Havia paz. E havia escuridão. As estrelas não brilharam no céu aquela noite. A solidão era o que dominava aquele lugar. Não uma solidão boa, mas uma que comprime o ser. Sufoca. Tortura. Dói. Uma agulha afiada em um coração apertado.
Não era um lugar muito movimentado. Principalmente à noite. E, naquele momento apenas uma jovem estava sentada por entre as árvores. Joelhos encolhidos junto ao corpo, e um moletom que era alguns números maiores que ela. Longos cabelos negros destoavam com a brancura de sua pele. O cenário era clichê, mas para ela, aquilo não importava.
Ele não apareceu. Porque apareceria? Estava atrasado e já passava da meia-noite.
“Ainda iremos, juntos, ver as estrelas durante a meia noite.”
Quanta besteira… Se ele já a tinha abandonado durante todo esse tempo, porque iria se importar em aparecer agora. Justo aquela noite. As estrelas não apareceram… ele? Muito menos…
Tudo aquilo não significava nada para ele. Eram símbolos quebrados. Só restava a memória de uma inocente amizade que eles possuíram juntos. Se é que ela algum dia existiu.
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Perto dali, mas ainda no mesmo parque estava um jovem. Ele caminhava por entre as árvores. Onde ela estaria? Havia se perdido. Sua cabeça estava confusa. A realidade havia mudado. Eles tinham mudado. Ele mudara. Estava nervoso.
Suspirou. Seu suspiro ecoou ao seu redor. O vento soprava por entre as árvores lentamente. Da mesma forma com que aquele som ecoou, ele logo sumiu por entre o farfalhar das folhas.
– As estrelas e a meia noite – Ele murmurou – Que relação estranha. Eu costumava abusar de brincadeiras com esses dois termos, não é? – Falava ele com uma interlocutora imaginária.
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Ela estava sozinha, encolhida, sentia-se como se nada tivesse um sentido. A deixaram sozinha… Ele apenas parou de se importar. Porque então daria as caras agora? Ela se perguntava se para ele a amizade que tiveram significou alguma coisa. Mas aquela noite escura mostrava para ela que não.
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E você acreditaria se eu te dissesse que nunca parei de me importar? – Ele murmurou novamente.
A vida dele havia mudado tanto nos últimos tempos. Já não era… E doía. Saber que não se é mais o mesmo, saber disso tudo e ainda ser incapaz. Sentir-se acorrentado e não conseguir fazer as coisas que antes aconteciam com tanta tranquilidade. Era possível se importar com alguém à distância. Nisso ele acreditava. Não fazia muito sentido, sim, mas foi o que ele fez.
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Ela estava em silêncio. Seus olhos castanhos profundos penetravam a escuridão a sua frente. Ele havia colocado tudo o que passaram em segundo plano. Como se nunca tivesse acontecido. Essa era uma certeza crescente em sua mente. Era a única explicação que encontrava para alguém que não se comunicava mais.
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– E por muito tempo eu me perguntei como você encarou aquilo tudo que passamos… Sabe, desde o começo… – ele murmurou para si – E então, depois de um tempo comecei a pensar que tu não mais acreditavas nas coisas que haviam acontecido. Como se fosse um capítulo de sua história que acabou. E esse medo acabou me impedido de falar contigo. Mas não me impediu de me importar…
Quantas coisas ele gostaria de falar. E palavras não existiam para isso.
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Finalmente ela se levantou para ir embora. Ele também decidiu que não conseguiria a encontrar. Ambos foram embora. Carregavam consigo um sentimento que apertava seus peitos. E uma suspeita de que aquele vulto que acharam que era mera imaginação deveria ter sido investigado.
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Eram dois caminhos que estavam paralelos. Iam para o mesmo sentido, apenas por caminhos diferentes. Um estranho desencontro. Enquanto ela o esperava, ele procurava no lugar errado. Uma amizade nunca acaba, apenas se desencontra. Ambos se importavam, e desejavam a coisa mais pura que poderia existir, a felicidade do outro. Iriam para casa sozinhos, mais uma vez. Mas, mesmo que as estrelas não pudessem ser vistas, isso não significava que não brilharam durante a meia-noite.