça, e tentar ir aos poucos tentando construir algo além disso.

                Eu queria ser muito mais do que sou. Ir além do que hoje posso fazer. Mas não tenho nada disso. Acho que por alguns minutos posso esquecer-me da saudade me contentar em ser somente eu.

                Estou aqui, estou em mim.

Sons do Silêncio

Quando eu aprendia a dançar meus professores me ensinaram que a música era composta dos sons e dos silêncios. O dançarino não se movimentaria pelo salão usando apenas os toques da melodia, mas também, os espaços entre eles. Estes espaços, sem nenhum som, eram os momentos de parada, suavidade, e de liberdade criativa. Dentro do silêncio, na dança, te era permitido sair da cadência dos movimentos. O que mais diferencia dançarinos são suas capacidades de aproveitar os silêncios da música.

Para mim, a dança se tornou uma verdadeira paixão pela liberdade que ela te permitia, pelo envolvimento que ela criava entre duas almas quando estas trocavam sorrisos e movimentos pelo salão. E mesmo que muitos não enxerguem a dança como eu, ela me ensinou a escutar os sons do silêncio.

O que quero dizer com isso? Ora, tenho visto uma grande valorização das palavras, das coisas ditas, mas jamais a capacidade de entender o que calar-se pode significar. Nossa linguagem humana permite muito mais do que meramente palavras, e aqui discordo de Wittgenstein, o mundo é mais do que nossa linguagem pode expressar. Mas essa capacidade jamais é explorada nas nossas vidas. Jamais achamos que temos a liberdade, de como na dança, interpretar os silêncios, de entender que nossas vidas são muito mais que uma cadência fixa.

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O silêncio parece ter muitas formas, é a ausência de sons, de palavras, mas também o vazio, a escuridão. E por mais que ele pareça físico, assim como muitas coisas nas nossas vidas, ele tem ares de mistério. Ou vão dizer que o silêncio da madrugada, os ares da noite, não possuem algo de diferente?

Há alguns meses atrás me perguntaram o que eu diria se o mundo todo parasse para me ouvir. Respondi que provavelmente permaneceria em silêncio. E desde então, tal pergunta tem estado presente em minha mente. Acho que até fiquei muito mais calado do que costumava. Deixei de escrever no blog, no twitter, e até mesmo de discutir durante minhas aulas. Nada que eu pudesse falar pareceria relevante o suficiente para ser dito a outras pessoas.

Às vezes eu tento acreditar que meu olhar revelaria muito mais que minhas palavras. Este vazio deveria permitir a liberdade de ações, de interpretações, tanto para mim, como para outros. Talvez por muito tempo eu tenha ignorado o que o silêncio daqueles ao meu redor pudesse significar. Ignorei a grandiosidade de significados que não podiam ser postos em linguagem. E muitas coisas talvez se perderam em um vazio.

Mal podemos começar a entender o que essa ausência significa. O silêncio para si e para os outros. E agora nem mais sei o que poderia escrever para por para fora o que sinto. Algumas vezes me sinto perdido no labirinto da minha mente, sem nem mesmo um guia para me ajudar. Me restaria então, ficar nessa solidão silenciosa sozinho?

Nota: Minhas idéias estão muito confusas, espero que algum entendimento possa sair deste texto. Me calei, é verdade, mas tentarei quebrar esse silêncio com algumas dicas do que eu poderia escrever dadas por alguns leitores (a algum tempo atrás).

Ah sim, para os que não me acompanharam no twitter, agora estou formado em filosofia e fazendo mestrado 🙂

Desaparecer

Eu estava relendo textos antigos. Lendo aquilo que escrevi há um ano. Como o tempo passa, você não acha? Este blog possui uma parte íntima de mim. Alguns medos, e muitas reflexões. Talvez ele revele até mais do que eu gostaria sobre uma parte de mim. E dois textos em específico me fizeram pensar, e muito.

E por mais que eu tenha mudado. Por mais que um ano se passe, por mais que eu seja diferente, que eu até me conheça mais. Porque os questionamentos sempre serão os mesmos? Será que estamos para sempre destinados e odiar quem nos tornamos? Ou será que iremos nos fragmentar em pequenos pedaços, partes minúsculas, pequenos “eus”.

Vanish_by_aeyeduh

Queria ser acolhido pela solidão, mas nem ela quer a minha companhia. E por mais que sentimo-nos perdidos, a pior coisa é quando alguém tenta dar uma de guru da vida e tentar nos mostrar uma resposta enlatada, superficial. Nesses momentos não precisamos de palavras.

 

Crescemos, e quem nos tornamos? Orgulhamo-nos de quem somos? Devemos nos cobrar um ideal de perfeição tão grande assim? Porque não podemos mais simplesmente deitar em um gramado e passar algumas horas olhando para o céu? Porque constantemente precisamos buscar alguma coisa
para tentarmos fugir de nós mesmos?

 –

Essas perguntas martelam a minha mente.

Em realidade, eu apenas queria desaparecer.

Meia-Noite

Havia paz. E havia escuridão. As estrelas não brilharam no céu aquela noite. A solidão era o que dominava aquele lugar. Não uma solidão boa, mas uma que comprime o ser. Sufoca. Tortura. Dói. Uma agulha afiada em um coração apertado.

Não era um lugar muito movimentado. Principalmente à noite. E, naquele momento apenas uma jovem estava sentada por entre as árvores. Joelhos encolhidos junto ao corpo, e um moletom que era alguns números maiores que ela. Longos cabelos negros destoavam com a brancura de sua pele. O cenário era clichê, mas para ela, aquilo não importava.

Ele não apareceu. Porque apareceria? Estava atrasado e já passava da meia-noite.

“Ainda iremos, juntos, ver as estrelas durante a meia noite.”

Quanta besteira… Se ele já a tinha abandonado durante todo esse tempo, porque iria se importar em aparecer agora. Justo aquela noite. As estrelas não apareceram… ele? Muito menos…

Tudo aquilo não significava nada para ele. Eram símbolos quebrados. Só restava a memória de uma inocente amizade que eles possuíram juntos. Se é que ela algum dia existiu.

.

Perto dali, mas ainda no mesmo parque estava um jovem. Ele caminhava por entre as árvores. Onde ela estaria? Havia se perdido. Sua cabeça estava confusa. A realidade havia mudado. Eles tinham mudado. Ele mudara. Estava nervoso.

Suspirou. Seu suspiro ecoou ao seu redor. O vento soprava por entre as árvores lentamente. Da mesma forma com que aquele som ecoou, ele logo sumiu por entre o farfalhar das folhas.

– As estrelas e a meia noite – Ele murmurou – Que relação estranha. Eu costumava abusar de brincadeiras com esses dois termos, não é? – Falava ele com uma interlocutora imaginária.

.

Ela estava sozinha, encolhida, sentia-se como se nada tivesse um sentido. A deixaram sozinha… Ele apenas parou de se importar. Porque então daria as caras agora? Ela se perguntava se para ele a amizade que tiveram significou alguma coisa. Mas aquela noite escura mostrava para ela que não.

.

E você acreditaria se eu te dissesse que nunca parei de me importar? – Ele murmurou novamente.

 A vida dele havia mudado tanto nos últimos tempos. Já não era… E doía. Saber que não se é mais o mesmo, saber disso tudo e ainda ser incapaz. Sentir-se acorrentado e não conseguir fazer as coisas que antes aconteciam com tanta tranquilidade. Era possível se importar com alguém à distância. Nisso ele acreditava. Não fazia muito sentido, sim, mas foi o que ele fez.

.

Ela estava em silêncio. Seus olhos castanhos profundos penetravam a escuridão a sua frente. Ele havia colocado tudo o que passaram em segundo plano. Como se nunca tivesse acontecido. Essa era uma certeza crescente em sua mente. Era a única explicação que encontrava para alguém que não se comunicava mais.

.

– E por muito tempo eu me perguntei como você encarou aquilo tudo que passamos… Sabe, desde o começo… – ele murmurou para si – E então, depois de um tempo comecei a pensar que tu não mais acreditavas nas coisas que haviam acontecido. Como se fosse um capítulo de sua história que acabou. E esse medo acabou me impedido de falar contigo. Mas não me impediu de me importar…

Quantas coisas ele gostaria de falar. E palavras não existiam para isso.

.

Finalmente ela se levantou para ir embora. Ele também decidiu que não conseguiria a encontrar. Ambos foram embora. Carregavam consigo um sentimento que apertava seus peitos. E uma suspeita de que aquele vulto que acharam que era mera imaginação deveria ter sido investigado.

.

Eram dois caminhos que estavam paralelos. Iam para o mesmo sentido, apenas por caminhos diferentes. Um estranho desencontro. Enquanto ela o esperava, ele procurava no lugar errado. Uma amizade nunca acaba, apenas se desencontra. Ambos se importavam, e desejavam a coisa mais pura que poderia existir, a felicidade do outro. Iriam para casa sozinhos, mais uma vez. Mas, mesmo que as estrelas não pudessem ser vistas, isso não significava que não brilharam durante a meia-noite.

                Recentemente vi circulando na internet um texto que mostrava os estágios de uma pessoa para se tornar ateu. Um processo linear com passos muito bem definidos que mais pareciam uma escala, na qual “ser ateu” é o ponto mais elevado. Um roteiro de vida, que parece mais o tiro de um canhão, onde o ser humano disparado irá passar pelo mesmo caminho de muitos e o alvo: “ser Ateu”. Não vejo as coisas dessa forma. E, me apropriando das metáforas de Henri Bergson diria que a transformação da vida de um ser humano pode ser definida mais como a explosão de uma granada. Cheia de tendências e possibilidades, irá explodir para todos os lados, e cada novo fragmento irá se fragmentar ainda mais. Infinitas possibilidades. E assim como a teoria da evolução que os Ateístas tanto gostam, não existe como dizer se algo é mais “evoluído” que outro, ou que existe um processo de evolução linear.

                O problema disso tudo é que textos assim dão um caráter mais elevado a uma forma de crer, ou de “ser” do que outra. Quem disse que ser ateu é ser mais “evoluído” que um agnóstico? Ou até mesmo que um cristão? Só porque você começou cristão e terminou ateu não significa que esse caminho percorrido tenha te dado maiores méritos do quem permaneceu cristão. Mas a questão está mais embaixo, está na crença de grupo, na tentativa de aceitação perante os outros tentamos nos justificar, e assim nos elevar perante a sociedade.

                Imagine uma torta. Essa torta é finita e representaria a sociedade. Ela é deliciosa. Cada grupo ideológico tenta pegar um pedaço dessa torta para si. Os grupos não querem dividir, querem a maior quantidade para si. Então tentam ao máximo justificar-se perante eles mesmos, porque eles são melhores que os outros. E eles precisam justificar a si mesmos, porque no final, sempre ficará aquela ponta de dúvida de se o caminho escolhido será o certo.

                Dentro desta luta sem sentido pela maior fatia da torta, ela acaba se perdendo. Perde o real propósito. Ora, “sou melhor que os outros”, “eu estou certo” e coisas do tipo acabam cegando um diálogo verdadeiro onde todos poderiam dividir as coisas igualmente, e ao menos tentar se entender. Qualquer ideologia pode ser justificada com nomes bonitos. Mas não basta entender apenas os nomes e pequenas frases de efeito, é necessário entender a luta. No final, essas pessoas estavam tentando simplesmente serem elas mesmas, dar mais liberdade as pessoas. Deve ser triste ver um pensamento que pensava a liberdade criando um grupo ainda mais fechado.

                O que é difícil é deixar toda essa disputa de lado e ser simplesmente quem tu acha que deve ser, sem pressões sociais, sem uma necessidade de aceitação perante um grupo. Seja Cristão, seja Ateu, seja Feminista, vegetariano, gay ou qualquer coisa do tipo. É difícil ser sem a necessidade de se autoafirmação perante outros, ou uma provação pessoal. É difícil conseguir entender que as outras pessoas são diferentes e podem não concordar com o que tu acreditas, e mesmo assim aceitá-las. É difícil, mas as recompensas são muitas. Se “ser” ateu, religioso, agnóstico, vegetariano, socialista, etc. te mostra como é belo o mundo lá fora, ser “você mesmo” te mostra como é bela a pessoa que tu és.

Mudanças no blog

                Eu nunca me esqueço deste blog, apenas não consigo dedicar o tempo, e minha capacidade mental que gostaria para aqui. Tenho muitos rascunhos escritos, vários mesmo. Mas já não sei se serão bem aceitos ou até mesmo lidos. Escrevo isto aqui para falar com o leitor, para pedir sua opinião. Assim poderei pensar melhor como irei agir no futuro.

                Abandonei a internet e me afastei muito de minha vida no pseudônimo de FilósofoDepre. Agora de férias, eu posso voltar a escrever, talvez tentar voltar para esse meio. Tenho planos de mudar o blog. Mudar o layout e comprar um servidor para ele. Mudar a página e até o pseudônimo que uso. Mas antes, gostaria de saber sobre você leitor, quero saber se ainda me acompanha, quero saber se gosta do que escrevo. Será que eu ainda sou lido?

                Bem, eu planejo mudar muitas coisas. Começando pelo blog para as outras redes sociais. O que acha de uma página de facebook especialmente para o blog? Deveria eu mudar meu pseudônimo? Convenhamos… Filósofo Depre, além de fazer parte de um meme muito antigo é algo que causa muitas confusões.

                Não sei nem porque escrevo aqui. Tenho medo até mesmo deste texto passar despercebido, mas verei o que vai dar. Quero melhorar o que escrevo, o blog em que escrevo e minhas histórias. Mas para isso, eu preciso entender quem você é leitor, pois não quero criar um blog para um público metido a Cult, quero um blog para pessoas com espírito perturbado, mas com a capacidade de um sonho sincero e sem a necessidade de falar para todos isso. Mesmo que sejamos poucos, será um lugar especial.

                Agradeço muito o tempo que dedicar para escrever suas opiniões.